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Conheça o “Manifesto de pesquisadoras e pesquisadores em defesa de uma universidade comprometida com a realidade social e com a construção de uma sociedade mais justa”

A fim de estabelecer um diálogo junto às agências de fomento à pesquisa e à comunidade científica, o Onjé – grupo de estudos e ação em Segurança Alimentar e Nutricional – composto por pesquisadoras e pesquisadores da área, elaborou um manifesto intitulado “Em defesa de uma universidade comprometida com a realidade social e com a construção de uma sociedade mais justa”.

O manifesto objetiva dialogar com esses públicos ressaltando a preocupação com o espaço dado à pesquisa social nas universidades, que tem sido insuficiente para promover sua consolidação como área de estudo relevante e prioritária em uma sociedade ainda desigual como a brasileira. Ele lista ainda, seis demandas dos pesquisadores no sentido de apoiar e fortalecer estas pesquisas e as demais funções sociais da Universidade.

O Manifesto em defesa de uma Universidade comprometida com a realidade social e com a construção de uma sociedade mais justa pode ser lido na íntegra ao final desta mensagem ou neste endereço eletrônico: http://migre.me/te7JU

Se você compartilha dessa preocupação e gostaria de assinar o manifesto, envie um email para opsan.rais@gmail.com com seu nome completo e a instituição que faz parte.

 

Manifesto de pesquisadoras e pesquisadores em defesa de uma universidade comprometida com a realidade social e com a construção de uma sociedade mais justa.
A Universidade pública brasileira e as demais Instituições públicas de pesquisa são espaços de reflexão e produção de conhecimento com a missão de dialogar com as realidades brasileiras, com a transformação social e com a ampliação da justiça e da inclusão social. Apesar de premissa amplamente reconhecida dentro e fora do meio acadêmico, é possível observar certo descompasso entre discurso e prática, a julgar pelo lugar dado às ações que pretendem concretizar estes objetivos. Desde a ocupação de cargos de responsabilidade nas unidades das Instituições de Ensino Superior ao desenvolvimento de pesquisas de cunho social, as ações que se aproximam da realidade externa às universidades parecem desvalorizadas e pouco reconhecidas tanto internamente como por agências de fomento à pesquisa. Muitos professores e professoras, pesquisadores e pesquisadoras atuam em colegiados e coletivos e pensam, avaliam e participam da gestão de políticas públicas. Estas atuações, apesar da importância para a sociedade brasileira, não são valorizadas em nossas avaliações como docentes e como pesquisadores.
Em sentido análogo, o lugar dado à pesquisa social tem sido insuficiente para promover sua consolidação como área de estudo relevante e prioritária em uma sociedade ainda desigual como a brasileira.
Consideramos pesquisa social um conjunto de processos que articulam a teoria e a prática (práxis) de maneira comprometida com as realidades sociais e com a construção de uma sociedade mais justa. Sendo assim, se pauta por método científico e, portanto, produz conhecimento científico utilizando-se de processos que a distingue das pesquisas hegemônicas atuais (como pesquisa básica e epidemiologia analítica) e demandando critérios também diferenciados de avaliação de percursos e resultados.
A compreensão acerca da ciência tem se ampliado para além do paradigma cartesiano, fundador da ciência moderna, e incorporado elementos relacionados à complexidade dos fenômenos e à indissociabilidade da cultura e da racionalidade hegemônica na construção da “verdade científica”. A ideia de que o conhecimento é simultaneamente local e universal e está sempre em movimento (e em permanente construção) vem se consolidando, na medida em que a contemporaneidade parece ser marcada exatamente pelo pluralismo de compreensões sobre os diversos temas nas diferentes áreas do saber. Apesar de avanços no reconhecimento de formas de produção de conhecimento que destoam do modelo hegemônico predominante no meio acadêmico-científico, é notável que os espaços e as condições para sua produção e divulgação ainda são limitados, na medida em que estes espaços ainda se pautam em pressupostos, regras e critérios próprios de um único modo de fazer ciência.
De maneira geral, o foco da pesquisa social são os processos e não apenas os resultados em si. Entende-se que os resultados são produtos dos processos, que podem impor limites ou potencializar os resultados. Nesse sentido, o uso de metodologias ativas e participativas, como a pesquisa-ação e a pesquisa participante, permite a construção da práxis e a participação de sujeitos e/ou grupos sociais na produção do conhecimento, e por isso, fundamental para a compreensão e transformação de suas realidades. Alguns temas ou linhas de pesquisa que trabalham com populações vulnerabilizadas socialmente como mulheres, povos indígenas, campesinos, comunidades quilombolas, povos e comunidades tradicionais e populações negras, pessoas em situação de rua etc. trabalham com este olhar e abordagem diferenciadas.
Assim, nestas abordagens os grupos envolvidos são sujeitos e tem papel protagonista, o que demanda uma relação sujeito e objeto com tempo bastante diferenciado para a pesquisa. Neste contexto, a definição de problema de pesquisa, do objeto de estudo, métodos e gestão dos processos sociais envolvidos demandam mais tempo e flexibilidade do que as pesquisas tradicionais. O tempo de ajustes e concertação na escolha dos caminhos também é um produto de pesquisa e pode ser descrito em artigos e publicações posteriores, mas demanda maior flexibilidade em relação ao prazo para sua finalização.
No mesmo sentido, a linguagem utilizada e a comunicação entre pesquisadores e grupos participantes necessitam especial atenção e vão sendo afinadas ao longo do processo, que vai se tornando mais fluido e mais eficaz. A construção conjunta de instrumentos e métodos é uma das riquezas destes processos, nos quais o aprendizado coletivo é um dos resultados mais importantes.
O alcance de resultados no contexto da pesquisa social demanda também maior tempo, pois os resultados precisam ser compartilhados e aprovados por todos os envolvidos, antes de serem divulgados. Esse ponto é de grande importância para que haja relação ética e de confiança entre a Universidade e a sociedade.
Além dos aspectos técnicos mencionados, relativos ao formato dos projetos e apresentação de resultados, a burocracia que envolve a gestão desses na universidade tem gerado diversos impactos negativos, incluindo a perda de recursos públicos, que não conseguem ser utilizados nos prazos previstos.
Da mesma maneira, para além da pesquisa científica, entendemos que a Extensão Universitária é parte fundamental da missão da universidade e não deve se limitar a levar conhecimentos técnicos ao público. Ela vai muito além disso: significa a troca e o diálogo de saberes em busca da construção de novos conhecimentos e alternativas para solucionar problemas identificados por determinados grupos sociais, dentro de seu contexto. Trata-se da instauração de processo emancipatório, pactuado entre pessoas e grupos que buscam alcançar determinados resultados de forma coletiva e para a construção de uma sociedade mais justa e menos desigual.
Produzimos, junto com a sociedade, conhecimento transformador de realidades sociais do país e necessitamos de indicadores adequados para avaliar estas ações. Somente considerar a produção de artigos científicos é muito pouco para avaliar nosso trabalho.
O reconhecimento destas diferenças e da importância desta maneira de se produzir conhecimento envolve reflexão e adaptação de espaços e condições para que elas aconteçam, sejam publicadas e seus resultados colocados a disposição da sociedade de forma geral. A opção por esta modalidade de pesquisa é feita por professores e pesquisadores comprometidos com uma visão de ciência que dialoga
com a necessidade de apoiar as demandas sociais para mudanças e melhoria das condições de vida da sociedade.
A fim de estabelecer um diálogo, não somente junto às agências de fomento à pesquisa, como também à comunidade científica, o grupo de pesquisadores e pesquisadoras, reunidos/as no Seminário “O papel da Universidade na Pesquisa Social- Fortalecendo metodologias ativas e participativas”, realizado em 26 de outubro de 2015, pelo grupo de reflexão em Segurança Alimentar e Nutricional: Onjé, ligado ao Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutrição (OPSAN), na Universidade de Brasília, debateu as especificidades da pesquisa social, eminentemente de caráter qualitativo, decidiu escrever este Manifesto com adesão de pesquisadores para a divulgação destas questões para a sociedade, diálogo com as agências de fomento e setores correspondentes nas Universidades.
Desta forma, demandamos :
1) Revisão dos valores conferidos às atividades de extensão nos processos de progressão funcional das Instituições de Ensino Superior;
2) Valorização e maior visibilidade para a extensão universitária, com criação de periódicos e/ou de sessões temáticas em periódicos existentes, devidamente credenciados para acolher seus resultados.
3) Regras diferenciadas junto aos órgãos financiadores, com maior flexibilidade e abertura para elaboração de projetos em formatos adequados ao perfil de pesquisas sociais ativas e participativas.
4) Elaboração de critérios de pontuação qualis para periódicos, adequados às propostas de estudos interdisciplinares e participativos como forma de qualificar e valorizar tais temas e metodologias.
5) Ampliação do espaço bem como do financiamento nas agências de apoio, para a pesquisa social com a criação de novas áreas temáticas inter e multidisciplinares como: Segurança e Soberania Alimentar e Nutricional, Agroecologia, Educação Popular, Agricultura urbana que não são devidamente valorizadas nas áreas existentes.
6) Maior valorização para o critério de “impacto social” junto a pontuação dos programas de pós graduação na Capes.

 

 

Fonte: RAIS/CO

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