Pouco antes do XI Seminário do Projeto Integralidade, pesquisadores do Lappis marcaram presença no XXVIII Congresso da Associação Latino-Americana de Sociologia (ALAS 2011), que este ano aconteceu em Recife (PE). Membros do grupo apresentaram trabalhos e coordenaram GTs, além de participar de mesas redondas e conferências.
A pesquisadora do Lappis Alda Lacerda (EPSJV/Fiocruz) participou da conferência “A associação MAUSS (Movimento Anti–Utilitarista nas Ciências Sociais) e sua presença na América Latina: perspectivas do avanço da crítica anti–utilitarista ao reducionismo mercadológico”, realizada em 9 de setembro. A mesa, coordenada por Philippe Chanial (UNICAEM), também contou com exposições do professor Alexandre Freitas Simões (UFPE) e María Cristina Reigadas (IIGG), além da ilustre participação de Alain Caillé.
“Discutimos como está o avanço do Movimento Anti-Utilitarista no Brasil, o que significa é ser uma ‘maussiana’ no país e quais são as perspectivas, avanços, desafios e o que precisamos para estar nesse caminho”, disse Alda, sobre a conferência. “Evidenciamos que, apesar da importância dessa discussão, o anti-utilitarismo, mesmo presente nas discussões, ainda é muito insipiente na prática. Há muito trabalho a ser desenvolvido, tanto no campo da pesquisa, como no ensino e na formação”. Para Alain Caillé, a discussão do Dom e da Dádiva “é um paradigma, um modo de ação social, sendo relevante para se pensar a organização dos serviços, das práticas e da formação, no sentido de poder juntar essa articulação da academia com as práticas de saúde”.
Outro ponto alto da participação de pesquisadores do Lappis no evento foi o Grupo de Trabalho “Saúde e seguridade social: transformações sociais e impactos na população”, coordenado por Roseni Pinheiro (IMS/UERJ), Aluisio Gomes da Silva Jr (ISC/UFF), Artur Perrusi (UFPE) e Carolina Tetelboin (UAM Xochimilco/México). O GT teve como objetivo trazer a sociologia da saúde para o contexto latino-americano, no intuito de propiciar um espaço de reflexão critica e intercâmbios de idéias acerca das análises sobre as transformações sociais associadas às conjunturas político-economico-culturais contemporâneas, no que tange às relações entre o Estado, instituições e políticas públicas.
A coordenadora do Lappis Roseni Pinheiro definiu o GT como “momento muito intenso e de muitas trocas”. “Tivemos uma participação expressiva do Brasil nesse GT, que está despontando várias discussões que foram, de alguma maneira, acolhendo e interagindo com perspectivas de outros países da América Latina. Pudemos observar uma mudança no patamar epistemológico e metodológico no ponto de vista de agregar valor”.
O médico e mestrando em Saúde Coletiva do IMS Bruno Stelet concorda com essa observação. “Foi muito interessante estar em um congresso da Associação Latinoamericana de Sociologia. Mas teve um significado importante participar dos GTs na interface Saúde e Ciências Sociais. Muitos trabalhos do Brasil em total ressonância com pesquisas de outros países vizinhos”, disse ele, que participou do GT Saúde e Seguridade Social com o trabalho “Mudanças na formação em saúde no Brasil: Uma análise sobre a CINAEM”. “É sobre o percurso da Educação Médica no Brasil, um percurso cheio de rupturas com os movimentos de mudança do ensino que ganharam força desde final da década de 70, mas também imerso em continuidades e manutenções na estrutura de saberes e práticas inerentes à racionalidade Biomédica”, explica.
Por fim, Roseni Pinheiro e Bethânia Assy (Fac. Direito/UERJ) participaram da mesa redonda “Direitos Humanos, Biopolitica e Humanização na saúde”, coordenada por Dário Pasche (Programa Nacional de Humanização/MS). O debate expôs seus estudos e pontos de vista sobre o que é política e o lugar da saúde como um direito fundamental. “O ALAS, enquanto um evento acadêmico e científico, trouxe contribuições imensuráveis, tanto para o campo da Saúde Coletiva, como também para o campo das Ciências Sociais e Humanas em Saúde”, afirmou Roseni. “Foi interessante observar que as questões contemporâneas que preocupam a Sociologia na América Latina tem a ver muito com as preocupações com o próprio planeta, que precisamos enfrentar os desafios – desenvolvimento, cenário político e econômico – proximidade com as questões que estavam sendo tratadas no nosso GT”.
O evento culminou com a criação do Instituto Latino Americano de Estudos Sociais na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), do qual o Lappis deve ser um dos colaboradores, e com o Prof. Paulo Henrique Martins como novo presidente da Associação Latino-americana de Sociologia (ALAS).
Veja a lista completa dos trabalhos apresentados no GT “Saúde e Seguridade Social” aqui.
Sobre a ALAS
A Associação Latino-americana de Sociologia (ALAS) foi a primeira associação de sociologia de caráter regional no mundo. Fundada em 1950, em Zurique, por um grupo de sociólogos latino-americanos reunidos por ocasião do Primeiro Congresso de Sociologia organizado pela Association Internacional de Sociologie – que mais tarde adotaria o nome de Internacional Sociological Association (ISA). Seus membros fundadores foram Alfredo Poviña e Tecera del Franco (Argentina), José Arthur Rios (Brasil), Rafael Bernal Jiménez (Colômbia), Astolfo Tapia Moore e Marcos Goycoolea Cortés (Chile), Luis Bossano e Angel Modesto Paredes (Equador), Roberto MacLean Estenós (Perú) e Rafael Caldera (Venezuela).
A história da ALAS confunde-se com a própria história da Sociologia na América Latina, e seu desenvolvimento acompanha todo o processo de institucionalização da disciplina na região. Desde a sua criação, a ALAS tem cumprido importante papel no fomento à colaboração entre sociólogos latino-americanos, propiciando, o intercâmbio crescente entre associações nacionais de sociologia, institutos de pesquisa e universidades. A natureza flexível de sua institucionalidade, o caráter itinerante da estrutura organizativa de seus Congressos e encontros regionais, além do caráter dinâmico do processo de escolha de seus representantes/coordenadores, distinguem fortemente a ALAS de outras entidades internacionais de estudos latino-americanos.
Devido ao enraizamento da associação nas realidades nacionais dos países que a compõem, os encontros da ALAS consistem em oportunidades valiosas para que o conhecimento produzido localmente seja debatido à luz de uma reflexão mais ampla acerca da América Latina. É a partir da natureza descentralizada da estrutura organizacional dos Congressos da ALAS que se pode compreender a importância e a relevância da realização dos Fóruns regionais preparatórios. Ao contrário do que acontece em outros grandes encontros acadêmicos, onde o formato e o conteúdo dos eventos são definidos independentemente das articulações engendradas no nível subnacional, o Congresso da ALAS é vivenciado desde os fóruns regionais (Pré-ALAS) a partir dos eixos temáticos que norteiam a organização de cada Congresso.
Seja o primeiro a comentar