Notícia

A biografia como um meio para abordar o cuidado

Pós-doutorado apresentado no IMS/UERJ estuda a experiência de jovens em bairros populares na Argentina.

 

Pablo Di Leo apresenta a pesquisa do pós-doutoramento no IMS/UERJOs relatos biográficos de jovens em bairros populares de Buenos Aires foram o objeto de pesquisa do argentino Pablo Francisco Di Leo no pós-doutorado apresentado no Instituto de Medicina Social da UERJ, sob orientação da professora Roseni Pinheiro. Pesquisador do Instituto Gino Germani, da Universidade de Buenos Aires e associado ao Lappis, seu interesse foi identificar práticas individuais e coletivas para dar visibilidade a situações de negação de reconhecimento, menosprezo e invisibilidade social, visando promover meios de superá-las.

O cuidado como valor, nesse âmbito, está relacionado ao direito de ser diferente e ser respeitado publicamente. “O olhar tem muita importância para os jovens, pois os valoriza ou não como individuos. Um professor que não olha para um aluno -“El me miró mal”, como dizem – às vezes é causa de muitos conflitos”, explica Pablo Di Leo.

Alguns dos referenciais teóricos tomam a obra de Axel Honneth sobre a luta por reconhecimento como base para a construção das subjetividades,  que sob o olhar na perspectiva que analisa  vulnerabilidade, visibilidade e reconhecimento se mostrou mais amplo do que abordagens de grupos de risco. Um dos meios encontrados para compreender o cuidado de forma ampla e complexa foi a biografia.  A partir da identificação de nós biográficos – pontos em que confluem relações entre o individual e o social – buscou-se compreender como os jovens de bairros populares conformam, sustentam e projetam suas vidas, significam e confrontam seus problemas.  A metodologia também permitiu caracterizar os vínculos afetivos entre amigos, familiares, no bairro e identificar as instituições públicas presentes (escola,  polícia, serviços de saúde e outros).

Dez jovens participaram da pesquisa por meio de entrevistas em profundidade, a partir das quais foram construídas biografias. Os pesquisadores retornavam para conversar sobre o texto biográfico e retomar passagens da vida, permitindo que os jovens interferissem na escrita e estilo, com aprovação para a versão final que posteriormente foi publicada em livro. Nos encontros com pesquisadores eram buscados momentos de “giros biográficos”, considerados em mudanças, tensões ou conflitos vivenciados pelos jovens entrevistados.

Um quadro de análise desenvolvido pela pesquisa identificou momentos distintos de cuidado e de vulnerabilidade a partir dos relatos biográficos. Os vínculos afetivos, as relações no bairro e com as instituições públicas, em algumas situações, são identificados com sentimentos de confiança, pertença e apoio, mas também estão relacionados à violência, não reconhecimento e exclusão.  A abordagem permite a construção um olhar inclusivo para o fortalecimento de políticas e intervenções em diferentes situações vividas com os jovens em bairros populares. Como resultado, os relatos biográficos foram considerados como uma estratégia produtiva para visibilizar a abordar articulações e tensões entre dimensões individuais, vinculares e sócio-institucionais.

Os relatos biográficos escritos pelos jovens pesquisados estão no livro, fruto da pesquisa Dois desdobramentos do pós-doc foram concretizados. A edição do livro “Quero escribir mi história”: vidas de jóvenes en barrios populares coordenado por Pablo Francisco Di Leo e Ana Clara Camarotti e também a construção de um novo projeto de pesquisa intitulado “Direito e politicas públicas em torno do cuidado de pessoas em condições de deficiências, violências e consumos problemáticos de drogas, residentes em bairros vulnerabilizados do Rio de Janeiro e Buenos Aires”, recentemente aprovado em uma convocatória do Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (CONICET). Pablo Di Leo é o pesquisador responsável pelo projeto na Argentina, que fortalece a parceria entre o Instituto de Medicina Social/Universidade do Estado do Rio de Janeiro e o Instituto Gino Germani/ Universidad de Buenos Aires (para mais informações, veja a matéria sobre o projeto). 

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