Cinco mil pesquisadores se reúnem para debater sobre saúde, desenvolvimento e democracia no SUS
A abertura do 11o Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva aconteceu na noite do dia 28 de julho, na Universidade Federal de Goiás, após dois dias intensos de oficinas e reuniões dos grupos temáticos da Associação Brasileira de Saúde Coletiva – Abrasco. No segundo dia do Abrascão, a participação de pesquisadores do Lappis começou na mesa Direitos humanos e desafios do SUS universal: população encarcerada, indígenas, população em situação de rua, migrantes, que teve a apresentação de Leny Trad (ISC/UFBA) sobre as perspectivas teóricas do reconhecimento a partir dos referenciais de Axel Honneth e Nancy Fraser.
A mesa, proposta pela Comissão de Ciências Sociais e Humanas em Saúde, foi coordenada por Luis Eduardo Batista (SES-SP e EEUSP) e contou com a exposição de Paulo Artur Malvasi (Cebrap), Lucia Maria Xavier de Castro (Ong Criola) e Cassio Silveira (Unifesp). As falas abordaram o contexto atual brasileiro com o acirramento de discursos discriminatórios e de ódio e o quanto essa discussão é necessária na Saúde Coletiva, a violação dos direitos humanos a grupos vulneráveis ou pessoas não integradas e a importância de ampliação de estudos e intervenções nesse âmbito. Também foi abordada a situação dos imigrantes no Brasil e a complexidade de questões a serem consideradas na garantia de uma saúde universal.
O encerramento das atividades do dia aconteceu com o debate Saúde da População Brasileira, tendo como debatedores a pesquisadora associada do Lappis e professora aposentada da UERJ, Madel Luz (UFF e UFRGS), e os professores Cesar Victora (UFPel) e Jairnilson Paim (ISC/UFBA).
As diferenças no perfil epidemiológico de mães e bebês nos últimos 30 anos foi a base da pesquisa realizada por Cesar Victora em Pelotas – RS, que destacou quatro problemas de saúde na atualidade: mortalidade materna, alto número de cesarianas, prematuridade e obesidade infantil. Apesar das mulheres de 2015 terem maior renda, escolaridade, serem mais altas e pesadas, os bebês tem menor peso ao nascer e há mais prematuros, o que evidencia a epidemia de cesarianas no período, com aumento de mais de 40 pontos percentuais.
A construção politicamente engajada do campo da saúde coletiva no Brasil foi lembrada por Jairnilson Paim. O pesquisador ressaltou os avanços da saúde pública no país e apresentou as perdas do SUS, caracterizadas como mercantilização da saúde. Para ele, embora o Estado adote o sistema universal de saúde, não garante politicamente essa realidade, o que demonstra com exemplos sobre o financiamento e estrutura tributária. Ao final, Paim convoca a defesa a ameaças recentes contra o SUS com a participação democrática na 15a Conferência Nacional de Saúde.
Os tempos de crise e o adoecimento da sociedade foram o tema da fala de Madel Luz, que apresentou as consequências para a saúde coletiva a partir da questão do trabalho, a perda de vínculos sociais (isolamento/depressão), deterioração da ética na estrutura política e na sociedade. Na apresentação da professora, “um adoecer social se revela através de reações coletivas de insegurança, desconfiança e agressividade mútua dos cidadãos: patologias ligadas à situações de estresse, como medo, ansiedade e angústia aumentam, assim como condutas reativas ligadas ao comportamento privado, em família, ou público, agravando a violência característica de centros urbanos e hiperdimensionando valores antissociais já presentes, como discriminações de raça, gênero, classe social e em relação a migrantes”.
Para Luz, atualmente, defender valores solidários ao invés de valores individualistas requer um certo grau de heroísmo para resistir à pressão capitalista. E esses valores solidários são os essenciais na defesa da universalidade pelos profissionais de saúde do SUS.
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