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Lappis realiza oficina de trabalho para cooperação técnico-científica no Acre

IMG_0144Um grupo de pesquisadores do Lappis esteve em Rio Branco (AC), entre os dias 16 e 19 de julho, em uma oficina de trabalho na Fundacre (Fundação do Estado do Acre) para o desenvolvimento de projetos de incentivo à pesquisa, formação e qualificação dos trabalhadores. A iniciativa é parte do plano de trabalho do grupo para 2011-2012 com a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/FIOCRUZ). (Foto: Bruno Stelet)

“O Lappis foi convidado pela Secretaria Municipal de Saúde do Acre para discutir algumas questões que estão colocadas como dilemas da gestão hoje no Brasil, que no Acre se apresenta da mesma forma”, informa Felipe Machado, coordenador do Laboratório de Educação Profissional em Atenção à Saúde (EPSJV) e pesquisador do Lappis. “Temos discutido bastante a questão da formação em saúde, formação dos trabalhadores. No Brasil, há uma dificuldade no serviço no sentido de levar à frente coisas que foram discutidas, pactuadas. Ficou bastante clara a importância de se pensar isso nos momentos em que tivemos uma discussão coletiva com as Secretarias Municipal e Estadual”.

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O grupo, composto pela coordenadora do Lappis Roseni Pinheiro, Francini Guizardi (EPSJV/FIOCRUZ), Bruno Stelet, Rodrigo Pinheiro (UFAC), além de Felipe Machado, levou algumas propostas ensino e pesquisa ao município, entre elas o CDG-SUS. “É uma proposta de ensino que conciliaria os anseios da população local, integrando as especificidades do Acre – não dá para desconsiderar que é uma região de difícil acesso, distante, cara para ir ou morar”. Ele também relata que existem dificuldades para conseguir mão de obra qualificada no estado. “O grande desafio hoje e a proposta de formação que estamos levando para o Acre é composta por isso. O trabalhador que faz, é o trabalhador que pensa. Pensa e realiza dentro de um processo reflexivo e dialético. Essa é uma barreira que está colocada para o capitalismo que se reflete dentro das instituições de saúde. Principalmente  em uma instituição de saúde que tem um aspecto hierárquico muito forte, a figura do médico, que é alguém que tem um domínio de um saber e poder muito forte. Por outro lado, não é a maior presença no serviço de saúde. As maiores forças de trabalho são os trabalhadores que não tem esse mesmo poder, mas que são responsáveis pela execução e levar à frente as propostas de saúde”.

Para Machado, existe uma tensão evidente no Acre entre o modelo ideal da atenção à saúde e a prática eficaz. “Existe um modelo que é direcionado para o Brasil, que é um país altamente heterogêneo, que no Acre se evidencia muito mais contraditório: pela sua localização, pelas dificuldades de profissionais, de acesso, mesmo dentro do estado. A pesquisa que apresentamos tem a intenção de conseguir captar essas especificidades com os trabalhadores locais e superá-las”, complementa.

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O pesquisador também chama atenção para a lógica de organização dos serviços de saúde que chama de ‘lógica programática’, que o Lappis está tentando montar uma linha de investigação mais profunda. “Nós destacamos, e os trabalhadores reconhecem, que é uma lógica importante de funcionamento, mas que em determinado momento exclui algumas pessoas: se existe tem um programa de atenção à saúde da mulher, e outro de negro, em que programa uma mulher negra, ex-presidiária, homossexual se encaixa? É uma atenção setorizada, o modelo de assistência a vê de forma compartimentada. Esse é um desafio que está colocado para o sistema de saúde hoje no Brasil e que estamos nos propondo a discutir com os trabalhadores e gestão locais”.

A visita do grupo também incluiu uma ida à Maternidade Bárbara Heliodora, considerada referência em Rio Branco. “Existem aspectos maravilhosos na política. É evidente, para quem esteve lá, há alguns anos atrás, e vê hoje, houve uma mudança muito grande na cidade. Tivemos a oportunidade de conhecer a maternidade, que não deixa nada a desejar para a grandes maternidades do Rio de Janeiro, por exemplo”.

Há uma proposta de humanização nessa maternidade. Com o intuito de referenciar com uma subjetividade local, os berços têm possibilidade de colocar uma rede, aludindo a um hábito das populações ribeirinhas. O hospital passou por uma reforma, mas a estrutura arquitetônica original foi preservada para manter a história do lugar. As janelas das enfermarias têm acesso para um pátio com jardim. Há uma classe escolar e área de recreação infantil para as crianças que estão em tratamento no local. “São pequenos detalhes, mas que mostram o profundo respeito que tem pela população, que, afinal de contas, é o mais importante no SUS. É isso que dá a característica humana e o compromisso com a população. Essa é a materialização de uma teoria que já estamos discutindo há algum tempo”, finaliza.

Feira de Saúde e 5ª Conferência Municipal de Saúde: A verdadeira cidadania do cuidado

A Feira de Saúde e a 5ª Conferência Municipal de Saúde na Regional 3, realizada em 17 de julho em Rio Branco (AC), também recebeu uma visita do grupo do Lappis, que também foi apresentado no local. O evento realizou conjunto de ações de prevenção, consultas e exames laboratoriais e prestação de serviços ligados ao desenvolvimento social e cidadania, como a atualização do cadastro no programa Bolsa Família, e antecede a Conferência Municipal de Saúde, que está prevista para ser realizada nos dias 12, 13 e 14 de julho.

conferencia_saude_adonay_melo_site3“Foi impressionante. Fiquei muito emocionada. Nos lugares mais distantes, o SUS acontece”, relata a coordenadora do Lappis, Roseni Pinheiro. “Olhar aquelas 26 ONGs, de portador de deficiência, pacientes com ostomia, dependentes químicos, casa de passagem (TFD/Tratamento fora de Domicílio), foi muito emocionante. Vi o tanto e o quanto que a sociedade civil se mobiliza, mesmo nos lugares mais recônditos. Essa ideia de ter a Feira de Saúde é de dar visibilidade a essa produção, essa construção. É a verdadeira cidadania do cuidado”, afirma. “É muito interessante ver o Conselho Nacional de Odontologia, por exemplo, participando como voluntariado, que é uma área que geralmente participa de grandes congressos. Isso precisa ser divulgado”.

Durante a conferência, foram criados nove conselhos populares de saúde. “A última vez que vi isso foi na Reforma Sanitária, na década de 80, quando era estudante. O SUS e a integralidade como princípio são possíveis, e o princípio só existe como ação”. IMG_9905

 

 

Confira mais fotos no Facebook do Lappis!

Leia a matéria que foi publicada no site da Prefeitura de Rio Branco sobre o evento.

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