Série Parcerias LAPPIS
Professora da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Tatiana Gerhardt também é pesquisadora do LAPPIS, Mestre em Saúde Pública e Doutora em Antropologia Social e Cultural por uma universidade parisiense. Participou recentemente da última edição do Seminário do Projeto Integralidade, em novembro de 2007, destacando a discussão sobre o Cuidado como redes sociais em sua apresentação. “Vemos em toda a produção do grupo a preocupação com a busca de parcerias, intercâmbio entre diferentes áreas do conhecimento e diferentes instituições, que permitem introduzir novas perspectivas para análise da saúde no Brasil, novas formas de pensar e orientar uma prática mais cidadã a partir de interfaces que integrem o cuidado em saúde em prol da integralidade, como potencial na construção de políticas mais justas e solidárias”, diz, ao ser questionada sobre a importância do Laboratório no cenário da Saúde Coletiva. Gerhardt adiantou também que a UFRGS pode desenvolver em Porto Alegre parte do projeto “Práticas Avaliativas e Integralidade na Atenção Básica em Saúde”. Confira a entrevista na íntegra:
BoletIN– O que pensa sobre a produção do LAPPIS?
Tatiana Gerhardt– As produções do LAPPIS, sejam na forma escrita (livros, artigos), sejam na forma de seminários, sempre alimentaram um debate crítico sobre questões pertinentes e atuais. Proporcionam discussões que visam, de alguma forma, repercutir na organização e funcionamento dos serviços de saúde, na prática profissional e até na procura terapêutica de usuários. Essas publicações são referência na saúde coletiva sobre o tema da integralidade. O sucesso demonstra a qualidade do trabalho desenvolvido pelo grupo de pesquisadores e o compromisso assumido com a sociedade em produzir novos conhecimentos, que são compartilhados e devolvidos de diferentes formas.
BoletIN– Na sua opinião, qual a importância da pesquisa em integralidade para a Saúde Coletiva?
Tatiana– A pesquisa sobre integralidade é de fundamental importância para a Saúde Coletiva, pensando na forma aberta de conceituar e trabalhar desenvolvida no LAPPIS. Há a preocupação de resgatar o compromisso social e o papel da universidade a partir de uma reflexão com os serviços de saúde. Existe algo muito importante na forma de trabalhar a integralidade do LAPPIS, que é a relação com diferentes instituições de ensino, serviços e até movimentos sociais, sobre a formulação e construção de políticas. O resultado é um leque ampliado de possibilidades teóricas e metodológicas de diferentes áreas do conhecimento, que trazem boas perspectivas para se pensar e trabalhar na Saúde Coletiva.
Para ensinar e estudar a integralidade é preciso praticá-la em todas as áreas em que atuamos, tanto em nível profissional quanto pessoal. É uma questão de postura, na academia, de postura intelectual, de compromisso com a sociedade. A complexidade da realidade e a velocidade das transformações no mundo de hoje exigem, de certa forma, o estabelecimento de parcerias que conduzem ao aprimoramento das reflexões. Trocar produções de conhecimento, dialogar dentro da academia é, a meu ver, praticar uma “integralidade intelectual”. Nós produzimos conhecimento, mas não produzimos sozinhos nem para que sejam guardados, é preciso compartilhar, socializar, trocar com o maior número de pessoas. Desta forma, estamos exercendo os princípios da integralidade tanto na formação quanto na pesquisa. As iniciativas do LAPPIS permitem que se pratique o que chamei de “integralidade intelectual”, uma prática social da produção do conhecimento. Na Saúde Coletiva, enquanto campo científico e âmbito de práticas, antes que seja possível reunir disciplinas e integrar métodos, é fundamental fazer o encontro de pessoas. A forma de pensar e trabalhar a integralidade tem muito a ver com isso.
BoletIN– Fale sobre a parceria LAPPIS-UFRGS. Como a parceria funciona, quais os benefícios para ambas partes?
Tatiana– A parceria com o LAPPIS decorre de afinidades teóricas e metodológicas referentes a abordagem do tema integralidade que engloba as trajetórias assistenciais, itinerários terapêuticos, gestão e organização dos serviços de saúde. Temos mantido a parceria com o LAPPIS através da participação em oficinas, seminários e publicações. O estabelecimento de parcerias como estas são fundamentais, pois conjugam esforços em torno de objetivos comuns, que muitas vezes, em função da distância geográfica, ficam dispersos. Desta parceria pontual, nasceram outras com pesquisadores do LAPPIS de outras instituições, como por exemplo, com os Grupos de Pesquisa “Gestão do Conhecimento Pluridisciplinar para o Trabalho em Saúde/GEPLUS” e Grupo de Pesquisa “Enfermagem, Saúde e Cidadania/GPESC” da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal do Mato Grosso.
Essa nova parceria envolve participação em bancas de dissertações de mestrado e em oficinas técnicas para discussão dos resultados de projetos de pesquisa. Desta forma, a parceria com o LAPPIS tem fortalecido nosso compromisso acadêmico na Escola de Enfermagem da UFRGS, e, sobretudo, no Grupo de Estudos em Saúde Coletiva-GESC, do qual sou coordenadora, onde nos esforçarmos pela efetivação da integralidade no ensino na sala de aula, no contato com os usuários nos serviços de saúde, na comunidade através de uma leitura ampliada das necessidades em saúde.
Nas pesquisas, é necessário mantermos as parcerias institucionais com os serviços de saúde para que a construção do conhecimento aconteça pela prática, pela demanda social. No esforço de refletir sobre ferramentas pedagógicas que forneçam aos alunos e futuros profissionais meios para desenvolver práticas capazes de ter o cuidado em saúde e a integralidade como valor. Esses valores precisam ser exercitados no cotidiano da formação e da assistência. É um desafio cotidiano, mas não utópico. Nesse sentido, a parceria do LAPPIS com o GESC, voltada para pesquisa e o ensino, tem contribuído para o desenvolvimento de atividades que integrem os princípios da integralidade. Por outro lado, acredito que as trocas efetuadas beneficiam ambas as partes, pois resgatam o compromisso social e a responsabilidade ético-política.
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