Nesta edição do BoletIN,você pode conferir a entrevista com o pesquisador do LAPPIS e mestre em Memória Social pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro-UNIRIO, Edvaldo Nabuco, que atua na produção do documentário que tem como tema “Memória e Saúde Mental”, a ser exibido no final deste ano. O local e a data de exibição ainda serão definidos.
O documentário retrata a questão da saúde mental no município de Paracambi, interior do Estado do Rio de Janeiro, desde a intervenção ocorrida em 2001, coordenada pelo Ministério da Saúde. Edvaldo contou ao BoletIN um pouco da experiência de produzir um documentário deste tipo, a importância e a proposta deste trabalho.
BoletIN -Qual é a proposta do documentário?
Edvaldo – A idéia é mostrar o processo de desinstitucionalização dos usuários que tiveram um longo período de internação na clínica Dr. Eiras. O documentário registrará a memória deste processo de desconstrução da clínica, que já foi considerada a maior clínica psiquiátrica privada do país. A partir das entrevistas, vamos contar um pouco desta história, bem como ouvir os usuários sobre as suas experiências e lembranças da internação e como eles se encontram após a intervenção na clínica pelo poder público.
BoletIN – Como você chegou até o documentário?
Edvaldo – Eu sou usuário dos serviços de saúde mental e militante do movimento da luta antimanicomial. Tenho formação em jornalismo e tive um surto após anos de trabalho com jornalismo. Depois do surto eu passei a militar no Movimento Nacional de Luta Antimanicomial, que defende a proposta de extinguir os manicômios no país e dar tratamento mais humano a pessoas acometidas de um sofrimento psíquico.
A militância me levou a estudar novamente e eu fui fazer mestrado em Memória Social, onde trabalho a construção de uma memória dos usuários da luta antimanicomial. Acho que essa conjunção de fatores – memória, comunicação e militância – fez com que a Roseni Pinheiro, coordenadora do projeto, me chamasse para ajudar no estreitamento das relações entre o LAPPIS e o Centro de Tecnologia da Educação, para realizar este documentário.
BoletIN – Como você analisa a importância de fazer um documentário como este?
Edvaldo – Como eu disse, a clínica Dr. Eiras já foi considerada a maior clínica psiquiátrica privada do país. A desconstrução desta clínica é de uma importância muito grande para a reforma psiquiátrica brasileira, que é considerada uma das mais importantes do mundo. Registrar a memória deste processo é manter a luta para fazer com que esta história de maus tratos não volte a ocorrer. A partir deste documentário, a cidade poderá contar outras histórias sobre a loucura e não somente a história de uma clínica que se tornou a maior empregadora da cidade.
Este processo que ocorre em Paracambi pode ser considerado singular e está relacionado com aquilo que a Luta Antimanicomial se propõe que é fazer a sociedade repensar a sua relação com a loucura. É um trabalho muito bonito e eu acredito que o documentário terá uma beleza e sensibilidade muito grande.
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