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Emoção em tarde de debate sobre identidade feminina e maternidade na UFF

DSC09254Uma tarde notável da última quinta-feira, 2, trouxe para o centro do debate questões ligadas à gênero, sexualidade e saúde da mulher. Com o tema “Identidade feminina e maternidade: refletindo sobre a formação em saúde”, o seminário que levou muitos estudantes, professores e pesquisadores em saúde ao auditório Florestan Fernandes, no Campus do Gragoatá da Universidade Federal Fluminense (UFF), proporcionou o que a idealizadora do evento, Lilian Koifman (ISC/UFF), chamou de papel fundamental de uma Universidade: valorizar os encontros e os espaços de reflexão.

A intenção primeira do evento era prestar uma homenagem à psicóloga Andréa Linhares, morta neste primeiro semestre em um trágico acidente na região serrana do Rio de Janeiro. Formada pela Universidade Paris V, Andréa estava na UFF como professora visitante onde trabalhava em seu projeto de pós-doutorado intitulado “Mulher certa, mãe incerta: questões contemporâneas sobre a identidade feminina na ausência da maternidade – uma perspectiva transdisciplinar ente psicanálise e ciências sociais”. Antes disso, a tese de doutorado da psicóloga teve como tema “transexualidade e mudanças corporais”;

A evocação de seus temas de pesquisa e de ensino marcaram todo o seminário. Ora na “carta à filha”, em leitura emocionada feita pelos pais da psicóloga, Célia e José Linhares; ora no painel apresentado pelas professoras Thais Yamamoto, Martha Freire, Ivia Maksud, Vânia Fonseca e Eliana Gabbay, que pôs em discussão, respectivamente, os temas Gênero, Sexualidade e Saúde; Saúde da Mulher; Maternidade; Infância; e Saúde Mental, abordados na disciplina Trabalho de Campo Supervisionado 1 (TCS1), oferecida pelo Instituto de Saúde da Comunidade ao Curso de Medicina da UFF.  Segundo Lilian Koifman, através de exemplos práticos que associam trabalho de campo com aulas teóricas, a disciplina relaciona saúde à cultura e integralidade, o que estimula os estudantes a exercitar um olhar mais sensível sobre os usuários dos serviços de saúde.

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Coube aos alunos da disciplina a responsabilidade de apresentar o trabalho de pós-doutorado que vinha sendo desenvolvido por Andréa, recuperando a memória da passagem da psicóloga pela UFF em trechos de documentários e relatos de experiência e trazendo para a discussão questões que estão no cerne da pesquisa de Andréa Linhares: Identidade de gênero é uma construção social? O que define maternidade? Ser mãe é um desejo da mulher ou reflexo de pressões sociais? Até que ponto a identidade feminina está relacionada à maternidade?

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Para o professor Joel Birman, do Instituto de Medicina Social da UERJ, que encerrou o seminário, as questões pontuadas pela psicóloga são contemporâneas não apenas pelo tema – que de maneira inequívoca põem em jogo a questão patriarcal – mas sobretudo pelo olhar transdisciplinar que a pesquisadora lhes dedicava. “Ela pretendia estabelecer uma interlocução com as ciências sociais, humanas e a medicina, ultrapassando as fronteiras dessas disciplinas”, sinalizou. “São questões que interessam ao campo da saúde coletiva mais do que ao estritamente técnico e sanitário”.

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A professora Martha Freire, autora do livro Mulheres, mães e médicos: discurso maternalista no Brasil, acredita que a discussão desta quinta-feira é de fundamental importância. Ela compartilha com a ideia da psicóloga homenageada de que a maternidade não é fenômeno biológico mas historicamente construído. “Nesse momento em que se faz uma revisão do conceito maternalista, é essencial discutir se a maternidade é uma escolha consciente, uma prerrogativa da mulher, ou está atrelada às pressões sociais. Por isso, queremos dar continuidade ao diálogo com as pesquisas de Andrea”, disse. Na fala do estudante Müller Vieira, o sentimento do grupo: “Em termos de conhecimento, a perda da professora foi como se tivesse sido queimada uma biblioteca inteira”. A julgar pelo tom dos relatos e pela emoção que marcaram todo o evento, a passagem da psicóloga pela UFF vai deixando muitos vestígios.

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QUEM FOI ANDREA LINHARES

Andréa Linhares, psicóloga brasileira formada pela Universidade Paris V, psicanalista, Doutora em Psicopatologia Fundamental e Psicanálise (Universidade Paris VII), professora da mesma Universidade (Maitre de Conférences – SHC – Paris VII) e pesquisadora do Centro de Pesquisas Psicanálise, Medicina e Sociedade – CRPMS. Suas pesquisas se articulam com os seguintes tópicos: Bioética, a psicanálise diante das novas tecnologias médicas; Clínica das transformações corporais; Gênero e sexualidade, discursos médicos, psicopatológicos e psicanalíticos; O exílio como paradigma sociocultural e psicopatológico.

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