O Simpósio Nacional “Usuários, redes sociais, mediações e integralidade em saúde” foi realizado nos dias 17 e 18 de fevereiro no Auditório Jorge Lobo, Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O evento marcou a fase final da pesquisa realizada com a metodologia MARES e o lançamento do livro “Usuários, redes sociais, mediações e integralidade em saúde”, organizado por Roseni Pinheiro (IMS/UERJ) e Paulo Henrique Martins (Nucem/UFPE). Confira agora a cobertura completa do Simpósio.
Abertura
Jorge Telles, reitor da Universidade Federal de Pernambuco, abriu a mesa de abertura ressaltando a importância do envolvimento da academia com as ações relacionadas à saúde, ideia que foi reiterada pelo coordenador do Programa Nacional de Humanização do Ministério da Saúde (PNH-MS) Dário Pasche. “Esse tipo de iniciativa é fundamental para o SUS e a integração entre pesquisa, universidade e serviço, no sentido de tornar público esse compromisso. Os encontros do grupo têm sido muito profícuos e as publicações têm tido um importante destaque”.
Fernando Menezes, representante do Secretário Estadual de Saúde Antônio Carlos Figueira, lembrou que a discussão sobre indicadores em saúde deve ser translada para a realidade de Pernambuco e outras questões que visam à melhoria dos serviços no Estado devem ser discutidas em iniciativas de educação em saúde. Para o presidente da FACEPE (Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco) Diogo Simões, a integração entre academia e serviços é extremamente necessária como apoio à instituição de novas políticas. “O que se deseja é utilizar os resultados de pesquisas para a formatação de políticas públicas. É instrutivo e inspirador criar condições para a pesquisa e a gênese”. O Secretário Municipal de Saúde Gustavo Couto afirmou que o intercâmbio entre serviço-academia “deve se tornar uma prática pública” no sentido de produzir uma qualidade de vida para a população.
Roseni Pinheiro, coordenadora do Lappis (IMS/UERJ) afirmou ter encontrado, na UFPE, um espaço para trabalhar a inovação. “Há uma generosidade muito grande aqui em Recife: da universidade, da Secretaria Municipal de Saúde. Estamos praticando a responsabilidade pública das funções essenciais da universidade – pesquisa, ensino e extensão. Queremos avançar em ações institucionais concretas de indissociabilidade dessas funções dai que surge a proposta de incubação da rede multicêntrica de pesquisa”, afirmou. “Identifico no grupo uma preocupação com as devolutivas para a sociedade civil, e isso é ótimo. Há um desafio na construção da condição humana, de trabalhar com produtos concretos. As ciências sociais têm que ser integrativas”, disse o sociólogo Paulo Henrique Martins, professor da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Cidadania (NUCEM). “Estamos avançando na discussão do pensamento prático-acadêmico, atuando com a população, fortalecendo redes nacionais”.
Práticas integrativas e humanizadas
Após a abertura, a programação do evento foi iniciada com uma conferência proferida por Dário Pasche. Durante a exposição, o coordenador do Programa Nacional de Humanização do Ministério da Saúde apresentou os desafios do SUS para reconstruir práticas integrativas e humanizadas e fez algumas reflexões sobre a articulação da tríade pesquisa-extensão-formação nas práticas de cuidado.
Para Pasche, a primeira questão é como articular a utopia entre a integração de práticas formativas em pesquisa e incubação, visto que nem sempre as práticas de cuidado são alteradas. “Os campos de saberes e práticas são muito segmentados. A universidade, por sua vez, cria a expressão de “extensão” como uma forma de ‘sair de si’ para levar serviços à comunidade. A incubação, por outro lado, trabalha a ideia de extensão de um outro modo, que pressupõe o encontro no sentido da geração, produção do novo, a ideia de inovação. Para isso, temos que repensar as práticas de pesquisa”.
A pesquisa tem um estatuto diferente, que pressupõe novas dinâmicas, que podem alterar o serviço e as práticas de formação. Segundo o coordenador, a pesquisa possui três motes importantes: intervém sobre as realidades locais, tem como foco ético a produção de mudanças e a geração de conhecimentos extensivos para outras realidades. A incubação, por sua vez, deve promover mudanças na formação e nas práticas de cuidado. “Mas pouco temos alterado na formação. Hospitais universitários ainda não têm integração com a realidade do SUS. É preciso alinhar a formação nesse sentido, com redes que articulem as diferenças. Há uma exigência ética no campo do SUS para ampliar as redes de cuidado. O desafio é construir redes cuidadoras e articula-las em tempo real em nosso território”. Dário Pasche ainda relatou a experiência de incubação do Sofia Feldman como “exemplar” na orientação de gestão e qualificação de redes integradoras. “Gestão e cuidado são inseparáveis”.
Pesquisa, incubação e formação na saúde – construção coletiva de interação multicêntrica de estudos sobre os usuários na saúde
A primeira mesa discutiu a interação multicêntrica de estudos sobre os usuários na saúde. Roseni Pinheiro abriu a mesa contrapondo a formação tradicional versus inovações, a importância dos indicadores de avaliação e divulgação científica. “As experiências já estão se realizando, porém não há sistematização”.
Para o Secretário Municipal de Saúde Gustavo Couto o momento exige a busca de conhecimento e uma compreensão de que “o Estado tem que se organizar no sentido da responsabilização social, permitindo o acesso a práticas mais integradas. É preciso construir algo que ainda não está implementado: ter condições de avaliar, produzir o conhecimento e aplicar”. Couto ainda exemplificou a realidade de Recife: “uma cidade com muitas contradições”. “O processo de qualificação tem um custo. Pensar de forma integrada é importante, caso contrário há uma possibilidade de erro muito grande. Inserir no conflito e dar conta da complexidade da cidade, lidar com o contraditório, mapear os problemas para potencializar o cuidado”.
Ex-reitor da Universidade Federal de Roraima, Fernando Menezes comentou sua experiência e trouxe a Teoria da Complexidade para o processo educacional: “Trabalhamos o tempo todo com modelos teóricos para um dia aplicar à prática. Mas já existem mudanças na academia: a aprendizagem tem se dado na interação. Se damos sentido a isso, os processos de formação em saúde começam a mudar”.Fechando a mesa, Paulo Henrique Martins apontou as contradições dentro das universidades brasileiras. “Há um grande contraste entre as universidades brasileiras e as demais da América Latina. Apesar do esforço do avanço, a relação ensino-pesquisa apresenta disparidades na formação-ação social. A omissão social da universidade ainda é um problema. Não se tem feito uma avaliação adequada da missão social da universidade”.
Fotos: Bruno Stelet
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