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Portal LAPPIS entrevista Rossano Cabral Lima, novo vice-diretor do IMS

A nova direção do IMS/UERJ tomou posse no dia 01 de março para o quadriênio 2016-2020, com os professores Gulnar Azevedo e Silva e Rossano Cabral Lima.

Apresentação1A nova direção do Instituto de Medicina Social (IMS/UERJ) tomou posse no dia 01 de março, durante a Cerimônia de Posse dos Diretores das unidades acadêmicas. A Profa. Gulnar Azevedo e Silva do Departamento de Epidemiologia e o Prof. Rossano Cabral Lima do Departamento de Ciências Humanas e Saúde assumiram a direção do Instituto para o quadriênio 2016-2020.

 

Em entrevista ao Portal Lappis, o novo vice-diretor comenta sobre as perspectivas de atuação da nova gestão, a greve na UERJ, os desafios do Sistema Único de Saúde (SUS) e outros assuntos:

 

Portal LAPPIS: Quais são as principais perspectivas de atuação dessa nova gestão para esse próximo quadriênio?

Rossano Lima: Herdamos da gestão passada o que podemos chamar de uma herança bendita, ou seja, a nova gestão herdou uma casa arrumada e a nossa principal perspectiva é fazer com que o IMS evolua ainda mais e sempre preservando aquilo que a gestão anterior deixou para nós. Uma das nossas prioridades – e que foi sugestão de alguns professores na construção da nossa chapa, que teve apoio unânime dos docentes da casa – é promover, ainda este ano, um grande seminário com toda a instituição, para que seja possível elaborar um plano diretor de curto, médio e longo prazo para os próximos anos do Instituto. Isto se dá para que possamos pensar de fato não só no IMS do presente, mas também no IMS do futuro: está na hora de refletir o IMS não só para dentro, mas também para fora nesses próximos anos.

Outra proposta que pretendemos de certa maneira integrar às novas diretrizes do instituto é novamente ter no IMS professores que já saíram ou que já se aposentaram, convocando-os continuamente, quase que como um certo conselho consultivo, para auxiliar a pensar e repensar o papel do IMS.

Essas são algumas das perspectivas, mas é claro que a gente quer que a nossa instituição também continue avançando na sua relevância nas atividades de pesquisa e que tenha mais relevância no próprio cenário sanitário do Rio de Janeiro.

 

Portal LAPPIS: No ano de 2015 e agora em 2016, observou-se diversos cortes de verbas para pesquisa. De que modo estes cortes têm afetado a produção científica no Instituto?

Rossano Lima: Talvez não seja possível afirmar que já estão afetando diretamente. Mas a perspectiva é que venha afetar. Podemos citar, por exemplo, a situação do Prociência: apesar de não ter cortes de verba do programa, estão havendo atrasos nos repasses financeiros e nos pagamentos das bolsas dos pesquisadores. Então, somando isso com a possibilidade de corte de bolsas de iniciação científica e outros tipos de bolsas, eu acredito que pode causar interferência na produção. O IMS tem uma autonomia de pesquisa, já que o seu financiamento vêm de várias fontes, mas essa autonomia também tem limites, ela é relativa. Acho que de fato se essa situação persistir poderá acabar afetando diretamente as pesquisas. Além da questão quantitativa, no sentido do dinheiro que não chega, existe também a questão qualitativa, que interfere na atmosfera da pesquisa, no que se refere ao entusiasmo do profissional de pesquisa. Como citado anteriormente, estes bolsistas do Prociência – que  infelizmente ficam  vários meses sem receber por conta de atrasos nos repasses financeiros – são pessoas que trabalham e que necessitam do valor pago através da bolsa. A empolgação para o desenvolvimento dos trabalhos de pesquisa sofre com reflexo do clima tenso por todos esses profissionais por não poderem honrar com seus compromissos pessoais, e isso também se reflete de um modo muito negativo na instituição. Claro que a gente tem tentado resistir a isso da forma que é possível.

 

Portal LAPPIS: Como você vê a situação de greve na UERJ hoje?

Rossano Lima: Esta greve já se anunciava. Tivemos uma reunião com o comando da ASDUERJ (Associação de Docentes da Uerj) e eles já estavam em estado de greve há pelo menos seis meses, mas avaliando se havia possibilidade de resolver essas várias situações graves pelas quais a UERJ e o Hospital Pedro Ernesto estão enfrentando. Existem dificuldades em vários níveis e eu de fato acho que a greve dentro desse cenário é inevitável e completamente justa. O IMS decidiu aderir e apoiar a greve. Vamos adequar nosso calendário ao calendário de greve e, quando houver uma atividade importante no calendário de greve, suspenderemos as nossas atividades. Pretendemos acompanhar esse momento de greve e essa atitude do Instituto é uma maneira de mostrarmos o quanto entendemos que a greve é inevitável e justa. Dentro desse cenário, teremos que refletir sobre quais são as melhores estratégias políticas para que seja possível conseguir atender as várias demandas que tem sido reclamadas e que de fato boa parte delas são fundamentais para que se supere dificuldades estruturais que estão se colocando agora  diante de nós.

 

Portal LAPPIS: Quais são os principais desafios que o nosso Sistema Único de Saúde (SUS) enfrenta hoje e como o IMS pode contribuir para o seu fortalecimento?

Rossano Lima: Os principais problemas do SUS hoje são também resultado das suas principais virtudes, sendo que parte da concepção e da própria implantação do SUS contou com a participação importante de professores-pesquisadores aqui do IMS. O SUS é um projeto extremamente ousado, extremamente ambicioso, um sistema universal de saúde, projetado para um país de proporções continentais, mas é claro que isso também gera dificuldades, gera obstáculos, a medida que você vai ampliando serviços como o  SUS tem feito. Apesar de problemas graves de financiamento, o SUS tem tentado cada vez mais incorporar novas ações, novas estratégias, incorporar populações que não estavam incorporadas antes aos seus projetos. O IMS tem um papel importante, seja individualmente, onde nossos professores desempenham ou já desempenharam trabalhos junto ao SUS, ou do ponto de vista coletivo, onde estudos são feitos aqui no instituto pelos três departamentos de pesquisa – todos extremamente relevantes com impacto direto no SUS. O que eu acho que pode ser feito, mais do que já vêm sendo feito (e  isso é um compromisso dessa nova direção), é ter uma participação maior no cenário do SUS do estado do Rio de Janeiro e nos municípios do Rio de Janeiro. Acredito que nesse sentido é possível estar oferecendo mais para o cenário local em termos de implantação, avaliação e qualificação do SUS e dos profissionais que atuam no sistema para o benefício da população que usa o SUS.

                    

Rossano Cabral Lima é professor adjunto do Instituto de Medicina Social da UERJ. Formou-se em medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), com residência em psiquiatria e psiquiatria infantil pelo Instituto Municipal Philippe Pinel (UFRJ), mestrado e doutorado Saúde Coletiva pelo IMS/UERJ e doutorado sanduíche pelo Instituto Max Planck de História da Ciência (Berlim, Alemanha).

 

Entrevista realizada por César Augusto Paro e Rosária de Souza

Publicado: 09 Março 2016

 

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