A equipe do Lappis esteve em Brasília em uma roda de conversa e apresentações dos resultados da pesquisa “Áreas programáticas e direito à saúde: construção da integralidade do apoio institucional”, na Associação Brasileira de Enfermagem. Entre debates acalorados, que reuniram apoiadores, pesquisadores, profissionais da saúde e membros da PNH, Cátia Paranhos concedeu uma ótima entrevista sobre aspectos da saúde indígena e do trabalho de humanização do parto. Confira:
“Quando trabalhei como apoiadora da PNH (Política Nacional de Humanização) e consultora do Ministério da Saúde tive experiências muito ricas, principalmente quanto a tentativa de colocar em pauta a saúde indígena, dentro das prioridades. Ainda é uma questão minoritária pensar as especificidades e garantir a saúde dos povos indígenas. Eu estou no Mato Grosso do Sul há muitos anos e lá nós temos a segunda maior população indígena do país. Mesmo com muitas dificuldades, conseguimos via apoio integrado, colocar sim, questões importantes em pauta. A criança índia, por exemplo, tem aproximadamente 50% menos chances de sobreviver antes do primeiro ano de vida, do que uma criança não índia hoje em dia. Isso é preocupante.”
Parto e direitos da mulher indígena
“A mulher indígena, na hora do parto em hospitais, é silenciada, já que temos profissionais que não falam a língua dela. Existe a violência obstétrica e a invasão de sua cultura. Por isso, fizemos alguns avanços que parecem simples, mas que aos poucos estão trazendo resultados. Como, por exemplo, o fato de pensar a humanização do parto para populações específicas. Com a ajuda de muitos apoiadores, em rodas de conversa, conseguimos colocar essa questão antes de mais nada para nós, trabalhadores do SUS, e depois para o Ministério da Saúde.”
A importância dos elementos culturais
“Como cada mulher entende o seu parto? O que individualmente é importante nesse momento? Tudo isso precisa ser pensado. Em tese, pelo menos, precisamos pensar em um serviço que trate essa mulher para além de um corpo biológico. Em algumas etnias, as mulheres têm seus filhos na presença de uma liderança da comunidade e a questão é: como trazer esses elementos para o ambiente hospitalar? O Brasil tem mais de 300 etnias e cada uma delas tem uma percepção de corpo, indivíduo e mundo. É muita diversidade para dar conta nos espaços de saúde, mas estamos falando de sujeitos. Como que podemos avançar nisso é o grande desafio.”
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