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Um pouco de história: Saúde mental já foi o “sustento” do Município de Paracambi

Conheça a história da Casa de Saúde Dr. Eiras do município de Paracambi. O hospital psiquiátrico chegou a receber 2.550 internos no período de sua criação, no início da década de 1960.

A Casa de Saúde Dr Eiras Paracambi foi fundada em 1963,  como  filial da Casa de Saúde Dr. Eiras Botafogo  instalada no bairro de Botafogo, região nobre do município do Rio de Janeiro. A unidade Paracambi,  exclusivamente psiquiátrica, recebia pacientes com problemas crônicos, chamados “sem possibilidades terapêuticas”. “Os pacientes internados em Paracambi,  ali permaneciam pelo resto de suas vidas”, conta Fabiana Castelo Valadares, psicóloga e coordenadora da Unidade São Carlos II  na Intervenção na Dr Eiras Paracambi.

No período de sua criação, pré-ditadura, a Casa de Saúde Dr Eiras Paracambi tinha capacidade de receber 2.550 internos. O hospital se localiza em uma zona rural do município a 90 Km do município do Rio de Janeiro. O acesso mais simples pode ser feito de trem chegando na antepenúltima estação.  O hospital foi fundado como uma entidade privada e prestava assistência a pacientes conveniados ao antigo sistema de previdência social.

Em  1991, trabalhadores do Hospital de Paracambi  se organizaram  em torno da realização de uma denúncia pública em conjunto a ALERJ (Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro) relatando os maus tratos e as péssimas condições de assistência  em que os pacientes se encontravam na instituição. Esta denúncia deu origem a uma grande mobilização e a estruturação de uma estrutura de “triagem” que se configurou em uma porta de entrada municipal que responsável pelas autorizações de internação hospitalar. 

Como um dos efeitos da denúncia de 1991 o município de Paracambi iniciou a reformulação da assistência a saúde mental. Assim  com o intuito de minimizar as internações no município e em busca de uma melhor assistência aos pacientes psiquiátricos, em 1992 foi criado o Pólo de Saúde Mental,  com leitos psiquiátricos no Hospital Geral da cidade. As ações do Pólo de acolhimento a crise, internações de curtíssima permanência e triagem da clientela reduziu 80% das internações psiquiátricas no município em seu primeiro ano de funcionamento, reduzindo assim também o número de internações na Dr Eiras. De 1992 em diante, a rede de Saúde Mental do Município foi ampliada, com a construção do CAPS II e do CAPS ad, visando estratégias de atenção a população interna e externa ao hospital.

As ações adotadas passaram a estabelecer uma regulação mas as condições de cuidado na CSDE-Pbi não se transformaram e em 1999 a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados instalou uma auditoria no local cujo desdobramento foi uma ação civil pública pelo Ministério Público Federal (ainda em curso) que contribuiu para o processo de intervenção no hospital em 2004, quando lá estavam 954 internos. A intervenção se deu por um decreto municipal com articulação entre as três esferas de governo (federal/MS, Estadual/ASM-SES, Municipal/SMS).A partir do ano de 2000,  as internações tornam-se proibidas por decreto da SES/RJ. A instituição posteriormente foi descredenciada do SUS  após a reprovação (não atingiu os requisitos mínimos para a assistência psiquiátrica) pelo PNASH/Psiquiatria – Programa de Avaliação das Instituições Hospitalares. 

Em 2001 o Município construiu, sua primeira residência terapêutica totalizando hoje 21 residências, sendo10 em forma de  vila, construída numa região próxima ao hospital, as chamadas Casas de Passagem. Cada residência tem capacidade para abrigar até 8 moradores que vivem na cidade e mantém seu tratamento na rede de saúde do município.

Em 2004, após a recusa dos proprietários do hospital em efetivar o ajustamento de conduta, exigência do Ministério Público Federal, que visava a melhoria da assistência aos internos e a redução do grande número de óbitos, ocorre a intervenção pelo poder público na Dr Eiras Paracambi. Desde então o município de Paracambi passa gerenciar em parceria com vários municípios do estado do RJ, o processo de desinstitucionalização daquele que já chegou a ser conhecido como o maior hospício privado conveniado a rede pública de saúde da América Latina.

 A Lei Paulo Delgado entra em vigor

No Brasil,  a construção de uma política de saúde mental  vem se consolidando desde a aprovação  do SUS. A primeira lei nacional referente à saúde mental é a LEI 10216, de 2001, lei esta que foi aprovada após a mobilização da sociedade durante seu período de tramitação  no congresso, a partir do projeto de lei proposto por Paulo Delgado em 1989.

Movimentos sociais dão abertura a Luta Antimanicomial           
                 

Fabiana recorda que as denúncias de maus tratos continuaram surgindo mesmo após da lei Paulo Delgado, e o surgimento destas denúncias constitui das funções da lei, tornar visível e intolerável as atrocidades que ocorriam com freqüência nas instituições psiquiátricas.  A mudança de paradigma na assistência a saúde mental no Brasil foi fruto de movimentos sociais, também presentes em outros paises, de recusa a exclusão social da loucura.

No Brasil a partir da organização dos trabalhadores da saúde mental chegando a abrangência nacional, foi criado o Movimento dos Trabalhadores da Saúde Mental. Em 1987, o este movimento torna-se mais abrangente com a aliança de familiares, partidos políticos, entidades sindicais, ONG’s e entidades civis. É formado então o Movimento da Luta Antimanicomial, com o lema “por uma sociedade sem manicômios”.

A primeira experiência de intervenção em um hospital psiquiátrico no Brasil acontece em Santos-SP, na Casa de Saúde de Santos, em função de denúncias de maus tratos. Tal experiência é conduzida pela Prefeitura de Santos, que efetiva o fechamento do hospital após um processo se estende por cerca de oito anos.

Durante esse período foram criadas outras formas de assistência psiquiátrica como os Centros de Atenção Psicossocial – CAPS e os Núcleos de Atenção Psicossocial – NAPS, que são serviços de saúde mental diferenciados, que tem como objetivo substituir os hospitais psiquiátricos e garantir outras formas operar o cuidado. É um serviço aberto, situado na cidade, territorializado e integrado a rede de saúde do município.

Estas mudanças se consolidam no cenário nacional. A Lei Paulo Delgado dá um respaldo jurídico, uma consistência aos serviços no Brasil, além de outras legislações que foram surgindo e fortalecendo tais mudanças. Dentre os Programas que visam a reformulação da assistência a portadores de transtorno mental, o Ministério da Saúde criou o Programa de Volta pra Casa – PVC que consiste num auxílio mensal de R$ 240,00 (duzentos e quarenta reais). Os pacientes que não tem renda própria podem ser inscritos no Benefício de Prestação Continuada – BPC, que conta com um salário mínimo dando uma sustentação regular para que possa dar continuidade ao tratamento no CAPS. Os benefícios são avaliados anualmente.

Quando o problema não é financeiro, mas sim de convívio familiar, são realizados encontros e visitas. O acompanhamento é feito por profissionais da área de saúde juntamente com os familiares do usuário.
 

17 Comentário

  1. Falar da Casa de Saúde De. Eiras ou hospital psiquiátrico, necessitaria de muito espaço e horas.
    O que li acima, fala somente do hospital de Paracambi. O de Botafogo,onde tudo começou, as histórias são tão ou mais macabras que o de Paracambi.
    Leonel de M. Miranda, dono do manicômio, ganhou de presente Sr ministro da saúde (Governo Costa e Silva)
    Dr Talvane está vivo aí e deverá ter muito o que contar sobre Dr. Eiras já que foi estagiário de medicina lá e depois médico.
    Se matou muita gente também em Botafogo.
    Muitos pacientes fugiram do pátio nos fundos do hospital,se dando dentro da mata sem que se tenha mais notícias até hj

  2. Minha mãe Nilza da Conceição Felippe..tbm foi soterrada viva dentro deste hospital em Botafogo. Em nome da ganância da família marinho.gostaria de pode reaver o histórico de internação de minha mãe. Já que se inpossaram de seus bens e a aleijaram para o resto da vida.alem de provocarem um (AVC). Até mata_la

  3. Boa noite, tiver um irmão que ficou nesta clínica e estou precisando de uma documentos da clínica para aposentar ele, como faço para saber se existe esses documentos

  4. Do livro: Um lugar muito # De: FELIPE TRAVASSOS
    Uma casa de repouso para pacientes psiquiátricos com uma mistura de casos.
    CASA DE SAÚDE DRO.EIRAS EM BOTAFOGO – Rua Assunção 2, Rio de Janeiro, RJ, 22251-030
    Uma grande casa rosa com detalhes brancos e um jardim grande. Aos fundos prédios e mais aéreas de lazer. Quadras de esportes.
    Cravada no meio de uma cidade barulhenta, violenta e com muitos problemas sociais.
    Um lugar onde muitas histórias eram escritas e narradas.
    Portas de ferro, grades, camas, armários, janelas grandes, um lugar escuro, silencioso e gelado no inverno. Tudo muito antigo.
    O vento soprava. Um grande assobio no AR.
    Gritos, olhos arregalados, choros, tristezas, sorrisos, alegrias, amizades, medos, cheiros fortes, cigarro, umidade, mãos tremulas, pedidos de ajuda e lágrimas. Tem um cigarro Doutor?
    Pouca luz. Pouco Sol. Pouco Luxo.
    Um lugar onde anjos adormecem, descansam, repousam e se tratam.
    Eletrochoque, pacientes contidos na cama (amarrados), tratamento químico, psicológico e psiquiátrico,
    Medicamentoso.
    Tudo é válido para melhorar seu estado de saúde. Testes?
    Avaliações? Estudos?
    Dar uma vida melhor.
    Disulfiram, Divalproato, Flupentixol, Levomepromazina, Loxapine,
    Melperona, Mesoridazina, Moclobemide,
    Pemoline, Perfenazina, Pipotiazina, Primidona, Protriptilina,
    Reboxetina, Risperidona, Rivotrill,
    Sulpirida-Serenal, Tiaprida, Tioridazina, Tiotixene, Trifluoperazina, Tri-hexifenidilo, Trimipramina,
    Zaleplon, Ziprasidona, Zolpidem, Zopiclone, Zuclopentixol e o mais famoso de todos
    Haldol Decanoato o mais famoso e mais utilizado.

    MEDICAMENTO MAIS UTILIZADOS
    Sossega Leão!@#$%?!
    Todos esperando uma melhora. Uma cura. Um resultado.
    A festa junina era linda. A discoteca as 5a feiras tinha mais de 50 pacientes.
    O jogo de futebol na quadra.
    O vôlei para as mulheres no setor feminino.
    Muitas atividades eram oferecidas.
    Frase de um paciente que marcou meu estágio.
    Quem não tem problemas?
    Qual é o seu problema?
    Seu Pai tem problemas. Sua mãe tem problemas.
    Todos têm problemas.
    Abra sua porta e vai para a Rua. Problemas surgem.
    Eu estou aqui com um grande problema. Sem cura.
    Quando vou sair? Não sei. Escuto vozes.
    Um lugar com muitas histórias e grandes lições.
    Muitos desafios. Tem que ser forte para trabalhar e gostar. Infelizmente falar de saúde no Brasil é complicado.

  5. Esse hospital funcionou até recentemente entre 2015 próximo a essa data. Eu sei porque fui ver minha avó lá. Desumano o que foi feito nesse hospital, o texto não tá trazendo isso como algo muito impactante mas acredite que foi. Pessoas abandonadas, passavam fome, com doenças como tuberculose que minha avó teve e sem tratamento. Nós tiramos ela de lá se não talvez teria morrido antes. Muito triste!

  6. Pra conseguir dados sobre pacientes já mortos me disseram que precisa de um consanguíneo vivo, ex o o filho pode ir no hospital que pai/mãe se internou e puxar a ficha.

  7. SEM OS “MANICOMIOS” O QUE TEMOS HOJE SÃO NÚMEROS ABSURDOS DE PEDÓFILOS, ESTUPRADORES E PSOCOPÁTAS CONVIVENDO EM SOCIEDADE. E OS QUE SÃO DESCOBERTOS, JÁ TÊM FEITO DEZENAS DE VÍTIMAS ANTES. ALÉM DAQUELES QUE NÃO TÊM MAIS OPORTUNIDADES DE REESTABELECER DE UMA CRISE DE DEPRESSÃO E SE TORNAM MORADORES DE RUA.

  8. Soe Enfermeiro e trabalhei no Dr.Eiras de Botafogo e tenho interesse na historia mais detalhada sobre a instituicao. Alguem pode me referendar alguma fonte??

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