A abertura do XI Seminário trouxe a primeira grande novidade: em 2012, o evento também será itinerante. A décima segunda edição do seminário será realizada entre os dias 14 e 17 de agosto, em Rio Branco, no Acre.
(Na foto: Cinthia Alves (SMS-Recife), Paulo Henrique Martins (UFPE), Roseni Pinheiro (Lappis/IMS/UERJ), Dario Pasche (PNH/MS), Aluisio Gomes da Silva Jr (ISC/UFF) e Osvaldo Leal (SMS/Rio Branco/AC)
Após as boas vindas do anfitrião Paulo Henrique Martins (UFPE), o coordenador da Política Nacional de Humanização Dário Pasche teve a palavra. "Estar na mesa representando o Ministério da Saúde é reconhecimento do nosso trabalho com redes e conhecimento coletivo de grupo que constrói uma vasta obra no campo da Saúde Coletiva. Isso é da maior relevância. A inflexão do Lappis no debate das políticas públicas, a questão do cuidado, feito na experiência do cuidado, em redes, está cada vez mais capilarizada pelo país".
Representando a Secretaria de Saúde de Recife, Cínthia Alves destacou que o grupo "está nos ajudando a pensar e reestruturar saúde em Recife na questão de reestruturar as questões no território, um cuidado humanizado. Agradeço ao Lappis não só pelo trabalho, como também pela postura, generosidade e ética com que trata as questões". Osvaldo Leal, Secretário Municipal de Saúde do Rio Branco (AC) reiterou a generosidade do grupo, seguido por Aluisio Gomes da Silva Jr. "O Lappis congrega grupos que vem de muitos lugares, tem espírito colaborativo".
Em seguida, o Professor Paulo Henrique Martins apresentou a conferência de abertura "Dádiva e mediação de redes sociais na saúde: signos e significados para a universalidade das práticas da integralidade do cuidado".
Martins inicia sua exposição explicitando a importância dos estudos sobre o cuidado e a dádiva para as Ciências Sociais na atualidade. "No Brasil, temos uma discussão e uma prática/ experiência que é uma grande referência mundial para essa discussão nos próximos anos. Dádiva também, na questão das racionalidades, do homem na sua completude".
Os estudos da Dádiva, feito no Brasil pela Antropologia estruturalista que tem Roberto da Matta como referência, abrange cultura e antropologia, cotidiano cultural, mas não aprofunda muito nos usos políticos, construção de políticas públicas, desconstrução da visão simplista da ideologia dominante / utilitárismo, egoísmo, segundo o professor. "No pós-estruturalismo tivemos aqui o (Alain) Caillé, que escreveu um livro-homenagem ao Mauss e trouxe o conceito da dádiva. Essa discussão que tem relevância no Brasil no campo da Saúde".
A difícil interpretação de dádiva – não só caridade, graça, milagre, como vista na cultura cristã – mas também um presente, complexidade do fenômeno, funda a teoria de mapeamento das práticas sociais, que seria a lógica fundadora do grupo social presente em todas as sociedades, desde a mais simples. Nas sociedades contemporâneas, essa regra também é uma prática: dizemos "obrigado", "de nada", "fiz por prazer". Gera "dívidas" em um sistema de circulação coletiva. "Não circulam apenas bens, mas abraços, mãos feitas para oferecer."
A teoria hegemônica, utilitarista: reduz tudo a questão econômica, à mercadoria. A leitura da dádiva é uma crítica moral do capitalismo. Aparecem novas disciplinas, como a economia solidária, cidadania participativa. No trabalho acadêmico, não há uma passagem fácil da teoria para as redes sociais. Tem que ter prazer de estar junto, tem que ter brincadeira, ser leve, prazerosa. Tem que ter elemento moral, mas também o prazer.
O sociólogo também enumerou a relação do campo da saúde com o conceito do Dom, teoria que possui quatro elementos: dom dos olhos, dom do contato, dom da escuta, dom da palavra:
O Dom dos olhos revelam a alma, diz coisas sem precisar falar. "Os olhos são elemento fundamental da percepção para aparecer no mundo, na vida. Olhar para o outro é a dávida do reconhecimento, é olhar e dizer: 'como estás?' Todo profissional de saúde sabe que se alguém vai cuidar do outro e pergunta isso de olho baixo, ou sem olhar, isso é uma agressão. Olhar ao longo, perceber, é uma expressão de reconhecimento".
"O Dom da escuta, é a capacidade de escutar o outro: quando o outro fala, eu estou recebendo o outro em mim. Quem trabalha nos serviços sabe bem disso. Às vezes, a falta de experiência impede de perceber o sofrimento mais profundo na fala do outro. Há uma dificuldade de receber essas dádivas por quem trabalha na atenção à saúde. Eu digo isso como professor, pois muitas vezes a experiência de sofrimento do outro é maior do que a minha experiência. O profissional de saúde tem que pensar a dádiva para transformar um sofrimento em prazer, alegria, e perceber o risco de cuidar".
Fotos: Bruno Stelet
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