Projeto de Avaliação da Pós-Graduação em Saúde Coletiva: perspectivas da primeira reunião e a importância da pesquisa, por Maria Cecília Minayo
Nos dias 11 e 12 de março, foi realizada a primeira reunião do projeto “Avaliação da Pós-graduação na área de Saúde Coletiva sob a perspectiva dos atores, da cultura, das tendências e das várias formas de expressão acadêmica”, na Residência Oficial da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O estudo é coordenado pela Dra. Maria Cecília Minayo, que explicou detalhes do projeto com exclusividade para o BoletIN.
A primeira reunião do projeto “Avaliação da Pós-graduação na área de Saúde Coletiva sob a perspectiva dos atores, da cultura, das tendências e das várias formas de expressão acadêmica” foi realizada nos dias 11 e 12 de março, na Residência Oficial da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Além da coordenadora do Projeto, Dra. Maria Cecília Minayo, e da equipe de pesquisa, estiveram presentes no encontro o Presidente da ABRASCO, José da Rocha Carvalheiro, os vice-presidentes da associação, Madel T. Luz, Paulo Gadelha e Luis Augusto Facchini, o secretário executivo da entidade, Alvaro Matida, o representante adjunto da área de Saúde Coletiva da Capes, Ricardo Ventura Santos, as coordenadoras do Fórum de Coordenadores de Pós-graduação da área de Saúde Coletiva, Malu Bosi e Maria Novaes e representantes de 28 programas.
Aprovado no final do ano passado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o projeto tem como objetivo promover uma avaliação da pós-graduação na área no período de 1997-2007, que seja complementar à avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), e a abordagem de aspectos não-tratados por essa instituição, como a constituição do campo e seu desenvolvimento pelos Cursos; origem da demanda; conteúdos específicos; localização e atuação de egressos; qualificação da produção científica em suas várias formas de expressão e relevância dos programas para o Sistema Único de Saúde (SUS). A pesquisa tem uma proposta colaborativa entre vários pesquisadores renomados da área, que mantém o Fórum de Coordenadores de Pós-graduação da área de Saúde Coletiva (ver Box). Idealizadora da idéia e coordenadora da Avaliação, a Dra. Maria Cecília Minayo, explicou o projeto com exclusividade ao BoletIN.
BoletIN: O tema do projeto é “Avaliação da pós-graduação na área de Saúde Coletiva sob a perspectiva dos atores, da cultura, das tendências e das várias formas de expressão acadêmica”. De que forma se pretende conjugar todos os itens citados?
Maria Cecília Minayo: Este projeto visa promover uma avaliação da Pós-Graduação em Saúde Coletiva no período que compreende 1997 a 2007. Uma avaliação deste porte temporal e com tal nível de abrangência demanda o envolvimento de diferentes pesquisadores, de acordo com os objetos e suas especificidades. Neste sentido, o projeto original, debatido em um seminário realizado com pesquisadores sênior da área, ainda em outubro de 2007, definiu sete componentes fundamentais, com características complementares às avaliações feitas pela Capes. Tais aspectos constituem o escopo da ABRASCO enquanto associação que monitora, acompanha e promove o crescimento da pós-graduação da área, do ponto de vista epistemológico, dos conteúdos da formação e dos processos de inovação para a implementação do SUS. Nesse sentido, trabalharemos com sete subprojetos, cada qual com seu respectivo coordenador e equipe de pesquisa. São eles: 1. A Estrutura dos Programas e a Delimitação da Área; 2. Perfil do Corpo Docente; 3. Perfil do Corpo Discente; 4. Perfil dos Egressos; 5. Produção (Científica, Tecnológica e Inovação): dimensões quantitativas; 6. Produção (Científica, Tecnológica e Inovação): dimensões qualitativas; 7. Relevância Social – Impacto Não Bibliométrico.
Os temas escolhidos foram exaustivamente discutidos e permitirão produzir um quadro comparativo com a avaliação ocorrida há dez anos. No entanto, trarão elementos novos a partir de algumas questões filosóficas e de política técnico-científica que serão referências para as investigações específicas nos sub-temas. O impacto da Pós-Graduação na construção do SUS, a transformação do conhecimento em práticas do Sistema, os desafios da formação inter e transdisciplinar, a apropriação dos avanços do conhecimento biomédico e de novas linguagens metodológicas, a cooperação nacional e internacional e a internacionalização da formação e da produção científica são questões atuais que constituirão balizas transversais para a análise.
BoletIN: Por que da escolha do período de 1997 a 2007? Houve alguma mudança específica entre esses anos?
Maria Cecília Minayo: Tal delimitação temporal busca cobrir o período posterior à primeira avaliação, dando seguimento à mesma. Na verdade, esse é um limite temporal que cada subprojeto cumprirá levando em conta sua metodologia específica.
BoletIN: Qual a importância da pós-graduação em Saúde Coletiva no Brasil atualmente?
Maria Cecília Minayo: Muito poderia ser dito sobre essa contribuição. Mas podemos resumi-la em três aspectos sinérgicos. Para a Ciência e a Tecnologia do País, por exemplo, somos uma área dentro do amplo campo da medicina, com produção específica, com geração de tecnologias para o SUS; com várias revistas de circulação internacional; com programas de formação de recursos humanos em alto nível para o país, para alguns países da América Latina e da África; com inserção internacional por meio de nossas publicações, parcerias em pesquisa e dos Congressos que realizamos. Hoje a área acadêmica em Saúde Coletiva é totalmente dinâmica e bastante internacionalizada. Segundo Dr. José da Rocha Carvalheiro, Presidente da Abrasco, “a pesquisa em nossa Grande Área está definitivamente marcada na atualidade pela chamada “translação do conhecimento” ou KT (do inglês Knowledge Translation). Simplificando, estamos sob a égide da “medicina translacional”, tanto no âmbito da relação de pesquisa biomédica com a clínica, quanto no da definição de políticas e do funcionamento dos serviços. Nesse domínio, a modernidade está impregnada da chamada “medicina (ou saúde pública) baseada em evidências” e, então, a Saúde Coletiva assume sua função de maior relevo científico.
O segundo aspecto é para a Política de Saúde – não é uma totalidade, mas boa parte de todas as produções da área apresentam subsídios para a formulação, a gestão e a avaliação das Políticas de Saúde. Nisso se incluem artigos, teses, produções técnicas, consultorias e presença de pessoas da área em pontos chaves da gestão do SUS.
Finalmente, para os serviços de Saúde, o terceiro e último ponto. Geralmente os estudos, tanto de contexto, como os epidemiológicos e os planejamentos realizados na área tem viabilidade na prática dos serviços. Mas o papel mais importante dos Cursos de PG está na formação de pessoal altamente qualificado que hoje está presente tanto nos postos de mando como na prática local de gestão e de atendimento do SUS. Devemos dizer que a produção de dados concretos sobre o que foi discorrido aqui é tarefa para nosso projeto de Avaliação.
BoletIN: Na sua opinião, a quantas anda a qualidade dos cursos de pós em Saúde Coletiva?
Maria Cecília Minayo: A qualidade dos cursos é atestada por um processo rigorosíssimo de avaliação da CAPES que hoje tem credenciais de nível internacional nessa área de avaliação científica. Todos os programas que estão em funcionamento tiveram sua qualidade atestada.
BoletIN: Como avalia a primeira reunião do projeto, que aconteceu nos dias 11 e 12 de março?
Maria Cecília Minayo: Essa reunião teve dois objetivos cumpridos integralmente. O primeiro era socializar a proposta de avaliação com os coordenadores de pós-graduação e com o fórum do qual fazem parte, legitimando assim a pesquisa de acordo com os interesses do grupo. O segundo, era discutir a metodologia do todo e das partes com a colaboração dos coordenadores que estão na prática e sabem onde as questões pegam. A reunião teve o comparecimento de 42 participantes e pode ser considerada muita bem sucedida. Como sempre ocorre com eventos desse porte, a tendência dos presentes é sempre pedir mais, propor novas questões e ampliações. Nós temos limites de tempo, de formulação e de financiamento para atender a todos as propostas. Combinamos com os coordenadores que, na medida do possível nos ajudem, propondo temas de dissertações e teses que complementem o já traçado e aprovado como projeto pelo CNPq e pela CAPES. Nosso interesse é de não tolher as contribuições. Ao contrário, trabalhar com os vários atores e com as diversas possibilidades de aprofundar o campo em suas relações com o SUS.
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