O Prof. Dr. José Ricardo Ayres (Medicina Preventiva/USP) falou ao BoletIN sobre alguns tópicos que pretende abordar na mesa “Entre a vontade e a virtude nas práticas do cuidado: por um ethos da ação e da responsabilidade na saúde”, que abre as sessões do XI Seminário do Projeto Integralidade, no dia 12 de setembro.
Ayres é Doutor em Medicina, área de concentração Medicina Preventiva (DMP-FMUSP – 1995), e Professor Titular na área de Medicina Preventiva/Disciplinas de Atenção Primária em Saúde (DMP-FMUSP – 2005). Autor de Cuidado: trabalho e interação nas práticas de saúde (CEPESC-IMS/UERJ-ABRASCO, 2009); Sobre o risco: para compreender a epidemiologia (Hucitec 2008 3ª. Ed.); também editado em espanhol (Acerca del riesgo Buenos Aires: Lugar Editorial, 2005); e de Epidemiologia e emancipação (Hucitec, 2002 2ª. Ed), além de artigos em periódicos do campo. Sua produção abarca os temas de ações e programas na atenção primária em saúde, prevenção e promoção da saúde, saúde do adolescente, hiv/aids, risco e vulnerabilidade (aspectos conceituais e aplicados), estratégia de saúde da família, desenvolvimento histórico-epistemológico das ciências da saúde, em particular da epidemiologia, integralidade e cuidado em saúde.
Segundo ele, a proposição do conceito de Cuidado emerge no contexto mais tardio da reforma sanitária brasileira como movimento reconstrutivo instruído por um duplo interesse: de um lado, a demanda por uma atenção integral à saúde e, de outro, a necessidade de humanização das práticas que devem responder a tal demanda. “A compreensão desta confluência é relativamente fácil, quase intuitiva”, diz Ayres. “Não se pode promover integralidade sem humanização, uma vez que a identificação do leque de ações de atenção à saúde e a definição da adequada oportunidade e forma de oferecê-las, norte da integralidade, depende da ativa participação dos destinatários das ações, na plenitude de suas prerrogativas como ser humano e cidadão. Por sua vez, não é possível humanizar as práticas de saúde se não se parte do pressuposto de que a resposta às diferentes necessidades de saúde é o fundamento de qualquer proposta de inclusão emancipatória dos sujeitos nas políticas e ações de saúde”.
O professor apresentará a ideia de cuidado também na perspectiva ontológica de Heidegger, Michel Foucault e Gadamer, noções de cuidado público. “’Não se Cuida efetivamente de indivíduos sem Cuidar de populações, e não há verdadeira saúde pública que não passe por um atento Cuidado de cada um de seus sujeitos’ (AYRES, 2004, p. 13) Assim concluíamos, há 7 anos, um artigo sobre o tema do Cuidado. Tantos anos depois, essa afirmação ainda soa, como no momento em que foi escrita, como uma espécie de queixa – ou de conclamação, a depender do estado de espírito do leitor. E não se trata de reclamar da ausência de preocupação a respeito do tema”, relata. “Não há dúvida de que, desde então, e mesmo antes, uma expressiva produção intelectual e diversificadas experiências práticas vêm se detendo sobre as dimensões estruturais da integralidade e da humanização, especialmente da primeira”.
Para Ayres, a volumosa produção veiculada pelo LAPPIS na última década é exemplo disso, inclusive com a publicação de alguns volumes primordialmente interessados nessa dimensão pública da integralidade, reunindo uma ampla gama de pesquisadores e profissionais de saúde de diversas partes do país, com relevantes contribuições teóricas e práticas ao tema. “O que inquieta é observar a dificuldade de se manter o discurso do Cuidado no mesmo bem sucedido registro retórico quando a reflexão se desloca na direção do espaço propriamente público da saúde”.
Confira o desdobramento dessa discussão na mesa “Entre a vontade e a virtude nas práticas do cuidado: por um ethos da ação e da responsabilidade na saúde”, no dia 12 de setembro, das 10h30 às 12h30, no Auditório do CFCH – UFPE – Universidade Federal de Pernambuco.
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