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Construção de um pensamento crítico através do diálogo: Um pouco mais sobre VI Seminário de Pesquisa do IMS

A construção e constituição do campo da Saúde Coletiva

IMG_2109“A construção e constituição do campo da Saúde Coletiva” foi a primeira mesa do VI Seminário de Pesquisa do IMS. O debate teve a coordenação da Profª Madel Therezinha Luz (IMS/UERJ), atual professora visitante da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e a presença de Ethel Leonor Maciel (UFES), Maria Andrea Loyola (IMS/UERJ) e Roseni Pinheiro (Lappis/IMS/UERJ).

A epidemiologista Ethel Leonor Maciel (UFES) abriu a exposição com os marcos históricos e a formação disciplinar da Epidemiologia. A pesquisa nessa área começa a crescer a partir da década de 1970 e ganha impulso a partir de 1989, com a criação do I Plano Diretor para o Desenvolvimento da Epidemiologia no Brasil pela Comissão de Epidemiologia da ABRASCO.

IMG_2081Os desafios para a área também foram abordados, entre eles o impacto que as mudanças na concepção de saúde e doença (saúde como “qualidade de vida” e não apenas “ausência de doença”) e na relação entre profissional e usuário do sistema de saúde (“há negociação, essa relação está mais horizontal”) podem ter na metodologia da Epidemio. “Há necessidade de novas metodologias, que deem conta de tantas mudanças. Cresce o número de graduações em Saúde Coletiva e cursos strictu sensu em processo de implementação. Novas metodologias devem ter maior articulação entre modelos de teorias e ação”.

Convidada para apresentar seu recorte sobre o lugar das ciências sociais na Saúde Coletiva, a professora Maria Andrea Loyola (IMS/UERJ) contou a história que se confunde com a própria criação do IMS. “A Saúde Coletiva não nasceu para organizar a saúde pública, mas ampliá-la. Surgiu na academia e nela permanece”, disse, relembrando que a criação do Instituto, na década de 1970, aconteceu em um período de “grande efervescência política e acadêmica”, no qual o filósofo Michel Foucault chegou a ministrar uma conferência. Os cursos não eram abertos apenas para as áreas ligadas diretamente à Medicina, mas também para cientistas sociais.

IMG_2087Para Loyola, fundadora da área de Saúde Coletiva na Capes, no Instituto há “total integração” entre as duas áreas. No entanto, pondera desafios: “Observo que muitas teses tem sido um ‘agregado de artigos’. O produtivismo põe em risco o pensamento global e crítico. O desafio político é, então, melhorar a qualidade dos trabalhos e do ensino de forma geral, e desenvolver estratégias de luta para que as Ciências Sociais sejam incluídas na construção de áreas da Saúde Coletiva”.

Encerrando a rodada de apresentações, Roseni Pinheiro (IMS/UERJ) dissertou sobre o campo disciplinar das Políticas de Saúde. Segundo a coordenadora do Lappis, a reconstrução da democracia do Estado brasileiro refletiu na constituição do campo das políticas e do planejamento em saúde. “Acredito que a Constituição de 1988 e a Lei que instituiu o SUS, com a inclusão de novos atores sociais levou a uma flexibilização desse processo. Flexibilização que abriu uma possibilidade de uma discussão concreta sobre os Direitos, que não existia antes um movimento pautando nas políticas específicas, movimentos de minorias ou grupos vulneráveis, todas essas demandas, de alguma maneira, sendo acolhidas na Constituição, colocando um desafio para as próprias políticas de saúde do Brasil. Todo esse processo tem a ver com a luta por Direitos”.

IMG_2091É na extensão desse diálogo que a professora e pesquisadora vê o avanço no campo disciplinar. “O IMS acolhe essa diversidade de disciplinas (ciências sociais e humanas, Epidemiologia), deslindando o espaço de pesquisa que tem a ver com as práticas. Ao mesmo tempo, não é fácil essa integração de campos disciplinares distintos. Nossa aposta é no diálogo. Para isso, temos que pensar o Estado o tempo todo. Não podemos usar a política no sentido de uma luta de corporação para defender interesses próprios”.

Ao fazer uma consideração das exposições anteriores, a coordenadora da mesa Profª Madel Therezinha Luz incluiu uma tendência em constante crescimento nas áreas relativas à saúde: a super especialização. “Como fazer um diálogo com as áreas que tem sido tão fechadas? De que forma podemos estabelecer conversas entre culturas científicas tão diferentes?”, questionou. “O diálogo entre as áreas impõem o reconhecimento da alteridade. É preciso considerar nossas formas de atuação acadêmica”.

Fotos: Bruno Stelet

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