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Panoramas e perspectivas no campo da Saúde Coletiva segundo Rita Barradas Barata

A coordenadora da área de Saúde Coletiva da CAPES participou da aula inaugural da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP-Fiocruz), onde dissertou sobre o panorama e as perspectivas para o campo. Em sua palestra, Barradas apresentou um conjunto de dados sobre a pós-graduação e a produção científica, além de discutir questões para o desenvolvimento da área.

ritabarradas.JPGCoordenadora da área de Saúde Coletiva da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Rita Barradas Barata apresentou a aula inaugural do ano letivo da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP/Fiocruz). Realizado na manhã do dia 5 de março, seu discurso reuniu dados sobre a pós-graduação, produção científica da área e uma discussão de questões para o desenvolvimento do campo, dentre as quais o fortalecimento do mestrado profissional, a distribuição regional e a internacionalização do estudo.
 
Ex-presidente da ABRASCO, Barradas iniciou a palestra ao comentar o conceito “Saúde Coletiva”, termo designado no final da década de 1970 para marcar a diferença da divulgação e produção de conhecimento científico a partir de pesquisas com a participação efetiva da sociedade. Em seguida, apresentou um estudo do CAPES centrado na pós-graduação brasileira. “Houve um aumento do número de cursos de pós entre 2003 e 2006, grande parte com conceito entre quatro (4) e seis (6), um aumento significativo de qualidade. Acredito que essa progressão das notas se deve, em parte, ao trabalho do fórum dos coordenadores”, comenta.
 
O número de alunos novos em pós-graduação também aumentou. “No entanto, o tempo médio de titulação tem de ser diminuído. O país não pode esperar para formar um mestre em cinco anos ou um doutor em 10. Ainda assim, a permanência no curso é alta, há poucas desistências. Muitos regressos da pós viram docentes”, disse, destacando que a grande parte desses títulos pertencem à região sudeste.
 
A produção de conhecimentos vem crescendo nas publicações científicas. Atualmente, há 593 grupos e 1944 linhas de pesquisa, divididos em 3204 estudantes e 1118 técnicos. “Curiosamente, essa é uma área genuinamente feminina, devido ao elevado número de mulheres nesse campo. A maioria tem entre 40 e 50 anos. Mas precisamos de pesquisadores mais novos também”, complementou a coordenadora do CAPES.
 
Cerca de 96,7% dos doutores tiveram produção bibliográfica entre os anos de 2003 e 2006, e 75,3% destes participaram de atividades de orientação. Trabalhos estes que foram divulgados em periódicos, com destaque para a PHYSYS(do Instituto de Medicina Social – IMS/UERJ), que reuniu muitas citações e possui maior vida média – facilitada pela permanência longa dos estudos teóricos.
 
Após apresentar os resultados das estatísticas, Rita Barradas fez um panorama com os desafios e perspectivas do campo da Saúde Coletiva. Comentou a necessidade da definição da área sob o ponto de vista de “campo de saberes disciplinares”, o embate área de aplicação versus características do objeto e as implicações das bolsas, financiamento e publicação. Destaque para a unidade do campo, no qual Barradas pediu atenção aos conflitos gerados pela Avaliação e o desmembramento dos mega programas. “É preciso privilegiar temáticas, e não apenas a disciplina em si. Fazer um recorte do tema, mas sem reforçar as divisões, para não segregar ainda mais. As ciências sociais na saúde têm de ser valorizadas”.
 
O fortalecimento do mestrado profissional também esteve em pauta nesse panorama. “Há a necessidade de permitir uma qualificação diferenciada, incorporar resultados, utilizar o conhecimento no cotidiano, e não somente para o saber acadêmico”. A distribuição regional dos grupos de pesquisa e formação apontou um déficit nas regiões Norte e Centro-Oeste e a sugestão foi que se fortaleça parceria com universidades locais a fim de reverter esse quadro.
 
No final da palestra, Barradas reafirmou a batalha do CAPES pela consolidação da área da Saúde Coletiva e do movimento em direção ao topo da avaliação. Defendeu também a ampliação da entrada de novos cursos, desde que estes primem pela qualidade do ensino. “O Brasil precisa de mais doutores do que se têm atualmente”.
 
 Roseni Pinheiro: “A exposição foi um avanço para a unidade do campo”
 
A coordenadora do LAPPIS Roseni Pinheiro considerou a exposição da professora Rita Barradas um avanço para unidade do campo. “Como ex-presidente da Abrasco, ela conhece a área e acredito que representará sua comunidade. As questões que aponta evidenciam os principais desafios e possibilidades de um campo que cresce, mas que não deve desconsiderar suas especificidades, sua historia. A Rita faz um diagnóstico preciso, justo e ao mesmo tempo desafiador de nossa área, afinal, são mais de 40 programas”, disse, em entrevista exclusiva. Para Roseni, ainda existem lacunas importantes de oferta nas regiões Norte e Centro-Oeste. “Barradas reconhece esse fato e mostra uma atitude propositiva ao tratar questões delicadas e caras a nossa área, como a própria avaliação dos programas. Combater a fragmentação é fundamental!” Sobre o destaque da PHYSYS, a coordenadora demonstra plena satisfação. “Fico muito contente, pois a PHYSYS é uma revista de tradição no campo da saúde coletiva. É uma publicação de vanguarda. Parabenizo os editores, em particular o prof. Kenneth Camargo Jr.e fico realmente feliz com o seu reconhecimento. Penso eu que todos os pesquisadores e docentes do IMS devem ficar orgulhosos com isso. É o compromisso de nossa universidade também, que se revigora, em que pese alguns desavisados acharem que a universidade é apenas uma “colina encantada”, afirma, ressaltando que a utilização das edições do IMS já vem sendo reconhecida na área, seja na publicação de livros – “Integralidade em Saúde” e “Gênero e Sexualidade” – e, seja na publicação de revistas, ,neste caso: a PHYSYS. “. Já estava na hora”.
 
Entenda o debate das publicações
 
A professora Rita Barradas apresentou os indicadores cienciométricos das revistas brasileiras de saúde pública e epidemiologia na base Scielo de 1999 a 2007. Nesta base, a PHYSYS tem a maior média de citação por artigo, de 2,87, que é seguida pela Revista de Saúde Pública (2,09),  Cadernos de Saúde Pública (1,78), e Ciência e Saúde Coletiva (1,07). Um segundo indicador é a vida média da referência. Aqui novamente a PHYSYS lidera, com o maior tempo médio (7,04 anos), seguida à distância pela Revista de Saúde Pública (4,95 anos), e Cadernos de Saúde Pública (3,92 anos). O terceiro indicador foi o de citações auto-recebidas, isto é, citações recebidas em artigos publicados na mesma revista. Novamente, a diferenciação substancial da revista PHYSYS: apenas 3,7 % das citações são auto-referidas. Isso significa que a PHYSYS é lida e citada em várias outras produções da área. Em um contraste, o Cadernos de Saúde Pública tem 58% das citações auto-referidas, enquanto a Revista de Saúde Pública tem 52,9%. Em seu discurso, a professora Rita Barradas destacou estas diferenças da PHYSYS, ressaltando que, devido às suas características, esta publicação vem contribuindo de modo decisivo na conformação teórica e conceitual da área.

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