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Metodologia de análise de redes do cotidiano: o sujeito como porta-voz

O professor, pesquisador e coordenador do NUCEM (Núcleo de Cidadania/UFPE) Paulo Henrique Martins implantou, em estudos recentes, a Metodologia de Análise de Redes do Cotidiano (MARES). A idéia é que a prática seja aplicada em pesquisas centradas no usuário e na formação de suas redes sociais.

A necessidade de aprofundar a discussão das redes sociais em saúde levou o professor Paulo Henrique Martins (Universidade Federal de Pernambuco) a implantar um novo método de pesquisa: a Metodologia de Análise das Redes do Cotidiano, ou simplesmente MARES. O também coordenador do NUCEM (Núcleo de Cidadania/ UFPE) integrou o LAPPIS para realizar um estudo multicêntrico sobre os itinerários terapêuticos sob o prisma da metodologia de redes.

 
A metodologia objetiva analisar a formação de redes sociais no cotidiano em diferentes planos (família, vizinhos, amizades). Essas redes podem, no entanto, apresentar ruídos e não funcionar como deveriam devido a traumas, conflitos e bloqueios. Para Paulo Henrique, esse é o ponto de partida do MARES. “As redes estão sempre em mutação e se organizam em vários níveis da vida social. Se algo não vai bem, precisa ser investigado – e não apenas relatado – como experiência do cotidiano”, diz. “Precisamos entender como funciona a pedagogia do cotidiano, porque e como as redes se reorganizam”.
 
Dessa forma, Martins crê que o MARES seja fundamental para a avaliação centrada no usuário, ao investigar como ele se organiza na sociedade. Ele qualifica o método como fenomenológico e construcionista, no sentido de que “é um modo de construir a realidade social da esfera pública”. Para ele, os modelos atuais de análise baseados em redes são simplificados, não dão conta da complexidade da realidade. “Existem modelos ‘simplificadores’ de avaliação, que reduzem toda a questão das redes às estratégias individualistas. É preciso ‘descolonizar’ o pensamento sobre redes”.
 
Um dos primeiros esforços de Paulo Henrique Martins em compreender a complexidade dessas redes está registrado no artigo “Redes de Vigilância em Saúde”, do livro “Redes Sociais em Saúde”. No texto, propôs a divisão de redes em três níveis: sócio-técnica; governança (articulação do governo com a sociedade civil) e sócio-humana (as redes familiares e de vizinhança). “A partir desse trabalho, percebi que poderia aprofundar a discussão sobre o assunto”, afirma.
 
Oficina técnica apresentou resultados desenvolvidos a partir do MARES
 
Nos últimos dias 19 e 20 de março, foi realizada uma oficina técnica no Rio de Janeiro para apresentar os primeiros resultados de pesquisas que utilizaram o MARES. O encontro reuniu os pesquisadores Elysângela Dittz Duarte, Tatiana Coelho (ambas do Hospital Sofia Feldman, em Belo Horizonte, no projeto Incubadora da Integralidade), Tatiana Gerhardt (Universidade Federal do Rio Grande do Sul/ UFRGS), Edna (UFJF), além de Roseni Pinheiro e Aluisio Gomes Junior (UFF).
 
Para Elysangela Dittz e Tatiana Coelho, o MARES permite não apenas centrar a avaliação no usuário, como também utiliza-lo na forma de gestão do cuidado na instituição (no caso, o Hospital Sofia Feldman). “Transferiu a questão somente do profissional e do processo de trabalho e trouxe o usuário como o sujeito principal da pesquisa, o porta-voz, o que é importante”, afirma Tatiana.
 
Representando a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Tatiana Gerhadt acredita que o MARES conecta e compreende as redes desde um nível particular até macrossocial, e enxerga como o indivíduo consegue atuar e pressionar o sistema no qual ele está inserido. “Utilizar essa metodologia proporciona uma ampliação do olhar no usuário, que permite ser aplicada em diferentes locais, e trazer a riqueza, diversidade e as especificidades de cada um desses locais”.
 
Aluisio Gomes Junior, por sua vez, destaca que o diferencial do MARES é inserir outros campos disciplinares, como a antropologia e sociologia, para discutir a questão das práticas avaliativas. “A importância desse método é conseguir trabalhar com novas formas de interferir em políticas públicas a partir da ótica da integralidade – ampliando a noção de Direito e cidadania – para que possa contribuir concretamente na participação e controle social, com uma visão nova da gestão, mais dialógica”.
           
Roseni Pinheiro, coordenadora do LAPPIS, destaca a construção coletiva da própria metodologia. “O MARES é uma metodologia constrututiva e dialógica, e tem sido, como próprio Paulo diz, uma construção coletiva, com aperfeiçoamentos constantes em cada encontro das oficinas”. Para ela, a parceria Lappis e NUCEM está sendo muito profícua. “Aprendemos mutuamente. É uma base interessante para a Incubadora da Integralidade e outras propostas interinstitucionais que já estamos aplicando. Não existe o teórico para um trabalho e o empírico para outro. A professora Cecília Mynayo destaca isso em seus trabalho e produções até hoje. É desse ethos público que nos une, nos alimenta em nossas discussões e produções. É um processo muito agradável, leve e feliz”.
 
 

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