Definido como sucesso absoluto, o VIII Seminário Nacional do Projeto Integralidade expôs discussões teóricas comprometidas com a produção de conhecimentos fecundos no âmbito da saúde coletiva. A participação de vários expoentes da comunidade científica brasileira contribuiu no sentido de otimizar essas reflexões.
Para dar início aos debates, a professora Madel T. Luz trouxe à luz idéias que discutem a questão do cuidado na integralidade e relacionou temas como educação e ética no tratamento com o usuário. Ela questionou ainda o conceito de coletividade. “O cuidado é um olhar para o outro como se fosse para nós mesmos e o individualismo assinala a não-inserção do outro. A ideologia neoliberal contribui para o esgarçamento do tecido social onde as relações de trabalho criaram um ambiente difusor contrário a uma sociabilidade solidária”, completou a conferencista.
Para o pesquisador Paulo Henrique Martins (DCS-UFPE/Nucem), que integrou o debate “Busca por cuidado com um condicionante de saúde: é possível considerar a escolha do usuário na redefinição das ações de saúde?”, os conceitos de cidadania e noção de usuário são constituídos por fatores distintos: “Cidadania é na verdade a noção do ser humano em sua forma mais inerente. A noção de indivíduo é uma categoria abstrata. É preciso entender que o usuário se articula de acordo com as redes das quais é submetido”, explica. Nessa ótica, Tatiana Gerhardt (Enfermagem-UFRGS) tratou a questão das práticas terapêuticas no apoio social e destacou a importância da necessidade de se conhecer estratégias para determinar o foco no usuário: “Do ponto de vista relacional, é impossível considerar a escolha do cuidado na redefinição das ações de saúde”. Ela comentou ainda a importância da produção científica sobre desenvolvimento social no país após a criação do SUS: “O Sistema Único de Saúde funciona também como um determinante social. O usuário utiliza o serviço, mas será que de fato tem acesso ao cuidado?” indaga.
César Favoreto (FCM-UERJ), integrante da mesa relacionada à questão da ética e técnica inerentes ao cuidado, destacou a importância das barreiras políticas e ideológicas para o ensino da integralidade. Além disso, comentou a dificuldade atribuída aos médicos para compreender valores significativos como questões culturais e o exercício da afetividade. “O médico deve compreender os aspectos culturais que envolvem o cuidado com o seu paciente, assim como precisa valorizar as dimensões afetivas que os envolve”.
Ana Heckert (PPGPSI-UFES), pontuou os desafios que se colocam após 20 anos de SUS e comentou que o enfoque das discussões que permeiam a questão da ética na integralidade tomou novos rumos após esse tempo: “Não podemos desconsiderar que muitos avanços foram produzidos, por essa razão, o tema desta mesa redonda é tão provocador. O SUS representa uma política de pública de resistência que propõe outros desafios”. afirma
Aluísio Gomes da Silva Jr (ISC-UFF), integrante da última mesa de debates do Seminário, apresentou os aspectos estratégicos utilizados na indução de políticas e destacou com motivação a questão do cuidado integral. Nesta mesma perspectiva, Cristiani Vieira discorreu sobre a responsabilidade do Ministério da Saúde, tendo em vista as práticas dos profissionais do setor e o modo como se articulam os serviços oferecidos: “Amplitude da agenda federal, diversidade de lógicas na formação de políticas e programas, além da distância entre a formulação nacional e as realidades concretas de implementação podem ser destacadas como alguns dos serviços que poderiam ser trabalhados”, informa.
A coordenadora do Seminário Roseni Pinheiro, reiterou as questões levantadas durante o evento e salientou a importância da consolidação do SUS como gestor dos saberes e práticas inerentes à integralidade “Todas as questões aqui tratadas no seminário nascem dos saberes e práticas gerados na consolidação SUS, o que nos desafia o tempo inteiro. Mas sempre entendendo que o Sistema Único de Saúde é uma política do Estado brasileiro, um projeto de sociedade que vem sendo materializado nas mais diversas formas, através de experiências com potência de inovação, considerando os contextos que se inserem. Por outro lado, não significa que superamos os desafios e dilemas de uma cultura política vigente – patrimonialista, que de todas as maneiras nega o caráter de defesa do Direito à Saúde como um direito de Cidadania e de afirmação da vida. O SUS tem essa tarefa coletiva de resistência às desigualdades, pois os seus princípios – dentre eles a integralidade.”
Seja o primeiro a comentar