A renascença e Leonardo da Vinci

O que chamamos ‘Renascença’ refere-se a um período, e não a um evento. Não é possível, portanto, delimitar exatamente uma data para ela. No entanto, há unanimidade em situar tal período entre os anos de 1.300 e 1.600 DC. O sentido do termo é mesmo de um ‘renascimento’ do homem e da humanidade, retomando ideais clássicos (greco-romanos). ‘Iniciada’ em Florença, na Itália, a Renascença marca a passagem da Idade Média para os tempos modernos: o papado e o feudalismo estavam em declínio, os ‘bárbaros’ e os vikings haviam se retirado, e a Europa via surgir em toda a parte monarquias centralizadoras.

A Renascença trouxe uma nova concepção do ser humano, na verdade um bem-vindo humanismo, por um lado liberado das amarras teológicas que marcaram o período anterior, e por outro ainda não premido pelas noções cartesianas. A retomada de ideais gregos trouxe uma expansão criativa às ciências e às artes, e o chamado ‘homem da Renascença’ identificava-se com a diversidade do conhecimento e com a busca de novos sentidos para a própria existência. Ao mesmo tempo, é fácil perceber que uma nova concepção de ser humano leva a uma nova compreensão do mundo. Assim, um novo ‘ceticismo’ tem lugar na relação entre o homem e o mundo, com o questionamento das tradições e da autoridade.

Além disso, a ‘vida sobre a Terra’ passou a interessar bem mais do que o depois-da-vida junto a Deus, o que revestiu de significados o estar-aqui, inclusive com maior ênfase nas artes, na política e nos prazeres.

Leonardo da Vinci é visto como o ‘homem da Renascença’ arquetípico: pintor, botânico, matemático, escultor, engenheiro, geômetra, cientista-artista, artista-cientista, ambidestro. Leonardo nasceu em 1452, perto de Vinci, na Toscana, filho ilegítimo de uma aldeã com um tabelião, e viveu primeiramente em Florença, onde estudou com Andrea Verrocchio. Mais tarde, mudou-se para Milão, onde tornou-se conhecido. O auge de sua carreira coincidiu com as alianças entre Cesar Borgia e o rei francês Luís XII, quando recebeu o título de engenheiro-geral de toda a Toscana. Em 1513, seguiu para Roma, onde viveu uma experiência curta, mas intensa. Retornou a Milão, viajou bastante e, por fim, estabeleceu-se na França, sob o reinado de Francisco I, por não ver “nenhum príncipe italiano a quem se dirigir, já que Rafael reina no Vaticano, Michelangelo em Florença e Ticiano em Veneza”. Em 1516, instalou-se noChâteau de Amboise, onde morreu dois anos depois.

Leonardo da Vinci recebeu grande reconhecimento em vida, e Michelangelo foi o único artista da época a compartilhar com ele essa glória. A pintura foi sua ‘arte central’, ao redor da qual sua compreensão do mundo e do homem melhor se expressava. Embora tenha produzido milhares de páginas contendo esboços, desenhos, anotações e esquemas das mais variadas armas de guerra, máquinas de voar, aquedutos, estudos anatômicos, de proporção, de botânica, de geometria, etc, seus escritos sobre a pintura são o ponto de partida e a essência de Leonardo da Vinci, e isso fica bem claro quando prestamos atenção a esta simples frase:

O bom pintor é aquele capaz de representar duas coisas principais, chamadas ‘homem’ e ‘ostrabalhos da mente do homem’.”

Símbolo que inspirou o logotipo do Lappis

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Estudos sobre o Cânon Vitruviano

O logotipo do LAPPIS foi criado por Caco Xavier a partir de estudos sobre o Cânon Vitruviano.

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Para sermos coerentes e ‘integrais’ em nossa proposta visual para este site, não poderíamos deixar de considerar o Cânon – relacionado diretamente aos estudos de da Vinci sobre a quadratura do círculo, e expressando o ideal pitagórico plenamente assumido na Renascença, de que “o homem é a medida de todas as coisas”, segundo o dito de Protágoras – imerso na dimensão total do trabalho, da obra e da vida de Leonardo da Vinci, bem como participante de um momento histórico e social dessa nossa Humanidade.

Essa imagem e, por extensão, os significados da Renascença e de Leonardo da Vinci, expressam de modo suficiente e pertinente a noção de Integralidade com a qual trabalhamos.Assim, utilizamos a marca em sua plenitude, fazendo-se acompanhar de frases e ilustrações de Leonardo da Vinci ao longo de todo o site, a ponto de essas menções tornarem-se elemento de constituição conceitual de todo o trabalho. Como nosso pensamento ‘age’ em rede, fomos aos poucos descobrindo que, mais do que o homem ou a época, um conceito ‘Leonardo da Vinci’ está totalmente adequado às nossas formulações sobre a Integralidade, e tal identidade provocou até mesmo a necessidade de nos expressarmos nestebreve ensaio específico.

davinci_justificativaUnidade na diversidade, o homem no mundo e o mundo no homem, as relações entre o meio e a mente, a desfragmentação, a interdisciplinaridade, a simbiótica relação entre teoria e prática, tudo parece expresso na imagem do homem postado (estático, e em movimento) no centro do círculo/quadrado. As ilustrações de Leonardo, e suas frases, contextualizam e amplificam os sentidos dessa imagem. A palavra que automaticamente surge em nossa mente, ao nos depararmos com o Cânon, é “integral”. Assim, ouvindo o conselho de Caetano Veloso, para quem algo muitas vezes “pode sempre ter estado oculto quando terá sido o óbvio”, por que temer o óbvio? O importante é ter dado sentido às escolhas e perceber sua total adequação à resolução dos problemas.

Fontes:

Imagens de Leonardo da Vinci foram extraídas dos sites:

http://www.visi.com/~reuteler/leonardo.html
http://www.kfki.hu/~arthp/html/l/leonardo/index.html

As frases foram coletadas do livro ‘Os Escritos de Leonardo da Vinci sobre a Arte da Pintura’ (Editora UnB, Brasília, 2000).