A cada cinco atendimentos na rede pública da capital de São Paulo, um paciente é das classes A e B. Os dados são de pesquisa realizada pela Secretaria de Estado da Saúde em 34 unidades estaduais do SUS, no mês de janeiro deste ano, e reportados pelo jornal “Estado de São Paulo”.
A elite paulistana migrou dos planos de saúde para os hospitais públicos, em busca da alta complexidade muitas vezes disponível só na medicina gratuita, como transplantes. Pesquisa Ibope feita durante o mês de janeiro – encomendada pela Secretaria de Estado da Saúde – avaliou 1.600 pacientes (usuários de 34 unidades estaduais) e identificou que um em cada cinco deles é de famílias classes A e B, ou seja, tem renda mensal superior a R$ 7 mil.
“O levantamento mostrou que o Sistema Único de Saúde (SUS) está atraindo um novo perfil de pacientes, um público extremamente exigente. Provável reflexo da crise econômica, que tem levado as pessoas a reduzirem os gastos com planos de saúde, o fenômeno pode ser extremamente positivo para o sistema, já que nos leva a aprimora mais os serviços”, avalia Nilson Paschoa, secretário interino de Estado da Saúde.
Para José Luiz Gomes do Amaral, presidente da Associação Médica Brasileira, a classe média atual perdeu o status de conseguir financiar questões fundamentais como saúde e educação. “Isso faz com que o SUS precise estar preparado para um público que pressiona e exige qualidade”, diz.
Gargalo
Segundo dados do Ministério da Saúde, cerca de 40 milhões de pessoas no País são clientes de operadoras privadas de saúde. Mas as mensalidades cobradas pelos planos costumam deixar de fora procedimentos de ponta, e caros, como hemodiálise (em que a máquina substitui o funcionamento dos rins), tratamentos de câncer, cirurgias no cérebro e no coração.
Para Osmar Terra, presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde, o fato de o SUS acolher a população mais favorecida economicamente, em especial em casos de urgência, faz com que esta parcela tenha acesso ao filão e não ao calcanhar de Aquiles do sistema público. “Hoje, o grande gargalo de qualidade do sistema é a medicina de média complexidade (a consulta com neurologista e ortopedista, entre outras especialidades) etapas cobertas pelos planos e as que concentraram os maiores problemas – como filas e deficiências de profissionais – na esfera pública”.
Além da medicina de alta complexidade que fica à margem dos convênios médicos, David Uip, atual diretor do Instituto de Infectologia Emílio Ribas – unidade que oferece tratamento anti-Aids para todas as classes sociais, diz que os nomes de “grife” dos médicos que operam no SUS também são atrativos dessa clientela. “Os grandes baluartes da saúde estão nesses locais”, explica.
Vantagens e Desvantagens
As classes A e B têm perfil de pacientes extremamente exigentes, informados e esclarecidos que cobram do serviço público de saúde mais qualidade do atendimento, menos tempo de espera e tratamento humanizado.
Por outro lado, os planos de saúde já causaram um rombo de R$ 384 milhões nos cofres do Sistema Único de Saúde (SUS). O prejuízo é feito com base nas 347 mil pessoas que, nos últimos oito anos, precisaram recorrer a um hospital público, mesmo tendo convênio particular.
Os serviços mais procurados são: tratamento de câncer e AIDS; cirurgias na cabeça, pescoço e traumas (após acidentes automobilísticos); cirurgias cardíacas e cerebrais; vacinas e transplante.
HOSPITAIS PESQUISADOS
Hospital Geral de Guarulhos
Hospital Geral de Pedreira
Hospital Mandaqui
Hospital Ferraz de Vasconcelos
Hospital Geral do Grajaú
Hospital Luzia de Pinho Melo (Mogi das Cruzes)
Hospital Vila Nova Cachoeirinha
Hospital Regional Sul
Hospital Heliópolis
Hospital Geral Itaim Paulista
Hospital de Taipas
Hospital Ipiranga
Hospital Geral de Guaianases
Hospital de Sapopemba (maternidade)
Hospital São Matheus
Instituto Dante Pazzanese
Hospital da Vila Alpina
Hospital Pérola Byington (CRSM)
Hospital de Carapicuíba
Hospital Geral Pirajuçara
Hospital Padre Bento (Guarulhos)
Hospital Vila Penteado
Mário Covas (Santo André)
Hospital Infantil Cândido Fontoura
Hospital de Diadema
Hospital de Itaquaquecetuba
Hospital Brigadeiro
Hospital de Itapecerica da Serra
Hospital Infantil Darcy Vargas
Hospital Geral de Osasco
Instituto de Infectologia Emílio Ribas
Hospital Geral de Itapevi
Hospital Geral Sapopemba
Hospital Geral de Francisco Morato
Fontes: Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo e matéria de Fernanda Aranda para o jornal “Estado de São Paulo”
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