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A saúde coletiva e suas práticas

dsc01935.jpgMesa-redonda na tarde dessa sexta lota auditório para discutir o tema

É provável que a mesa-redonda “Campo de práticas da saúde coletiva” tenha sido a mais concorrida dessa sexta-feira no ABRASCÃO. O auditório de 140 lugares da Faculdade de Educação ficou pequeno e foi o jeito se acomodar como deu para ouvir Gastão Wagner (UNICAMP), Jairnilson Silva Paim (UFBA) e Lilia Schreiber (USP), sob a mediação do pesquisador do Lappis Kenneth Rochel Camargo Jr. (IMS-UERJ).

O título amplo e provocativo da mesa proporcionou um grande momento dentro do Congresso. Os debatedores fizeram uma espécie de tempestade de ideias, contextualizando o campo da saúde coletiva desde seu surgimento, no final da década de 70, até o lugar que ela ocupa hoje, levantando a plateia para o debate, em muitos momentos.

kenneth_3.jpgO professor Jairnilson delimitou alguns movimentos históricos que antecederam a instituição desse campo, pontuando suas diferenças em relação à saúde institucionalizada e à medicina preventiva. “Antes de ser uma prática, a saúde coletiva é um movimento de ideias”, disse. E sugeriu pensar a prática num sentido mais amplo como um tipo de intervenção que altera as relações de poder. “Uma prática que seja também científica, ideológica, política”. Para ele, nesse momento, é necessário reconceitualizar o objeto de prática da saúde coletiva. “Na medida em que se reconceitualiza o objeto, automaticamente, os meios de trabalho se adequam”.

Lilian Schreiber, da USP, reforçou que o contexto do final dos anos 70, em plena ditadura, foi determinante para o surgimento de uma prática de saúde ousada, centrada na democracia, preocupada com os direitos dos sujeitos. “Foi isso que animou o espírito das pessoas em torno da proposição da saúde coletiva”, disse Lilia. “Era a renovação da ideia de uma prática ético-política, que repensava a saúde e ao mesmo tempo a sociedade brasileira”.

A pretensão do campo, segundo Lilia, era de rearticular as questões sanitárias com as abordagens sociais e culturais, extraindo daí não apenas uma reforma profissional, mas que articulasse teoria e prática e ainda teoria, prática e prestação de serviço, um sistema que fosse ele também formulador de políticas.

Gastão Wagner e um apoio à plateia

kenneth_2.jpg“A Saúde Coletiva brasileira aparece como reconstrução teórico-crítica do campo da saúde, centrada no referencial da emancipação humana, da liberdade, do direito à saúde”, refletiu o professor Gastão Wagner. “Queríamos uma teoria das práticas que atuasse em função do ser humano, da vida. Essa era e continua sendo a  nossa utopia”.

Talvez motivada pela fala do professor, uma das participantes ao final do auditório, impossibilitada de ouvi-lo, pediu licença e soltou um pedido em alto e bom som. Queria que o professor fizesse algo para ajudá-los. E ele fez, lembrando os velhos tempos – “quando os eventos coletivos eram realizados na base da voz, sem microfone”, ele disse. E pediu que o público à frente do auditório fizesse algum esforço para que todo mundo se acomodasse um pouquinho, permitindo o acesso de cerca de 30 participantes que se acotovelavam ao fundo.

Era a deixa para que Gastão Wagner continuasse a sua fala sobre intersubjetividades e a ideia de interação, cogestão, saúde coletiva compartilhada, com foco no usuário. “A saúde coletiva surge para provocar uma relação interativa de construção de si mesmo, de defesa de solidariedade e da sociedade, tendo como aporte as ciências sociais”, continuou. “Essa era a grande novidade da saúde coletiva, uma mudança de paradigmas, que abre toda uma possibilidade epistemológica”.
Para ele, foi feita toda uma discussão e uma crítica sobre a medicina tradicional e a visão restrita da medicina. “Essa é a visão que a gente propõe substituir e, em grande parte, substitui. Mas outras questões se colocam como, por exemplo, quem são os profissionais que  a saúde coletiva forma?

As falas densas foram arrematadas ainda pelo mediador Kenneth Camargo, que disse ser a Saúde coletiva um campo complexo e interdisciplinar. Mas alertou para o fato de que “já fomos muito mais interdisciplinares que agora”. Ele acredita que a saúde coletiva é uma prática com sentido de possibilitar diálogos e que a grande força do campo porde estar justamente em resgatar essa interdisciplinaridade, refazer essas interconexões. Mas esse é assunto para uma outra mesa-redonda. De preferência, outra vez, com auditório lotado.
 
 

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