Gestores e população da região Amazônica já podem contar com um importante aliado em relação às mudanças climáticas e ao impacto dessas variações sobre a saúde dos moradores locais. Trata-se do sítio sentinela, criado por pesquisadores do Instituto de Comunicação e Informação Científica Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) que integra o projeto Observatório de Clima e Saúde, uma parceria da Fiocruz com Ministério da Saúde e Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Através do site, a população pode acessar todos os dados do Datasus, da Agência Nacional de Águas (ANA), do Serviço Geológico do Brasil e da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), que são atualizados permanentemente.
A página abriga textos explicativos, notícias sobre os rios da região e problemas de saúde, links para instituições e documentos, além de uma área para comentários. Por enquanto, o site acompanha a situação das cidades de Manaus, Porto Velho e Santa Maria. Mas, segundo o coordenador do projeto Christovam Barcellos (foto), há umplanejamento para instalar sítios sentinela em outras cidades da Amazônia e do resto do Brasil. Ele acrescenta que, para que se adote uma cidade como sítio sentinela, é preciso que existam dados sobre clima e saúde e que haja uma preocupação com um ou mais problemas de saúde da população. “Mas antes de tudo, é preciso que a comunidade local, gestores e técnicos de saúde e sociedade civil estejam mobilizados para identificar esses problemas e atuar sobre eles”, complementa.
O interesse do Observatório de Clima e Saúde, de acordo com Barcellos, é coletar e disseminar dados sobre clima, sociedade, ambiente e saúde que permitam acompanhar e atuar sobre os efeitos das mudanças climáticas sobre a saúde. O projeto é nacional, mas algumas áreas exigem uma atenção especial para certos problemas. Esse tem sido o caso do regime de águas na Amazônia. Nos últimos anos, a região verificou cheias e secas extremas que prejudicam o dia-a-dia dos habitantes e podem causar doenças relacionadas à água. Basta dizer que o Rio Negro teve a sua maior cheia dos últimos 100 anos, com as águas atingindo 29,81m no dia 18 de maio.
Os impactos do projeto
O Observatório está centrado em quatro eixos prioritários: os efeitos das queimadas na poluição do ar e o agravamento das doenças respiratórias; o impacto nos ciclos de transmissão de doenças por vetores, como a dengue, malária e febre amarela; os riscos de doenças de veiculação hídrica, devido a crises da água e de sistemas de aneamento; e o impacto de eventos climáticos extremos e desastres sobre a saúde humana. Christovam Barcellos diz que o projeto tem apresentado alguns resultados que permitem já apontar mudanças no padrão climático com sérias consequências sobre a saúde.
“As queimadas no Acre, Mato Grosso e Rondônia coincidem com a estação seca. Com a diminuição de chuvas nesta região, aumenta a inflamabilidade, isto é, a possibilidade da floresta pegar fogo e este fogo se espalhar”, exemplifica Barcellos. “As cidades, mesmo longe dos foco,s estão sofrendo com a poluição do ar causada pelas queimadas. As crianças e idosos têm apresentado quadros de doenças respiratórias, principalmente nestas épocas de queimadas”.
Para o pesquisador, o site pode servir como sistema de alerta na preparação para situações de emergência e ajudar governantes a pensar políticas públicas ou abrigar discussões sobre adaptações e tendências nas cidades após esses desastres naturais. “As secas e cheias são sazonais, isto é, acontecem todos os anos. Alguns modelos já são capazes de predizer se a próxima estação será de uma grande seca ou cheia. Assim, os governantes têm tempo para evitar que os problemas ocorram ou preparar medidas de emergência”, diz. “No caso de Manaus e outras cidades da Amazônia ocidental, no nosso site já havia sido previsto que haveria esta inundação. Algumas medidas de prevenção, como o controle de vetores, saneamento de emergência e educação podem ser adotadas neste caso”.
Acesse o site do Observatório de clima e Saúde clicando aqui.
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