O projeto Incubadoras da Integralidade vai ganhar todas as atenções entre os dias 25 e 27 de setembro, durante Seminário em Belo Horizonte. O evento serviu de mote para uma conversa com a coordenadora do Lappis e idealizadora das Incubadoras, Roseni Pinheiro, sobre as boas práticas em saúde pública e o papel militante do pesquisador e profissional de saúde no atual momento de eleições municipais. Confira a entrevista:
BoletIN – Entre os dias 25 e 27 de setembro, acontece em Belo Horizonte um grande encontro sobre a experiência das Incubadoras da Integralidade. Qual a importância do evento?
Roseni Pinheiro –Esse encontro significa um desdobramento em rede multicêntrica de pesquisa que busca pensar outros encontros de redes. Seguindo o encontro virtuoso, afetivo, estético, ético e político do XII Seminário da Integralidade, que aconteceu em agosto, no Acre, vamos de algum modo reconfigurando pensamentos e ações capazes de combater a cultura política brasileira, patrimonialista, autoritária e excludente, que sempre trouxe efeitos deletérios à efetivação das políticas públicas, assim como à afirmação do Estado Laico brasileiro e, sobretudo, da saúde como direito humano.
BoletIN – Como a discussão sobre a saúde pública deve ser encarada no atual momento político?
Roseni – Considerando o contexto atual de eleições municipais devemos todos ficar atentos, pois existe um movimento explicitoprivatização da saúde. Com tanta luta, ainda escuto prefeito no interior dizer que o SUS não existe!!! Repugna-me ver (escutar) governantes, sobretudo de âmbito local, ainda hoje, no século XXI, com 24 anos de constituição brasileira, falar nesse tom. Pior, muitos deles são profissionais de saúde, principalmente médicos. Considero isso um atraso, uma desfaçatez, que deve ser combatida com vigor por todos aqueles que defendem uma sociedade mais justa. Estamos vivenciando um momento agudo de tensões na relação entre público e privado, e como militante, pesquisadora, docente, enfim guerreira da educação e da reforma sanitária,convoco a todos a lutar contra a privatização da saúde.
BoletIN – Qual o papel de pesquisadores e profissionais da saúde nesse contexto?
Roseni – Temos que defender com unhas e dentes as experiências de 100% SUS, principalmente, aquelas vivenciadas em sistemas municipais de saúde. Falo isso por quê? Porque estamos em ano eleitoral, ou seja, em época de eleições municipais, onde a cultura política que citamos insiste em fazer valer-se. E aí voltamos as práticas do populismo, clientelismo e tutela, que insistem em destruir tudo o que foi construído, dando um jeito de interromper a continuidade de processos inclusivospara construir mediocridades. Não podemos ter uma atitude inconsequente em votar em quem não defenda o SUS, em quem não quer seguir em frente com SUS! Temos uma tradição política arcaica de destruição daquilo que não tem autoria política. O SUS não tem autoria política, mas é a política de saúde do Estado brasileiro, eleita pela sociedade brasileira prevista como legado legado constitucional. É o direito ao cuidado, que se materializa como um projeto, um movimento cidadania que reúne gestores, trabalhadores e usuários. É por isso que insisto que devemos defender as experiências que apresentam essa trajetória.
BoletIN – Que experiências exitosas a gente pode citar nesse sentido?
Roseni – No nosso encontro das incubadoras buscamos organicamente defender a continuidade dessas experiências, e, entre elas, destacamos as experiências do Hospital Sofia Feldman (a primeira incubadora institucionalizada), SUS de Rio Branco (incubadora do sitio avançado norte) e o SUS de Juazeiro da Bahia ( a nossa recente incubadora institucionalizada), ambas com uma performance bastante satisfatória. No caso especifico do SUS de Juazeiro, que tem o maior IDSUS entre os muncicípios de médio porte do Estado da Bahia e na quarta posição entre as capitais do Nordeste. Eu que acompanho esse processo de reorganização do SUS na Bahia, desde 1998, em particular de Vitória da Conquista, onde tive a satisfação de aprender com dirigentes importantes, como Jorge Sola, considero fundamental combatermos organicamente quaisquer ameaças às experiências de 100% SUS. Logo, convido a todos a compor essa linha de combate.
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