Apesar dos avanços alcançados na discussão da integralidade nos últimos dez anos, a discussão da relação entre a ética e técnica, quando se pensa a prática de uma clínica integral – responsável com o sujeito a quem se destina, sua história, cultura e anseios – ainda carece de maior aprofundamento e aplicabilidade para os serviços e seus profissionais. Assim, o VIII Seminário do Projeto Integralidade propõe a questão “Ética e Técnica no Cuidado: é possível conciliar na prática educativa na saúde?” no último dia do evento, visando discutir as possibilidades do tema.
Um dos pesquisadores convidados para esta ampliar a discussão na mesa-redonda é César Favoreto. Doutor em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social e Professor de Medicina Integral da UERJ, Favoreto afirma que sua contribuição com o tema terá como embasamento a idéia de Boaventura de Souza Santos, na qual prosseguir sobre o impasse “ética-cuidado” na área da saúde implica em romper com o monoteísmo da ciência moderna. “Avançar sobre um paradigma que pressupõe uma única forma de conhecimento válido, o conhecimento científico – cuja validade reside na objetividade de que decorre a separação entre teoria e prática, entre ciência e ética – é um paradigma que tende a reduzir o universo dos observáveis ao universo dos quantificáveis e o rigor matemático do conhecimento, do que resulta a desqualificação (cognitiva e social) das qualidades que dão sentido à prática ou, pelo menos, do que nelas não é redutível”, explica.
Tendo em mente esta idéia, César Favoreto conta que todo o trabalho que pretende trazer para este seminário baseia-se na “discussão, no âmbito do ensino e da prática da clínica, da possibilidade de promover um desenvolvimento tecnológico que contribua para o aprofundamento da competência cognitiva e comunicativa e, assim, se transforme em um saber prático”. Para o também pesquisador do LAPPIS, discutir como a valorização da prática pode tornar possível que a técnica se converta numa dimensão da prática e não, ao contrário, como hoje se sucede, que a prática se converta numa dimensão da técnica.
Palestrante freqüente dos Seminários promovidos pelo LAPPIS, Favoreto acredita que o Laboratório conseguiu não apenas incorporar vários pesquisadores, mas envolver muitos trabalhadores que tiveram a possibilidade de se perceberem como possuidores e produtores de saberes. “Além de permitir aos profissionais compreenderem a importância destes saberes nas transformações do cotidiano dos serviços”, concluiu.
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