Notícia

Simpósio de Avaliação na Perspectiva no Usuário: o Desafio da multiplicidade de Olhares

Às vésperas do primeiro simpósio de  Avaliação na Perspectiva do Usuário, o BoletIN conversou com o sociólogo, professor Paulo Henrique Martins e a professora Roseni Pinheiro ambos coordenadores do evento. Eles e a doutoranda Tatiana Coelho Lopes, que apresentará o resultado de um trabalho com base na metodologia MARES, falaram também sobre as expectativas para o encontro e o desafio de trabalhar a multiplicidade de olhares do usuário no Sistema de Saúde.  
Faltando um pouco mais de duas semanas para o “Simpósio Nacional sobre Avaliação na Perspectiva do Usuário: Contribuições para Estudos sobre Práticas Avaliativas Amistosas à Integralidade em Saúde”, o BoletINouviu o coordenador do evento, o professor e sociólogo Paulo Henrique Martins, sobre as expectativas e especificidades do encontro.

Coordenador do Núcleo de Cidadania (NUCEM/UFPE), Martins informa que as pesquisas apresentadas nesse simpósio são fruto da Metodologia de Análise das Redes do Cotidiano (MARES). “Foi um trabalho empírico muito grande, que envolveu vários grupos de pesquisadores, seis Estados da Federação e nove cidades”, disse. “Temos que pensar alto sobre a questão do usuário, visto que, no campo da pesquisa, já avançamos bastante”. 

Além de apresentar o resultado dessas pesquisas ao público externo pela primeira vez, o Simpósio também será marcado pela publicação de uma coletânea Avaliação em Saúde na perspectiva do usuário: Abordagem Multicêntrica. O professor comenta sobre a capacidade de aproveitar os resultados das pesquisas não apenas em publicações, como também na prática. “Sistemas de mediação de redes bem feitos, como as Incubadoras de Integralidade, devem ser reproduzidos, para não se limitar apenas à pesquisa de campo e publicação de artigos científicos. Estamos produzindo conhecimentos que são realmente aproveitados, que intervém na realidade”. Para ele, a parceria com o LAPPIS nessa pesquisa foi marcada pela “tenacidade, capacidade de organização, liderança e trabalho incríveis da coordenadora Roseni Pinheiro, que contribuiu para o acoplamento da ideia de mediações e a proposição do Lappis de implantar incubadoras de integralidade”.

“Democratização da discussão”

A pesquisa também expôs a relação entre planejador e usuário. O grande desafio, segundo o coordenador do NUCEM, foi trabalhar com essa multiplicidade de olhares. “O planejador oferece a ação ao usuário, mas seria o usuário quem deveria avaliar se a ação realmente funciona”, afirma. “Mas, ao mesmo tempo, esse olhar do planejador é importante para que se tenha alguém pensando tecnicamente os recursos e administração. E o usuário? Como ele constrói suas práticas de saúde, como trabalha o seu sofrimento, como gostaria de resolver essa situação? Dessa forma, estamos democratizando a discussão sobre avaliação em saúde, apresentando uma outra versão”.

Paulo Henrique alerta ainda para o fato de que a pesquisa não apresenta resultados “fechados”, abrindo espaço para a construção do diálogo sobre os assuntos abordados com outras experiências de campo e até mesmo com planejadores e gestores. “É uma experiência inédita de pesquisa, do ponto de vista dos desafios epistemiológicos, metodológicos, teóricos e éticos. Acredito possa servir de exemplo para avançar na questão da descentralização e na reforma do SUS”.
Ele, que trabalha as redes sociais na saúde na perspectiva do usuário há cerca de três anos, vê nas novas redes possibilidades para uma pesquisa no âmbito da autonomia dos atores. “Os novos arranjos familiares, como o casal de homossexuais que resolve adotar um filho, por exemplo, sugere novos riscos subjacentes à questão da responsabilidade e da autonomia”. Para o sociólogo, essas pessoas estão tentando reconstruir os espaços afetivos. “Temos que procurar saber quem está regulando os conflitos das novas redes e como continua regulando os conflitos nas redes tradicionais, mas fazendo a diferenciação entre elas. As novas redes têm o desafio de futuro”. O próximo passo será estender a pesquisa também à América Latina.

altA sanitarista e coordenadora do LAPPIS, Roseni Pinheiro reforça que a importância da parceria LAPPIS e NUCEM se mostrou acertada, com a troca de aportes epistemológicos importantes, como mesmo afirma Paulo. “A teoria da integralidade e a teoria de redes apresentam afinidades conceituais e teóricas bastante afirmativas no sentido de aprofundar os temas cadentes da discussão do campo da saúde e fortalecer o SUS, com todos os atores implicados. E como bem tenho defendido uma ‘cidadania do cuidado’ com solidariedade do conhecimento é assim que percebo”, afirma. “Acrescenta outros olhares sobre a avaliação em saúde, cujo usuário é central. Sem contar que é reconhecido nos documentos oficiais a insuficiência dos indicadores e critérios da atenção básica, como por exemplo, avaliar a integralidade em saúde, preconizada pela própria política da atenção básica”.

O “Simpósio Nacional sobre Avaliação na Perspectiva do Usuário: Contribuições para Estudos sobre Práticas Avaliativas Amistosas à Integralidade em Saúde” acontecerá nos dias 13 e 14 de agosto.

Repensar a prática profissional através da pesquisa

A fisioterapeuta e pesquisadora Tatiana Coelho Lopes apresentará no Simpósio um trabalho realizado durante o Doutorado no Instituto de Medicina Social (IMS-UERJ), chamado “O Itinerário da Paternidade”, que avalia o percurso dos pais no serviço de Saúde no exercício da paternidade, realizado no Hospital Sofia Feldman (MG). Outro trabalho do hospital, que abrigou o projeto-piloto “Incubadoras da Integralidade”, é a questão das redes comunitárias de cuidados do recém-nascido que vai ter alta para o domicílio. As duas pesquisas utilizaram o MARES, permitindo a identificação do desenho das redes sociais que são formadas dentro de uma Instituição.

“Tenho uma expectativa muito grande em relação a esse evento, porque as discussões do grupo já foram realizadas, mas a questão de divulgação e troca de experiência com os participantes sobre as práticas avaliativas na visão do usuário é uma inovação no campo”, afirma Tatiana. Segundo a pesquisadora, o trabalho com redes e usuário permite apresentar o resultado de forma aberta, pois são experiências distintas, com focos distintos de possibilidade de trabalho. “É um desafio até para repensar sua prática profissional”.
 

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*