Referência no parto humanizado, o Hospital Sofia Feldman, de Belo Horizonte, completou 30 anos e 100 mil nascimentos. Parceira do Lappis, a maternidade é a primeira experiência das Incubadoras da Integralidade e virou modelo de cuidado e boas práticas. Ao BoletIN, a fisioterapeuta Tatiana Lopes Coelho, integrante da Linha de Ensino e Pesquisa (LEP) do Sofia, disse que grande parte do mérito do Hospital é que ele existe numa parceria constante com a comunidade.
“O Sofia é uma construção com a comunidade de um SUS que a gente deseja, do atendimento que a gente deseja, da relação que a gente deseja com as mulheres e o movimento de mulheres”, disse Tatiana, acrescentando que, em todos os espaços do Hospital, hoje, tem membros da comunidade. “Da assistência até a gestão. Penso que o sucesso do Sofia enquanto modelo é porque ele sempre esteve aberto à comunidade e a comunidade sempre esteve presente na sua construção”.
Tatiana lembra que, desde o surgimento do Hospital, quando “Seu José”, um fotógrafo morador do bairro Itapoã, resolveu sair às ruas e arrecadar fundos para a construção de um hospital, o seu único pedido foi que “a comunidade nunca saísse de lá”. “A comunidade realmente faz parte da construção do Sofia. E acho que esse é o nosso diferencial dentro da ideia do SUS que queremos”, completou.
O início
Seu José de Sousa Sobrinho, o fotógrafo vindo da Paraíba, acalentava o sonho de construir um hospital que atendesse os então chamados ‘indigentes’ que, por não contribuírem com a Previdência Social, não tinham direito à Saúde. Era o final da década de 1970, época de ditadura militar e INAMPS. No caminho para realizar o sonho, “seu Zé”, como era chamado encontrou um outro sonhador, dr. Marx Golgher, que doou uma quadra no bairro Tupi para a construção do Hospital, fazendo apenas a exigência de que o local fosse batizado com o nome de sua avó, Sofia Feldman.
Em outubro de 1982, a Maternidade começa a funcionar com a ajuda de voluntários recebendo umas poucas gestantes por mês. Hoje, com mais de mil funcionários, realiza mil partos por mês, chegou a 100 mil nascimentos e alcançou visibilidade nacional e internacional. Além de Belo Horizonte e dos distritos da capital, atende também a região do interior e ampliou ainda mais o atendimento e o acesso com a Casa da Gestante Zilda Arns, que no ano passado, foi considerada pela OPAS/OMS a terceira melhor iniciativa institucional das Américas para redução da mortalidade materna.
Recentemente, na edição comemorativa dos 30 anos de Hospital, o Notícias de Sofia, informativo da instituição, trouxe uma declaração do obstetra Ivo de Oliveira Lopes, diretor técnico-administrativo do Hospital, que era estudante de medicina na época de sua fundação. Ele relembrou que fez um acordo ético-político com o seu José. “Eu, Ivo, nunca tiraria a comunidade de dentro do Sofia, não usaria o Sofia como arma política e nem me candidataria a nenhum cargo político”. Assim tem sido.
Incubadora da Integralidade
Em setembro do ano passado, o Sofia sediou o I Seminário Nacional Incubadora da Integralidade e III Seminário do Programa Incubadora da Integralidade do Hospital Sofia Feldman, que contou com o apoio do Laboratório de Pesquisa sobre Práticas de Integralidade em Saúde e a participação da coordenadora do Lappis, Roseni Pinheiro. Na ocasião, Roseni declarou: “Em 1996, eu disse que o Sofia deveria se tornar um centro permanente de educação continuada, o que se tornou de fato. O Sofia é uma grande inspiração de boas práticas no cuidado”.
Para Tatiana, que entrou no Sofia como acadêmica, em 2001, e fez toda a sua formação na instituição, hoje, integrando o LEP, a formação de profissionais é outra preocupação constante do Hospital. “Sempre sob a perspectiva do SUS que queremos, da integração, da participação sob os pilares da integralidade”, ela diz. “Nós sempre problematizamos a assistência na instituição e a formação dos profissionais. Não adianta ser uma prática como essa mas se tornar uma ilha dentro de um sistema. É importante que a gente consiga disseminar essas práticas”.
Para isso, Tatiana considera importante a parceria com o Ministério da Saúde, a partir do programa de qualificação das maternidades. “Agora, a gente tá investindo na formação médica em ginecologia e obstetrícia, na formação de enfermeiro-obstetra e na formação multiprofissional na área de neonatologia”, informa. “Acho que o momento é para pensar nesse processo de qualificar e sistematizar o conhecimento que a gente construiu ao longo desses 30 anos de experiência”.
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