Notícia

Lappis Museu Bispo do Rosário

altNa edição mais recente do BoletIN, tivemos uma prévia do que acontecerá na exposição Singularidades, fruto de uma parceria firmada entre Lappis, Museu Bispo do Rosário e Laps. O projeto, que visa otimizar o relacionamento dos usuários do sistema de saúde mental com o mundo e tenta admitir inserções destas pessoas dentro da sociedade que tanto as reprime e discrimina, terá mesas redondas onde serão abertas discussões que vão tratar da importância da valorização da arte, no cuidadodaqueles que utilizam os serviços voltados para a saúde mental.

Segundo Ricardo Aquino, um dos curadores da  exposição, esse evento é de total singularidade, como o próprio nome diz: “É importante poder fazer uma exibição dos usuários de Paracambi, para mostrar que mesmo nas condições de horror de um campo de concentração de eliminação física e total desrespeito a dignidade humana, os usuários ainda mantêm uma capacidade de criar e sobrevivem mesmo em condições adversas. A exposição é fundamental no sentido de auxiliar no testemunho da passagem destes usuários que deixaram um registro através da criação artística dessa dimensão humana. E é muito importante que se valorize a criação dos usuários, pois esta representa na verdade, a luta pela cidadania plena destas pessoas”. Afirma o curador que destaca ainda o fato das obras não terem recebido nenhum tipo de retoque, ou incentivo para que se tornassem realidade, a não ser o talento dos artistas: ”São criações que não foram objeto de tratamento nem de ações humanitárias que ocorreram na Clínica Dr Eiras, ao contrário – a instituição era um campo de horror. Mesmo nestas condições o ser humano se manifesta e se nós trabalharmos numa perspectiva da reabilitação psicosocial, eles podem ser perfeitamente integrados a vida social.”

A importância de mostrar que os usuários podem sair da condição de pacientes e passar a artistas em potencial, criadores com plena capacidade é o que incentiva os idealizadores da exposição. Essa questão é somada a idéia de agregar a oportunidade de apresentar a exposição dentro do VIII Seminário Integralidade, que trará à luz reflexões de intuito científico e também cultural. Para Ricardo Aquino, o evento servirá ainda para gerar certa conscientização da sociedade com relação aos que estão aos cuidados da saúde mental: “As condições da sede da Clínica Dr. Eiras foi objeto da intervenção sanitária e está com data de fechamento prevista por exigência  do ministério público. Por isso, nós do Museu já acompanhamos esses processos há alguns anos e tomamos através do comodato o cuidado das obras dos criadores de Paracambi.”

Embora o acervo completo congregue 248 obras, o curador conta que houve grande dificuldade em selecionar um conjunto coeso para ser apresentado.”O conjunto das obras é muito expressivo, a dificuldade é selecionar um conjunto harmonioso para ser exibido. Vai depender do olhar das pessoas. Cada obra em si é uma gota de lágrima e uma pegada de sofrimento e são sempre muito expressivas artisticamente”. 

A exposição é parte da divulgação do documentário que tratará a questão da vivência do usuário relacionada a formas terapêuticas de cuidado.

altSegue abaixo na íntegra, a entrevista com Ricardo Aquino – curador do museu Bispo do Rosário
Como surgiu a parceria Lappis Museu Bispo do Rosário? 

A idéia surgiu pela confluência de preocupações e interesses na luta da reforma e tem como tema a iniciativa de fazer um documentário na intervenção do campus Doutor Eiras, questão a muito tempo acompanhada pelo Museu Bispo do Rosário. Por essa razão, houve uma confluência de preocupações, interesses  e reflexões a cerca da questão que envolve a reforma psiquiátrica. 

Como surgiu a idéia de trazer para a UERJ a exposição Singularidades? 
A idéia veio para reforçar a visibilidade ao lançamento do documentário e as discussões referentes à saúde pública e psiquiátrica. No caso, as condições da sede do hospital Dr Eiras em  Paracambi (RJ), foi objeto da intervenção sanitária e está com data de fechamento prevista por exigência  do ministério público. Logo, acompanhamos esses processos há alguns anos e tomamos através do comodato, o cuidado das obras dos criadores do hospital. O museu bispo do rosário cuida das 248 obras e juntou a oportunidade de apresentá-las dentro de um seminário de reflexão (VIII Seminário Integralidade) que possui um  lado cultural, político e científico. 

Como esta iniciativa pode auxiliar no cuidado dos usuários da saúde mental? 
É importante poder fazer uma exibição dos usuários de Paracambi, para mostrar que mesmo nas condições de horror de um campo de concentração de eliminação física e total desrespeito a dignidade humana, ainda se mantenha a capacidade de criar e sobreviver mesmo em condições adversas. A exposição é importante como um testemunho da passagem destes usuários que deixaram um registro através da criação artística de grande dimensão humana. E é muito importante que se valorize essa dimensão da criação dos usuários que estão na luta por sua própria cidadania plena. Foram criações que não foram objeto de tratamento nem de ações humanitárias que ocorreram no Dr. Eiras, ao contrário. Ainda assim, se nós trabalharmos numa perspectiva da reabilitação psicosocial, os usuários podem ser perfeitamente integrados à vida cotidiana.

Qual foi o critério de escolha das peças que serão expostas no evento? Alguma obra merece destaque? 
O critério adotado é o critério da qualidade artística e cada obra exprime a qualidade que ela tem de repercutir no visitante. Então a preocupação é com a dimensão estética desta criação.  A obra em si não é uma denuncia, é um testemunho, um vestígio da passagem destes usuários.O conjunto de obras é muito expressivo, a dificuldade é selecionar um conjunto harmonioso para ser exibido. A percepção dependerá do olhar de cada um.

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