XIII Seminário notícias

Seminário da Integralidade: Pablo di Leo

Confira entrevista com o pesquisador que participará do Seminário da Integralidade

Ao longo das últimas edições, o BoletIN vem trazendo entrevistas com pesquisadores que irão participar do XIII Seminário da Integralidade, entre13 e 16 de agosto, na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Cuiabá. Desta vez, conversamos com o professor Pablo Francisco di Leo, integrante da Área de Saúde e População do Instituto de Pesquisa Gino Germani, na Universidade de Buenos Aires (UBA). Pablo integra a mesa-redonda “(In)visibilidade social e a luta por reconhecimento de direito de ser: a produção do comum”.

Nesta entrevista,  o pesquisador antecipa um pouco da discussão que pretende levar para o Seminário e fala sobre visibilidade, reconhecimento e diálogo, no campo da medicina social e da saúde coletiva em seu país, ressaltando o intercâmbio que vem sendo realizado com outros países da América Latina, em especial, o Brasil.

Increva-se para o XIII Seminário da Integralidade, clicando aqui. E confira a programação completa.
 
BoletIN – O tema do XIII Seminário de Integralidade é “Construção Social da Demanda por Cuidado – revistando o direito à saúde, o trabalho em equipe e espaços públicos e participação”, que retoma um debate ocorrido na edição de 2005 dos seminários da Integralidade. Como vê a importância desse debate para as práticas de saúde coletiva e a elaboração de políticas públicas de saúde?
Pablo Francisco di Leo –Considero que o tema deste Seminário – que vem sendo realizado pelo Lappis-IMS reunindo diversas disciplinas, pesquisas e intervenções – é fundamental para a construção de novos sentidos e para a consolidação e o desenvolvimento de políticas públicas de atenção integral à saúde. Como demonstrado por diversas experiências, estudos e reflexões – fundamentalmente no campo da medicina social no Brasil –, uma das estratégias mais efetivas para ampliação dos significados e das políticas em torno dos procesos saúde-doença-atenção (para além dos sentidos biomédicos que ainda hoje seguem hegemônicos) consiste no reconhecimento e diálogo com as múltiplas vozes, experiências, trajetórias, reflexões e demandas dos sujeitos – individuais e coletivos – que participam nesses proceso a partir de diversos contextos e posições sociais, econômicas, políticas, de gênero, de geração, étnicas e culturais. Somente a partir da progressiva ampliação deste reconhecimento e diálogo intersubjetivo poderão ser contruídas novas práticas e políticas de saúde coletiva para garantir o direito ao cuidado integral à saúde em nossas sociedades.

BoletIN – Durante o Seminário, você vai estar presente na mesa de debates: “(In)visibilidade social e a luta por reconhecimento de direito de ser: a produção do comum”. Como esse tema será abordado na sua fala?
Pablo di Leo –Em minha exposição, apresento resultados de dois projetos de investigação desenvolvidos recentemente sob minha orientação, onde, a partir de relatos biográficos construídos com jovens de diversos bairros vulneráveis da Área Metropolitana de Buenos Aires, são analisados seus processos de individualização. Partindo de uma breve análise em torno dos vínculos entre juventude e violência – em suas dimensões estrutural, institucional e situacional – desenvolvo as principais experiências em torno das mesmas relatadas pelos jovens, tomando-as como analisadoras de seus processos de vulnerabilidade, invisibilidade social, negação e luta pelo reconhecimento – retomando trabalhos de investigadores do Lappis-IMS. Considero que a articulação entre esses dados e ferramentas conceituais podem contribuir para o desenvolvimento de práticas e políticas de saúde coletiva dirigidas à visibilidade e reconhecimento de subjetividades, vulnerabilidades e práticas de cuidado de jovens em contextos de marginalização urbana.

BoletIN – É possível pensar hoje numa produção do comum sem passar por um atento cuidado aos sujeitos e às populações?
Pablo di Leo – A construção de um comum, um verdadeiro espaço público, requer hoje práticas, políticas e instituições que incidam sobre a visibilidade, o reconhecimento e o diálogo com os diversos sujeitos e populações. Somente a partir da construção e ampliação dessa polifonia se poderão ampliar os significados e assegurar o acesso ao direito e ao cuidado integral à saúde para todos em nossas sociedades.

BoletIN – Como essa temática vem sendo discutida em seu país? Que exemplos de projetos podem ser citados como referências para essa discussão?
Pablo di Leo –Na Argentina, o campo da saúde coletiva e da medicina social atualmente é frágil e fragmentado, apesar de importantes antecedentes nas décadas de 1950 e 1960. Articuladas com diversas políticas voltadas para a fragmentação e a mercantilização do sistema de saúde, foram sendo construídas abordagens teórico-práticas hegemônicas centradas em concepções substanciais, atomizadas e biomédicas sobre saúde, doença e atenção. Assim é que, a partir do início do século XXI, começam a ser retomados e articulados conceitos e experiências desenvolvidas na Argentina e em outros países da região – principalmente no Brasil – em pesquisas e intervenções interdisciplinares a partir de diversos espaços acadêmicos e políticos, entre os quais podemos mencionar: a Revista do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Nacional de Lanús; a Área de Saúde e População do Instituto de Pesquisas Gino Germani, na Univerisade de Buenos Aires (UBA); o Coletivo Saúde e Sociedade; a Cátedra de medicina Preventiva e Social, da Universidade Nacional de Rosário; a Cátedra Aberta de Saúde Coletiva, da Universidade Nacional de Mar del Plata, entre outros. No entanto, ao contrário do Brasil, a articulação entre as pesquisas e propostas acadêmicas e as leis, instituições e políticas de saúde pública são ainda bastante frágeis. Talvez como uma única exceção, posso mencionar o recente debate e sanção da Lei Nacional de Saúde Mental, nº 26.657, que atualmente se encontra em fase de regulamentação.

banner_vert_xiiisem_2.pngBoletIN – Para concluir, qual sua expectativa para o Seminário deste ano e como avalia esse encontro de profissionais, pesquisadores, gestores e estudantes em saúde que vem acontecendo ao longo dos últimos 11 anos?
Pablo di Leo –Como nas outras ocasiões em que tive a sorte de participar do Seminário da Integralidade, minhas expectativas são muito positivas e amplas. O Seminário se constituiu, ao longo dos anos, como um verdadeiro espaço público onde se encontram estudantes, profissionais, pesquisadores, usuários e funcionários do campo da saúde coletiva de diversos contextos e regiões do Brasil, debatendo, ampliando e articulando múltiplas linhas de investigação e reflexão que constituem insumos valiosos para a ampliação e consolidação das políticas voltadas ao acesso à saúde integral de todos os sujeitos, individuais e coletivos, no Brasil. Além disso, a partir do vínculo que vimos construindo nesse espaço durante os últimos anos entre Lappis-IMS, coordenado por Roseni Pinheiro, e a equipe de pesquisadores e estudantes de pós-graduação que integro na Área de Saúde e População do Instituto de Pesquisa Gino Germani, na UBA, fomos trocando, construindo e articulando projetos de pesquisa que considero que estão contribuindo para o crescimento do campo da medicina social e saúde coletiva na Argentina. Esse intercâmbio terá uma de suas expressões mais importantes em 2014, com a realização do Seminário da Integralidade pela primeira vez em nosso país.

Informações Gerais:

XIII Seminário da Integralidade: Construção Social da Demanda por Cuidado

Onde:Cuiabá (Universidade Federal de Mato Grosso e Hotel Fazenda Mato Grosso)

Quando:de 13 a 16 de agosto

Inscrições gratuitas: https://www.lappis.org.br/site/inscricao-xiii-seminario.html

Confira a página do Seminário: https://www.lappis.org.br/site/eventos/xiiiseminario.html

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*