O XIII Seminário Nacional do Projeto Integralidade segue com suas atividades em Cuiabá (MT) e, na manhã de 14 de agosto, debateu o tema "O cuidado na atenção primária e nas redes de atenção à saúde" e, na parte da tarde, "Comunicação, Saúde e Sociedade".
O XIII Seminário Nacional do Projeto Integralidade segue com suas atividades em Cuiabá, Mato Grosso, e, na manhã de quarta-feira, 14 de agosto, debateu o tema O cuidado na atenção primária e nas redes de atenção à saúde. Na parte da tarde, teve lugar a mesa-redonda sobre Comunicação, Saúde e Sociedade,analisando o papel da comunicação e dos fluxos de informação no contexto das políticas de saúde e da efetivação dos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) de equidade, universalidade e integralidade.
Já a Conferência Magna, ministrada pelo professor José Ricardo Ayres, do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade de São Paulo (USP), destacou o tema Cuidado: Trabalho e Integralidade Nas Práticas De Saúde. Também houve, na tarde deste terceiro dia do XIII Seminário, a apresentação cultural do Grupo Flor Ribeirinha, com Siriri e Cururu, danças e músicas típicas de Mato Grosso. Para finalizar o dia de trabalho, deu-se sequência às atividades do ciclo de minicursos à noite.
O XIII Seminário da Integralidade está sendo realizado em Cuiabá, Mato Grosso, a partir de parceria entre o Laboratório de Pesquisas sobre Práticas de Integralidade em Saúde do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Lappis/IMS/Uerj), idealizador do Projeto Integralidade, e o Núcleo de Desenvolvimento em Saúde do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso (NDS/ISC/UFMT).
Para ficar por dentro de tudo que acontece no XIII Seminário da Integralidade, acesse o hot site do evento no portal Lappis e acompanhe a transmissão ao vivo das mesas-redondas que acontecem nos próximos dias, vídeos e podcasts com depoimentos de participantes. A transmissão ao vivo também está disponível no site da UFMT!
Veja mais informações na página do Lappis no Facebook e no Twitter.
Leia mais sobre as atividades do segundo dia:
>> Sala do cuidado: prática alternativas de saúde, por Raiana Lira (site ObservaRH/UFMT)
>> Mesa debate o tema Comunicação, saúde e sociedade, por Thiago Mattos e Patricia Dorileo (site ObservaRH/UFMT)
E apresentamos a seguir mais destaques deste segundo dia de evento.
O cuidado na atenção primária e nas redes de atenção à saúde – Na primeira mesa-redonda do seminário, Eduardo Alves, gestor da Atenção Básica do estado de Mato Grosso, destacou a importância de se entender o cotidiano das redes de atenção à saúde, não apenas como oferta dos serviços críticos. Segundo ele, profissionais que desenvolvem o trabalho em condições adversas têm um papel fundamental na construção dessas redes e ajudam a materializá-las. Além disso, ele ressaltou que a estrutura e a formação dos/as profissionais são fatores importantes, mas o compromisso desses/as também é um fator preponderante para a integralidade.
Já Paulo Poli, médico da Família e Comunidade e diretor de Atenção Primária, da Secretaria de Saúde de Curitiba, Paraná, destacou a importância de um envolvimento coletivo dos/as gestores/as para a realização de um planejamento estratégico que corrobore com a efetivação de políticas sociais de saúde. Para Poli, é necessário refletir sobre o sistema público de saúde, com uma visão de quem utiliza de fato o serviço oferecido.
Jurandi Frutuoso, médico sanitarista, secretário executivo do Conselho Nacional de Secretários da Saúde (CONASS), conselheiro Nacional de Saúde (CNS) e mestre em Saúde Coletiva, ressaltou que o seminário traz uma discussão que representa um desafio para gestores/as, profissionais e sociedade, que é o de efetivar o direito constitucional à saúde, o que implica na efetivação do SUS. Segundo ele, o CONASS vem buscando trabalhar esta questão de maneira global, ao considerar a atenção primária um eixo estruturante, para, assim, dar o rumo para que os/as gestores/as consigam alcançar a integralidade.
A fala de João Henrique Scatena, médico e professor de Saúde Coletiva/Pública (UFMT), complementou o discurso de Frutuoso, na medida em que apresentou um apanhado histórico do percurso de regionalização do cuidado, no estado de Mato Grosso, pontuando as diferenças de atendimento nas Redes de Atenção de Saúde (RAS) entre os escritórios regionais.
Já Kátia Damascena da Silva, vice-presidente da ONG Corações Amigos, de Cuiabá, representou o segmentos de usuários/as, dando a noção de como quem está na ponta dos serviços de saúde vivencia o cotidiano do cuidado. Segundo ela, que vive com HIV, uma das maiores dificuldades encontradas é o acesso ao medicamento, mesmo em casos em que os/as profissionais de saúde se colocam ao lado do/a paciente, oferecendo um cuidado. Em muitos casos, segundo Damascena, falta medicamentos.
Debate da mesa-redonda – Após as exposições dos/as palestrantes, abriu-se espaço ao debate, momento em que os/as participantes se posicionaram, apresentando à mesa os desafios que vivenciam, seja como usuários/as dos serviços de saúde, seja como cidadãos/as, para se sentirem efetivamente cuidados/as. Na ocasião, pediram a palavra representantes de diferentes movimentos sociais, organizados ou não, e que se sentiram instigados/as a compartilhar com a plenária suas dificuldades e inquietações. E, de quebra, suas emoções, diante da dificuldade que enfrentam para ter garantido o direito fundamental à dignidade e à saúde.
Na fala embargada de Rosa Maria dos Santos, representante da comunidade quilombola Bocaina, uma reivindicação feita de forma simples e emocionada, de quem já não sabe mais onde apresentar suas diversas demandas. Entre falas expressivas de Dona Rosa, destacam: “queria que olhassem mais para o povo, pobre e carente”, “Quem afinal pode fazer alguma coisa pela gente?”, “ser tratado como ser humano que é”.
Além de Dona Rosa, outros/as participantes do XIII Seminário reiteraram a importância do saber popular para o conhecimento médico e para as práticas de cuidado em saúde e para o Sistema Único de Saúde (SUS), reivindicando que o/a profissional de saúde deve ser formado/a para lidar com o povo, valorizando a cultura e tradição. Por fim, outro ponto apresentado no debate diz respeito à falta de acessibilidade nas unidades de saúde para pessoas com deficiência, sobretudo pessoas com deficiência auditiva, de forma que uma das intérpretes da Língua de sinais brasileira (Libras) presentes Seminário denunciou dificuldades e discriminações enfrentadas no dia a dia de pessoas surdas ao buscarem assistência médica.
Aluísio Gomes da Silva Jr., médico e doutor em Saúde Pública (ENSP/Fiocruz), mediador do debate, disse, ao final da mesa-redonda, após ouvir o depoimento de Rosa Maria dos Santos, que a fala dela mostra que há muito a ser feito. No mais, reforçou que quem está inserido/a na busca pela garantia da integralidade no serviço público de saúde deve somar sua voz à reivindicação dos/as usuários/as.
Comunicação, Saúde e Sociedade – Esta mesa-redonda foi mediada por Maria Angélica dos Santos Spinelli, mestre em Nutrição em Saúde Pública e doutora em Saúde Coletiva (UFMT). Para a palestrante Juliana Lofego, jornalista, professora da Universidade Federal do Acre e pesquisadora do Lappis, o direito à comunicação necessita de diálogo, participação ativa e direito à voz e, no âmbito da saúde, percebe-se uma contradição entre as propostas de comunicação no SUS e o espaço institucional. A pesquisadora destacou que é necessário um aprimoramento das práticas de comunicação em alinhamento com os princípios do SUS, para potencializar os espaços e efetivar a comunicação.
Já Elias Rassi, ex-secretário municipal de saúde de Goiânia, mestre em Saúde Pública, especialista em Residência médica e Epidemiologia, afirmou que a imprensa se recusa a discutir a comunicação na área de saúde, mas diariamente veicula imagens de pessoas agonizando nos leitos, para apontar as falhas do SUS. Em contraponto, a mesma mídia mostra pessoas influentes recebendo tratamento de ponta, o que tira a possibilidade de discussão sobre a estrutura da saúde pública.
O jornalista, doutor em educação e professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Benedito Diélcio Moreira, apresentou sua experiência com o projeto de integração “Comunicação e Educação Popular em Saúde e Jovens”, desenvolvido no bairro Canjica, em Cuiabá, e que trabalha o conceito amplo de mídia, por meio de qualquer artefato capaz de reproduzir comunicação. Segundo ele, no ambiente familiar, não há uma discussão sobre conteúdo midiático e, quando há, o tema costuma ser a segurança pública. O projeto deu aos/às jovens do Canjica a oportunidade de potencializar a comunicação sobre saúde, através da produção de um jornal.
Vera Lúcia Dantas, médica e doutora em educação (Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza/Articulação Nacional de Educação Popular em Saúde – ANEPS), apresentou sua experiência com o projeto “Sinfonias para uma Ciranda na Cidade”, que utiliza diversas linguagens de arte e educação para comunicar sobre saúde popular, principalmente com o público jovem. Para ela, muitas vezes, os/as profissionais de saúde não enxergam as potencialidades da comunicação, só os limites, e para tentar explorar melhor a questão, o projeto utilizou linguagens como rap e o grafite, problematizando e discutindo as questões de saúde da comunidade.
Conferência Magna– O professor José Ricardo Ayres, do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade de São Paulo (USP), compartilhou, durante a Conferência, reflexões sobre o cuidado nas práticas de saúde, em sintonia com o princípio da integralidade. Neste sentido, destacou, entre outros aspectos, que o cuidado no contexto da saúde envolve uma escuta acerca do projeto de felicidade das pessoas. Segundo ele, é importante compreender, nestas práticas de saúde, por exemplo, o que move as pessoas; o que move cada indivíduo que chega com uma demanda em saúde a uma unidade de atendimento. Para tanto, é importante que o/a profissional de saúde associe ao seu conhecimento técnico o conhecimento que decorre desta compreensão.
Outro ponto enfatizado por Ayres diz respeito à importância de se reconhecer outras áreas do saber que podem colaborar para um entendimento e alcance do projeto de felicidade. Assim, a antropologia, a sociologia e a psicologia, entre outros campos, têm papel relevante. O professor também relatou alguns causos para exemplificar problemáticas do cuidado no cotidiano do atendimento em saúde, reforçando que profisisonais de saúde e usuários/as são sujeitos importantes na construção do cuidado e que essa aproximação dos sujeitos enriquece o conhecimento científico e o prático. Ele ainda destacou que o SUS deve ser defendido, para que não seja perdida a oportunidade de cuidar das pessoas.
Programação – No último dia do Seminário, 16 de agosto, sexta-feira, a mesa-redonda da manhã irá discutir as Incubadoras da Integralidade – Trabalho em Equipe e Educação Permanente para o SUS, a partir das 8h30. Por último, o debate será sobre Espaço Público, Atores e Práticas Participativas de Mediação em Rede no SUS, às 14h.
Além dos debates, durante o Seminário, estão acontecendo as atividades na Tenda Paulo Freire, da Educação Popular em Saúde, um espaço de construção compartilhada do conhecimento, permeadas pelas ideias dos círculos de cultura, desenvolvidos na pedagogia freireana. A programação prevê a realização de rodas de diálogos, troca de saberes e experiências, apresentações culturais, salas de cuidado com aplicações de reiki, massagens, benzimentos, feira popular, fortalecendo os movimentos e as práticas populares do cuidado da saúde.
Seja o primeiro a comentar