Situado na periferia de Belo Horizonte, o Sofia Feldman é referência para uma população de aproximadamente 400 mil pessoas. Todos os seus 100 leitos (50 obstétricos e 50 neonatais) são destinados ao atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), numa média de 600 partos por mês, e 77% dos bebês que lá nascem vêm ao mundo através de parto normal, índice bem abaixo da média estadual de 30%. Apesar de detalhados, os dados numéricos não são o bastante para descrever esse hospital, que é modelo de atendimento pelo SUS e exemplo de humanização na saúde. Uma variedade de projetos de controle social e humanização do atendimento faz do Sofia uma instituição de sucesso.
A comunidade esteve presente já em sua construção, que foi feita em esquema de mutirão, por iniciativa da Sociedade São Vicente de Paulo (SSVP), com terreno e projeto arquitetônico doados. O ambulatório foi inaugurado em 1972 e, cinco anos depois, o Hospital já estava funcionando. Em 1986 foi incluído nas Ações Integrais da Saúde (programa precursor ao SUS) e, no ano seguinte, ampliou seus serviços por meio das Autorizações de Internações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (AIH/SUS). No ano de 1988 desvinculou-se da SSVP, transformando-se em Fundação de Assistência Integral à Saúde (FAIS/HSF). Em 1994, foi criada a ACAU/HSF (Associação de Amigos e Usuários do Hospital Sofia Feldman), com o objetivo dos interesses dos usuários pleitear soluções para as necessidades do Hospital, além de exercer o controle social e o voluntariado.
O reconhecimento veio a galope. Em 1995 o Ministério da Saúde e a UNICEF deram ao Hospital o título de Hospital Amigo da Criança. A Promotoria de Justiça de Minas Gerais o condecorou com o Prêmio Cidadania (1997) e com a Placa Ouro (1998). Também em 1998, a Revista Crescer classificou o Sofia entre as 12 melhores maternidades do país. No ano seguinte, o Hospital recebeu o prêmio Galba de Araújo e, em 2002, foi finalista do Prêmio Criança, da fundação ABRINQ. E não pára por aí. Em 2004 foi condecorado com a medalha do Mérito da Saúde da Secretaria de Saúde de MG.
O Hospital mantém uma creche para seus funcionários e diversos projetos como o Sofia em forma e o jornal Notícias do Sofia, integrando a comunidade de funcionários e usuários e criando um ambiente mais agradável tanto para internos quanto para a equipe de atendimento.
Mesmo com as dificuldades recentes, como o corte de verbas do município que inviabilizou o funcionamento da casa de parto por dois meses, o Sofia Feldman continua providenciando atendimento de qualidade pelo SUS a dois distritos sanitários da capital e para vários municípios do interior.
Controle Social e participação da comunidade
Envolver a comunidade no dia-a-dia do hospital, representando os interesses dos usuários junto à administração, é o objetivo da ACAU/HSF (Associação de Amigos e Usuários do Hospital Sofia Feldman), fundada em 1994 por lideranças comunitárias. Entre as atividades do Sofia Feldman, em parceria com a ACAU, estão os projetos Doulas Comunitárias, Ouvidoria e Amiga da Família.
O projeto Doulas Comunitárias foi criado em 1997 e consiste em utilizar voluntárias da comunidade para cuidar da mulher no trabalho de parto, no parto e no pós-parto. As Doulas dão suporte emocional e físico à parturiente. “Com a medicalização do parto, a assistência passou a ser muito fisiológica, principa
lmente na maioria das maternidades do nosso país, onde a mulher não tem direito a um acompanhante de sua escolha”, conta Júlia Cristina Amaral, psicóloga e referência técnica do projeto. O HSF tem sempre uma Doula de plantão. Não é o ideal, uma vez que a literatura especializada recomende uma doula para cada mulher, mas é o possível dentro da realidade do SUS. São mulheres que acompanham as outras mulheres da comunidadde no hospital, como é o caso de Dona Maria Izabel da Silva Rocha, que resolveu ser doula voluntária após acompanhar uma amiga que deu à luz no Sofia. Desde então, já se passaram três anos e quatro meses e ela perdeu a conta de quantas mulheres já ajudou: “já cheguei a acompanhar 16 mulheres em um único dia, é um trabalho do qual eu gosto muito”, conta Dona Maria Izabel. Para ela, que tem 10 filhos, a melhor parte de seu trabalho é a gratidão das parturientes: “tem vezes que eu até me emociono quando elas começam a me agradecer”.
Em muitos setores do HSF podemos encontrar a Amiga da Família. O objetivo dessa voluntária é auxiliar a mãe nos cuidados com o recém-nascido e, nos casos em que esta está impossibilitada de comparecer, a Amiga da Família cumpre as funções maternas. O carro chefe deste projeto é o aleitamento materno. “A Amiga da Família também auxilia a mãe na ordenha, orienta e encoraja o aleitamento”, explica Erika Dittz, terapeuta ocupacional e referência técnica para o projeto. “Nós temos voluntárias nos períodos diurno e noturno, de domingo a domingo, num total de 14 mulheres. Dona Maria Edite Lima é Amiga da Família há 10 anos, e já foi até chamada para ser madrinha das crianças das quais ajudou a cuidar. “Eu não aceitei não, porque eu acho que a criança tem que ter uma madrinha mais nova”, diz ela, que tem 70 anos de idade. “Eu sempre quis trabalhar como voluntária e foi aqui que me deram essa oportunidade, eu me sinto realizada”.
A Ouvidoria leva as críticas e os elogios dos usuários até a administração do Hospital. Ana Flávia Coelho, assistente social e uma das profissionais envolvidas com este projeto, nos explica como funciona: “o papel do ouvidor é defender os direitos do usuário, medir sua satisfação colhendo reclamações e elogios”. Por serem responsáveis pelo esclarecimento dos direitos do usuário, os ouvidores precisam conhecer bem o Hospital e o funcionamento do SUS. A Ouvidoria são os olhos da ACAU e exerce o controle social, mas às vezes é malvista: “alguns funcionários acham que a Ouvidoria está aí para controlá-los, falar mal deles, muitos ainda têm essa impressão errada”, explica a assistente social. Nadir Maria da Silva sabe disso muito bem. Ela dedica um dia por semana ao trabalho voluntário no HSF, onde é ouvidora. “Eu fico muito decepcionada quando sou evitada por um funcionário. Eu queria que eles entendessem que eu estou aqui por causa deles também”.
Depois de ser atendida no Sofia durante uma gravidez de risco, Nadir conheceu o trabalho da equipe do Hospital e decidiu ser voluntária. Além disso, fundou uma associação de moradores em sua cidade de origem e foi eleita conselheira de saúde. “Passei a participar de encontros e reuniões, e vi aflorar a minha vida comunitária”, explica Nadir.
A Neonatologia
A Neonatologia conta com 24 leitos na Unidade de Cuidados Intensivos (UTI) e 26 leitos na Unidade de Cuidados Intermediários (UCI). Além dos cuidados nestas unidades e no ambulatório, a Neonatologia do HSF ainda dispõe da Unidade Mãe Canguru e do Programa de Internação Domiciliar. Elysângela Dittz, coordenadora de enfermagem da Neonatologia nos fala mais a respeito de como funciona essa parte do HSF. “Nas nossas unidades há um diferencial que vem desde a constituição da equipe, com profissionais que têm uma mesma filosofia de atendimento e são capacitados a atenção ao recém nascido, tendo em mente que ao atender ao recém-nascido, estamos também atendendo à família dele”. Todas as pessoas junto ao bebê têm acesso à unidade e aos serviços da equipe multiprofissional. Dessa forma, os pais não são tidos como meros visitantes, mas podem entrar o tempo todo para ficar com seu bebê e mãe pode ficar 24 horas por dia. “Temos o alojamento conjunto, que permite que a mãe fique na instituição enquanto seu bebê está internado”, ressalta Elysângela. Quando o bebê sai do CTI, a mãe pode ficar com ele no alojamento ou na unidade mãe canguru.
O cuidado canguru acontece desde a chegada do bebê no CTI e envolve mais do que o contato pele a pele (origem do nome do projeto). “É toda uma atenção que é oferecida ao recém nascido, que culmina com o contato pele é pele da mãe com o recém nascido”, conta Elysângela. A unidade é para bebês de baixo peso e nela a mãe é preparada para a alta hospitalar, que muitas vezes acontece através do Programa de Internação Domiciliar.
A comunidade esteve presente já em sua construção, que foi feita em esquema de mutirão, por iniciativa da Sociedade São Vicente de Paulo (SSVP), com terreno e projeto arquitetônico doados. O ambulatório foi inaugurado em 1972 e, cinco anos depois, o Hospital já estava funcionando. Em 1986 foi incluído nas Ações Integrais da Saúde (programa precursor ao SUS) e, no ano seguinte, ampliou seus serviços por meio das Autorizações de Internações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (AIH/SUS). No ano de 1988 desvinculou-se da SSVP, transformando-se em Fundação de Assistência Integral à Saúde (FAIS/HSF). Em 1994, foi criada a ACAU/HSF (Associação de Amigos e Usuários do Hospital Sofia Feldman), com o objetivo dos interesses dos usuários pleitear soluções para as necessidades do Hospital, além de exercer o controle social e o voluntariado.
No Programa de Internação Domiciliar (PID), mãe e filho ficam em casa aos cuidados da equipe do Hospital, que faz visitas periódicas. “É para bebês que ainda precisam de acompanhamento, que têm baixo peso ou que precisem do atendimento do profissional de saúde com uma certa frequência”, diz Elysângela. Segundo ela, normalmente, as visitas são feitas por um enfermeiro, pediatra ou técnico de enfermagem, requisitando a assistência de profissionais de outras áreas sempre que necessário, e o Hospital fornece os medicamentos e tudo o mais que a criança venha a necessitar durante esse período. As crianças são acompanhadas até os dois anos de idade.
A equipe multiprofissional é um dos trunfos do HSF. Nos leitos da UTI, o Hospital tem enfermeiras, fisioterapeutas e médicos 24 horas por dia. Já a equipe de enfermagem é composta por técnicos, enfermeiras (das quais 90% tem especialização em neonatologia), psicólogas e terapeutas ocupacionais. “É um hospital muito bom de se trabalhar onde a enfermagem tem uma certa autonomia e atua realmente em equipe”, avalia Cristiane Lélis, enfermeira. “Nós conseguimos resultados melhores por conta dessa interação da equipe”, conclui.
Modelo onde? Minha irma foi mal atendida, as enfermeiras debochavam das internadas na ugar, fraturaram o braco do bebe dela dentro da uti c 35 semanas e nao falam nada sobre… que modelo e esse?