“Mudança” foi a palavra-chave do último Grande Debate do 7º Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas em Saúde, promovido pela Abrasco, em Cuiabá (MT), nos dias 9 a 12 de outubro. Para iniciar esta reportagem, fui em busca do significado da palavra “mudança”: “é o ato ou efeito de mudar, de dispor de outro modo. É um substantivo feminino que dependendo do contexto que se emprega pode ter diferentes sentidos.
Mas o sentido esteve bastante claro nas falas dos debatedores Roseni Pinheiro (IMS-UERJ), Gastão Wagner (presidente da Abrasco), Luis Eugenio Souza (ISC-UFBA) e Alcides Miranda (UFRGS), com mediação de Marta Gislene Pignati (UFMT). Sentido este que se faz necessário começar com o urgente efeito de mudar que é preciso engendrar no contexto da participação da mulher em debates como este, como ressaltou Roseni Pinheiro, a única mulher a debater o tema proposto do Grande Debate “Sociedade, subjetividade e saúde: desafios do SUS em tempos de crise democrática”. “Um dos desafios do SUS é, com certeza, encarar numa composição de mesa [do Grande Debate] as questões de gênero e de etnia um pouco desequilibrada”, disse, antes dos aplausos da plateia. Mudar, como sabemos, tem diferentes sentidos. As significações do “dispor de outro modo” estiveram presentes nas formas, nos discursos, nas palavras, nas manifestações do público.
E persisto na ideia de “mudança” como fio-condutor nas falas dos debatedores em torno do tema proposto. Seja na proposta de reinvenção do SUS apresentada por Gastão Wagner, com um teor de “é preciso mudar o que está posto e ampliar o sentido da Saúde Coletiva”; seja no contexto do pensamento de Luis Eugenio sobre o tema, afirmando que houve êxitos alcançados pelo Sistema Único de Saúde decorridos de duas inovações [mudanças] trazidas pela Constituição, sobretudo, a descentralização da gestão da saúde e a participação social; e ainda somados a esses dois discursos significativos, Alcides Miranda apresenta uma contextualização bastante categórica e esclarecedora para reforçar um outro sentido de “mudança”. Segundo Alcides, vivemos num país que têm ciclos de regimes de exceção, de preponderância desses regimes de jurisprudência seletiva, “a justiça que olha só para um lado, a justiça de um olho só”. Esses ciclos, como explica Alcides, estão muitas vezes alternados por ciclos de expansão de direitos sociais, direitos políticos, direitos individuais, políticas sociais e, muitas vezes, esses ciclos apresentam transições conservadoras [mudanças?]. “Muda-se para que tudo permaneça como está”, disse, citando uma frase do Il Gattopardo, do Di Lampedusa.
Inspirada nas contribuições de Hannah Arendt em sua obra “a Vida do espírito”, Roseni propõe a discussão sobre o “Espirito do SUS”. Roseni entende que esse é o princípio da integralidade, que como ação, deve constituir o imperativo categórico capaz de reconciliar o pensamento e a ação em todas atividades na saúde. “Trata-se de uma ética orientada por mediações intersubjetivas e inter-objetivas, tornando visível uma trama traçada pelas relações sociais no tempo, envolvendo as ações dos indivíduos, a construção de identidades pessoais e coletivas, além de estruturas. O ‘Espirito do SUS’ deve nos encorajar a pensar a crise e um novo início de sua reconstrução”, ressaltou.
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