XI Cidadania do cuidado

Extensão universitária com foco na mobilização social

extenso_universitriaParticipantes da mesa "Extensão Universitária: estratégias integradoras entre ensino-pesquisa-serviço" foram unânimes: é impossível indissociar, na prática, os três setores. Itamar Lages (UFPE), José Ricardo Ayres (USP), Alexandre Simões (UFPE) levaram reflexões sobre as experiências de suas instituições para o debate, coordenado por Roseni Pinheiro (IMS/UERJ).  

 

O caso da mudança curricular no curso de Enfermagem da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) aliada a um projeto de extensão com Agentes Comunitários de Saúde (ACS) na comunidade Nova Descoberta fez parte da exposição do Prof. Itamar Lages. "Antes, o curso abria com a disciplina de Anatomia. A partir deste ano, já nas primeiras semanas do curso, colocamos os estudantes nas Unidades de Saúde da Família, para que eles aprendam a vivenciar outras realidades", relatou Lage, que acredita que a ação possa estimular a autonomia do aluno. "Dia desses, após uma experiência com os ACS, alguns alunos me propuseram criar um projeto de extensão. Eu, que antes chamava os alunos para esse tipo de iniciativa, me vi convocado para ajudá-los na criação de um projeto".  

IMG_1804Como o plano abrange famílias em situação vulnerabilidade, os estudantes perceberam a importância de adaptar os instrumentos à realidade. "Esse casamento ensino e extensão já está configurado de maneira completa. Agora, os próprios alunos já pensam na pesquisa, há uma atitude de pesquisa. O projeto está acontecendo sem minha presença. A mudança principal da extensão não precisa, necessariamente, acontecer no modelo acadêmico tradicional, e sim nas práticas".  

Pró-Reitor de Extensão Universitária da USP e Presidente da Comissão de Cultura e Extensão da Faculdade de Medicina da mesma instituição, José Ricardo Ayres reitera a visão de Lages. "A extensão justamente oferece a oportunidade de juntar pesquisa e ensino aliados às motivações que vem da própria prática. Hoje, (a extensão) é estratégica para a universidade".  

Ayres também comentou as que experiências de extensão (como o projeto de intervenção comunitária em unidades de saúde) "mobiliza bastante os alunos". "Faz com que as pessoas sejam aderentes a essa transformação no local em que atuam. Os projetos que também podem ajudar a construir práticas dentro da Universidade são bastante importantes, como a na inclusão de alunos com necessidades especiais".

Mas como estimular os alunos para fazer parte de um projeto de extensão? "Acredito que uma das estratégias é apresentar os projetos aos alunos que estão chegando à universidade, apoiar essa interação. Muitas vezes, outros estímulos são importantes também, como por exemplo, oferecer créditos curriculares para essas atividades".   O professor da Faculdade de Medicina Preventiva da USP também chamou atenção para o estreitamento da relação da universidade com os serviços, no caso da saúde. "A divisão do trabalho, a sinergia entre práticas e saberes proporcionada pela extensão também pode ser muito interessante para o serviço, pois renova e fortalece as práticas".  

Ações efetivas

Alexandre Simões (Educação/UFPE) levou a ótica da educação e da pedagogia à extensão. Simões está envolvido com a Rede Coque Vive, projeto que mobiliza três programas de pós-graduação e quatro de graduação com os cursos de Pedagogia, Comunicação Social, Ciências Sociais, Sociologia e Psicologia. Além da universidade, a iniciativa envolve o Movimento Arrebentando Barreiras Invisíveis (MABI), coletivo de jovens da comunidade e o Núcleo Educacional Irmãos Menores de Francisco de Assis (NEIMFA), associação presente no bairro Coque há mais de 20 anos.

IMG_1875

"Resolvemos escolher uma comunidade que na região metropolitana de Recife aparece no discurso midiático como a "morada da morte". É um espaço cujos moradores sofrem o que os 'burgueses' chamam de "efeitos de lugar", que são processos de invisibilidade ligados ao fato de morarem exatamente nesse bairro. Certa vez, um dos moradores me disse que nascer no Coque é como 'ser um ex-presidiário sem nunca ter cometido um crime'". A experiência se articula com a ideia de trabalhar com a memória, elaborando mapas, cartografias afetivas, do que significa ser morador desse lugar. "O foco do trabalho é aproximar jovens universitários em diálogo com os jovens da comunidade do Coque e, a partir desse diálogo, produzir novas formas de visibilidade dos sujeitos e das vidas nas comunidades dos espaços periféricos".  

Entre as ações realizadas pela rede, destacam-se a criação do CineCoque, Biblioteca Popular com estúdio digital para uso dos jovens da população e o Ciclo Formativo. "Dispositivos como esses permitem criar reflexões para produzir novas intervenções – como material educativo para escolas públicas. Também incentivamos as pesquisas sobre esse programa na graduação e na pós". Para Simões, trabalhar com a produção de mídias alternativas para afrontar as representações que a mídia produz sobre os moradores da comunidade permite visibilizar outras formas de viver que são ali geradas. "A percepção é que é preciso desenvolver um processo educativo baseado em conceitos como gratidão e reconhecimento. Como afirma o Prof. Paulo Henrique Martins, uma política de ensino efetivamente cuidadora é uma política que ensina a doar, receber e retribuir. É com base nessa compreensão que esse projeto tem se movimentado ao longo desse tempo". O próximo passo do programa será inserir disciplinas nos cursos de graduação ligados a essas ações, para que não seja um projeto de extensão "descolado" da universidade.   

"A extensão permite que se aprenda pesquisando e atuando. A possibilidade de juntar pesquisa, extensão e ensino acontece porque o próprio estudante percebe que pode ser útil para ele. Acredito que isso possa aumentar o interesse da universidade pela extensão", sintetizou a coordenadora da mesa.  

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*