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O que deu certo: Hospital Sofia Feldman

Fachada Sofia FeldmanA articulação entre serviços de saúde e organização na gestão fazem do Hospital Sofia Feldman, em Belo Horizonte (MG), um exemplo do SUS que deu certo. O que faz uma mulher de classe média, que paga mensalmente um bom plano de saúde, optar por ter seu filho em uma maternidade da rede pública? A resposta é simples: atendimento humanizado. Criado em 1982 o hospital tornou-se referência em realização de partos normais com o mínimo de intervenção mecânica possível, além de ser um pólo de assistência humanizada para gestantes e familiares. O Sofia dá voz às mulheres. São elas que decidem se querem ou não ser anestesiadas, em qual posição preferem dar à luz e qual música ou ambientação desejam ter. Bola de pilates, banquinhos, banheira e chuveiro são alguns dos recursos disponíveis para oferecer as melhores condições na hora do parto.

Júlia Cristina Amaral Horta, psicóloga, coordenadora do setor de psicologia do hospital falou sobre trabalhar em um ambiente de valores institucionais humanitários.Confira:

– Fale um pouco da rotina do Sofia e dos procedimentos que aproximam pacientes e profissionais.

A assistência humanizada ao parto e nascimento é um valor institucional na maternidade do HSF desde sua criação e para ser exercida acredita-se que algumas estratégias são necessárias, como a avaliação cotidiana da assistência pelos usuários. Assim, todos os dias da semana são realizadas duas reuniões com os usuários para que eles falem da assistência recebida: reunião com os acompanhantes todas as manhãs e com as puérperas à tarde. Na primeira, além de avaliar a assistência os acompanhantes recebem informações e falam das suas experiências. Na segunda, as puérperas são convidadas a falar como foi a sua experiência de parto, a assistência recebida e como está o aleitamento materno, que balizarão algumas reflexões sobre questões relevantes do parto e nascimento e, ao final elas recebem orientações sobre cuidados no puerpério e com o recém-nascido.

– Muitas pessoas dizem que deve existir uma barreira entre médico/profissional e paciente, para que as cargas emocionais não afetem a vida do profissional. Em uma instituição que tem a filosofia humanitária há a quebra dessa barreira? Como você lida com isso?

Acredito que a assistência hospitalar pode significar potência para nós profissionais da área de saúde repensarmos as relações estabelecidas entre medico/profissional e paciente, inclusive para revermos o uso da palavra “paciente”. Minha prática como psicóloga hospitalar possibilitou-me compreender que este distanciamento tornou-se uma justificativa para não ter que envolver, implicar, solidarizar, ser empático com outro ao qual eu estou cuidando. Atualmente, estudos sobre a saúde dos profissionais da saúde apontam que esta prática ao contrário de proteger é, na realidade, uma fonte de adoecimento, no sentido que ela desumaniza quem cuida. Vejo ainda, que quando eu vejo o usuário na sua alteridade, o meu envolvimento com ele é saudável e benéfico para ambos e, sobretudo, fortalece a filantropia e o modelo humanista da assistência.

– Alguns teóricos acham inadmissível a mulher sentir uma dor absurda na hora do parto em pleno século 21. No Sofia existe algum programa ou orientação para que a mulher saiba conviver e suportar essa dor? Ou, dependendo da sensibilidade a anestesia é indicada?

Eu acredito que nós mulheres precisamos parar de fugir e mascarar o tema DOR NO PARTO, pois ela faz parte do processo de parturição e é vivida singularmente e de acordo com uma história de vida e contexto gestacional. Assim sendo, considero que para se sentir segura e ter um bom parto, toda mulher precisa ser bem acolhida, escutada, orientada, respeitada, apoiada por todos que se fizerem presentes na cena do parto e nascimento, ter acesso aos métodos não farmacológicos e se ainda necessário, os farmacológicos para o alivio à dor. A sociedade precisa entender que o bom parto não é o parto sem dor, mas aquele que a mulher possui segurança, é apoiada. Assim ela pode lidar com a dor deforma saudável. O grupo para gestantes, a meu ver, é a melhor estratégia para lidar com os temores do parto,  pois promove reflexões e orientações sobre o processo saudável do parto. No Sofia, no momento, não estamos realizando estes grupos, as orientações são passadas durante o pré-natal que realizamos na instituição e nas enfermarias de pré-parto, após a internação.

– O trabalho prévio e integrado, onde são ouvidos os problemas das mulheres, seus incômodos e dores diminui o risco na hora do parto? Fale um pouquinho sobre a importância de se integrar serviços e profissionais.

Antes de começar a trabalhar no Sofia, minha prática por quinze anos foi o trabalho prévio, grupo com gestantes e “casais grávidos”. Assim, valorizo muito esta prática, mas essa também me permitiu avaliar, que por melhor que seja este trabalho de preparação para o parto, ele perde o sentido se os profissionais que promovem a assistência no momento do nascimento não escutarem a atenderem as demandas da parturiente. Esta questão foi que me levou à desejar trabalhar dentro da Maternidade. Sem dúvida alguma, eu afirmo que a integralidade do cuidado na saúde perinatal demanda a integração de uma equipe multiprofissional, que valorize para além das questões fisiológicas, as necessidades psicossociais da mulher que vivencia este momento crítico e importantíssimo do ciclo vital.

O Ministério da Saúde, em parceria com a Rede HumanizaSUS, produziu um documentário sobre a rotina e os métodos de atendimento do Hospital Sofia Feldman. Acesse o link (infelizmente só está disponível baixa qualidade):

http://www.youtube.com/watch?v=P8w-C-DTXGk

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