XI Cidadania do cuidado

Redes sociais e usuários como atores da avaliação

IMG_1795A importância do usuário para a avaliação deu a tônica da segunda mesa apresentada no XI Seminário do Projeto Integralidade, "Redes cotidianas de cuidado: desafios e possibilidades de incorporação de redes sociais nas práticas avaliativas em saúde", que contou com exposições de Dario Pasche (DAPES/MS), Itamar Lages (UPE) e Francini Guizardi (EPSJV/Fiocruz). A coordenação do debate ficou a cargo de Aluisio Gomes da Silva Jr (ISC/UFF).

Debruçar sobre o sentido dos sujeitos, seus movimentos, suas redes e a relação no processo de avaliação de políticas públicas foi a proposta da exposição do Diretor do Departamento de Ações Programáticas Estratégicas do Ministério da Saúde Dário Pasche. "Me encanta o trabalho do Lappis, que não se resume à atividade acadêmica, mas tem produzido redes, com atores no campo e pessoas produtoras de conhecimento. No campo da gestão, a maior parte das produções nos últimos dez anos vem dos serviços. O Lappis é hoje um dos principais grupos que pesquisa em redes. É muito importante que a gente tenha capacidade para ampliar isso".

IMG_1799Pasche acredita que ideia de redes sociais não é nova no campo da saúde, mas ganha novos contornos no contexto atual das políticas públicas, em especial no campo da saúde. "Precisa de uma atenção nossa sobre o que estamos compreendendo por redes e que consequências metodológicas isso produz na gestão das próprias políticas públicas", disse ele, alertando para o risco de o conceito de redes virar um novo modismo, podendo acontecer o mesmo com os conceitos de humanização e dádiva.

Segundo o diretor do DAPES, a rede pressupõe uma intervenção também no campo da estratégia. "É possível que se consiga obter ações coletivas e políticas mais eficazes. Mas ideia e a ética que funda a noção de rede ultrapassa um sentido mais instrumental, situa-se no plano de outras percepções sobre possibilidades de interação social e vida em sociedade." No campo da gestão das políticas públicas, há uma noção de rede que funda novos sentidos na vida social e na interação entre pessoas, regidos por uma ética da solidariedade, igualdade e cumplicidade.

A inclusão das redes sociais no campo da avaliação das políticas de saúde vai exigir dois giros: um epistemológico e outro metodológico. Para pensar isso deve-se reconhecer que formulação, implementação, acompanhamento e avaliação de políticas públicas ultrapassa o terreno da gestão. Outros atores em redes, grupos e movimentos sociais compartilham e disputam esse espaço, e  produzem interferência no campo da saúde. "Há uma dupla dimensão: uma contempla a gestão pública e sujeitos com possibilidade de participar da avaliação. Outra é a construção de linhas que permitam essa participação. (…) Temos que pensar formas de fazer essa inclusão."

Nesse sentido, com a possibilidade de participar não só da proposição de políticas como também da avaliação, os usuários tem que ter outra relação para interferir no funcionamento dos serviços e suas práticas. "Avaliação passa a ter um ethos privilegiado de mudança de atitude, de ética, passa a ser menos um lugar de argüição e policiamento".

Por fim, Dário Pasche dissertou sobre a compreensão do próprio sentido de avaliação. "Temos compreendido avaliação como fora do campo de trabalho. Um especialismo que necessita de um especialista: um aval de fora do meu trabalho, que avalia o meu trabalho".Para ele, é necessário pensar a avaliação como componente do próprio trabalho. "Acompanhar, avaliar é ação de quem faz, quem executa esse trabalho, dos que freqüentam a cena. A avaliação pressupõe apreender e compreender a dinâmica de trabalho".

IMG_1804Itamar Lages (UFPE) contextualiza o panorama histórico do planejamento e cita modelos de avaliação, para destacar o que denomina como "terceiro estágio de pesquisas avaliativas": o estágio de avaliação, da mediação, sem uma interface autoritária. "A cidade de Olinda (PE) implantou esse método. Lá, é o próprio trabalhador que se avalia, e pode fazer um consenso para obter qualidade junto à equipe. O que Lappis e NUCEM têm trazido para essa discussão tem sido muito importante e pode ajudar a dar um giro para que a avaliação deixe de ser uma apenas uma negociação, para ser uma mediação de fato. Há muito que se estudar e pensar", refletiu. "O desafio atual é aprofundar a teorização sobre as redes sociais para que não caia em um modismo vazio e sem força".

Avaliação e rede de assistência

IMG_1806"Qual a potência da avaliação para ajudar a construir esse sistema de saúde?", questiona Francini Guizardi (EPSJV/Fiocruz). Para a pesquisadora, o cerne da questão está na contraposição entre os aparelhos e as dinâmicas das redes sociais. Por um lado, o conceito de aparelho ajuda a pensar e discutir as fronteiras dos serviços de saúde com o exterior e seu público – "há muita dificuldade de incorporar e expressar a voz e perspectivas de seus usuários, geralmente devido a uma gestão muito marcada por práticas autoritárias" – por outro, as redes "tem muito a ensinar sobre a avaliação".

Os atributos e a dinâmica das redes sociais podem influenciar mudanças na aproximação com campo da avaliação, pois o caráter integrativo, original, de construção de vínculo e pertencimento é oposto ao funcionamento das instituições de saúde. "Aproximação não significa construir novas redes avaliativas, mas pensar como essas redes de cuidado já estão construídas na sociedade e não conseguem entrar nas instituições de saúde. É necessário pensar aproximação entre praticas avaliativas e redes de cuidado para trabalhar a partir daí as implicações políticas na produção de novas institucionalidades, que no cotidiano das instituições de saúde são muito autoritárias".

IMG_1863Coordenador da mesa, Aluisio Gomes da Silva Jr (ISC/UFF) comentou que o debate teve como um dos objetivos "desmistificar a avaliação". "Prática avaliativa não é apenas a avaliação formal, são todas as práticas que usam coleta da informação em uma perspectiva de juízo de valor e tomada de decisão. Poucos valorizam isso como sua própria reflexão. Todos fazem isso mecanicamente para responder a alguém superior, que permite tomar decisões de fomento, por exemplo".

Silva Jr também falou da importância do usuário no processo de avaliação: "Há uma necessidade de colocar mais objetos de avaliação. Em que momento o usuário opina sobre isso? A rede de assistência também deve fazer parte da avaliação".

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