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Entrevista: Bárbara Cabral

layout XIII Seminario pequeno_2.jpgA pesquisadora fala sobre trabalho em equipe, tema de uma das mesas do evento

Uma das mesas do XIII Seminário da Integralidade, que acontece de 13 a 17 de agosto, em Cuiabá, vai discutir “Incubadoras da integralidade – trabalho em equipe e educação permanente para o SUS”. Integrante da mesa, a pesquisadora Bárbara Cabral, da Univasf, adianta nesta entrevista concedida ao BoletIN um pouco das reflexões que levará para o Seminário.

mesa_equpies_10.JPGAqui, Bárbara diz por que considera o trabalho em equipe uma via fértil para a atuação nas redes de saúde e fala das suas expectativas para o evento. Para ela, os seminários da Integralidade são o reflexo de um corajoso movimento de resistência em defesa do SUS e seus princípios. Confira.

E não esqueça: as inscrições para o evento já estão abertas e podem ser feitas gratuitamente aqui.

 
BoletIN – O tema do XIII Seminário de Integralidade é “Construção Social da Demanda por Cuidado – revisitando o direito à saúde, o trabalho em equipe e espaços públicos e participação”, que retoma um debate ocorrido na edição de 2005 dos seminários da Integralidade. Como vê a importância desse debate para as práticas de saúde coletiva e a elaboração de políticas públicas de saúde?
Bárbara Cabral –Penso que o tema do XIII Seminário focaliza aspectos que seguem sendo cruciais para que avancemos no fortalecimento do SUS que, nesse momento, está extremamente ameaçado – como qualquer projeto político que caminha na contramão do modelo neoliberal. Debater sobre a construção social da demanda por cuidado, destacando o direito à saúde, o trabalho em equipe e a participação social, reporta à necessidade de autenticar os modos democráticos e a valorização do coletivo como vias para cuidar do bem-comum. A efetivação desses modos no cotidiano das práticas de saúde coletiva constitui desafio que se renova continuamente, demandando reflexões acerca das melhores formas de lidar com as necessidades de saúde da população.

BoletIN – Você participa da mesa: “Incubadoras da integralidade – trabalho em equipe e educação permanente para o SUS”. Como o trabalho em equipe pode fazer a diferença no contexto atual do SUS?
Bárbara Cabral –Compreendo que o trabalho em equipe é uma via fértil para a atuação nas redes de saúde: por um lado, beneficia o usuário, que é acolhido por um conjunto de profissionais de diferentes núcleos disciplinares que, a partir de sua atuação, podem legitimar a complexidade do humano; por outro lado, beneficia o trabalhador, que tem a oportunidade de discutir o processo de trabalho e sua atuação com outros colegas, configurando-se aí um dispositivo de proteção. Defendo o trabalho em equipe pelo viés da transdisciplinaridade, não a partir de um modelo idealizado e inatingível, mas como construção permanente no dia-a-dia das práticas de saúde, como fruto de um ethos de trabalhomarcado pela produção coletiva, com elaboração de sentido ético-político ao que se faz e inventa no complexo ofício de cuidar e promover saúde.

BoletIN – Que histórias você poderia nos contar de boas práticas nesse sentido?
Bárbara Cabral –Em minha pesquisa de campo do doutorado, defendido no final de 2012, acompanhei o trabalho de equipes NASF (Núcleo de apoio à Saúde da Família) nas cidades de Juazeiro-BA e Petrolina-PE. Vi muitas articulações interessantes, que me fizeram seguir apostando na importância do trabalho em equipe, como produção coletiva:  havendo a garantia de espaço de planejamento e reflexão sobre as práticas, algumas equipes conseguiam conquistar a confiança dos profissionais das equipes de Saúde da Família e da própria comunidade, introduzindo modos de cuidado que extrapolavam as representações sociais comuns sobre cada núcleo disciplinar. O psicólogo, por exemplo, não deve fazer apenas atendimentos individuais, no formato de psicoterapia: há possibilidades várias de intervenção na perspectiva da promoção de saúde. Entretanto, percebi que há muitos entraves no âmbito da organização dos processos de trabalho, não havendo o devido investimento político nesse aspecto por parte dos gestores, segundo compreendo.

BoletIN – E que desafios se colocam na travessia do trabalho em equipe?
Bárbara Cabral –Avalio que os principais desafios remetem, sobretudo, ao âmbito da formação. É fundamental que experimentemos dispositivos que tornem a experimentação do trabalho em equipe, como produção coletiva, algo presente e corriqueiro nas graduações e cursos técnicos de saúde. Do mesmo modo, é preciso investir substancialmente em processos de educação permanente em saúde, garantindo espaços de aprimoramento para os profissionais que já estão atuando.

BoletIN – Por que o discurso sobre o coletivo ainda está tão distante das práticas? Ou essa distância hoje já está mais curta? As incubadoras da Integralidade seriam um atalho, nesse sentido?
Bárbara Cabral –Essa dissonância entre o dizer e o fazer é algo comum nas várias esferas da experiência humana, porém, considero importante que criemos e sustentemos espaços coletivos para refletir sobre as práticas em saúde. Nesse sentido, as reuniões de equipe, a depender de como acontecem, são espaços muito potentes para um planejamento e reflexão sobre as práticas: caso se restrinjam a espaços de informes, de cobranças e de acertos burocráticos, fica muito reduzida a possibilidade de construção de gosto ao que se faz pela produção coletiva. Iniciativas como a das Incubadoras de Integralidade são vias interessantes para a construção de uma coerência teórico-prática na perspectiva de articulação de um grupo em torno do compromisso de construir práticas de ensino-pesquisa-extensão com base nas experiências concretas nas redes de saúde, tomando nos braços o desafio de defesa do público e do bem-comum.

banner_vert_xiiisem_2.pngBoletIN – Por último, Bárbara, qual sua expectativa para o Seminário deste ano e como avalia esse encontro de profissionais, pesquisadores, gestores e estudantes em saúde que vem acontecendo ao longo dos últimos 12 anos?
Bárbara cabral –Já tinha conhecimento do trabalho do LAPPIS por meio das publicações, recorrendo a vários dos estudos para iluminar minha prática como profissional de saúde do SUS e, depois, como professora de universidade pública. Em 2012, tive a oportunidade de participar do XII Seminário de Integralidade, que ocorreu no Acre, tendo ficado muito feliz e mobilizada com a riqueza dos debates em torno de temáticas extremamente pertinentes ao avanço do SUS. Sendo assim, estou muito animada com a perspectiva de mais uma vez compor esse encontro, que considero ser um reflexo de um corajoso movimento de resistência em defesa do SUS e seus princípios, tão necessário nesse momento atual.

Serviço:
XIII Seminário da Integralidade: Construção Social da Demanda por Cuidado
Onde: Cuiabá (Universidade Federal de Mato Grosso e Hotel Fazenda Mato Grosso)
Quando: de 13 a 16 de agosto
Inscrições gratuitas: https://www.lappis.org.br/site/inscricao-xiii-seminario.html
Confira a página do Seminário: https://www.lappis.org.br/site/eventos/xiiiseminario.html
 

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