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A integralidade no cotidiano em Salvador

Oficina_sesab.jpgVeja depoimentos dos participantes da oficina

A Integralidade em Rede no SUS. Esse foi o tema de uma oficina, que aconteceu em dezembro, em Salvador, promovida pela Diretoria de Gestão do Cuidado (DGC), da Superintendência de Atenção Integral à Saúde (SAIS)/Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (SESAB). Uma das mediadoras do evento, a coordenadora do Lappis, Roseni Pinheiro, levou para o encontro uma aproximação conceitual com o tema da Integralidade, Ação programática, Apoio Institucional e Direito à Saúde.

Segundo Clotildes Sousa, psicóloga sanitarista que esteve na equipe de organização da oficina, o evento faz parte de um processo mais amplo que vem sendo conduzido pela DGC: a revisão de suas práticas cotidianas.

O BoletIN quis saber dos participantes – todos eles, profissionais da DGC – o que fica como desdobramento de uma oficina como essa para o grupo? O encontro rendeu o poema impactante de Tiago Parada, integrante do programa MobilizaSUS, que visa promover o fortalecimento da participação popular na decisão em políticas públicas, orientado pela Educação Popular em Saúde.

Vamos aos testemunhos e à poesia:

Oficina_sesab_victor.jpg"O encontro inicia uma possibilidade através do princípio da integralidade de produzir um novo olhar as práticas de gestão da Diretoria de Gestão do Cuidado (DGC). Os trabalhadores-gestores reconheceram a necessidade do diálogo em cada unidade de produção e entre setores da diretoria, criando zonas de fronteiras entre as diversas políticas e saberes que integram a diretoria. Assumir o cuidado como valor ético, norteador da gestão, atenção e das relações de trabalho é principal desafio e compartilhamento de experiência deixada pela Roseni. Desde a sua organização até a finalização a DGC convidou a academia, na representação do Lappis, mais duas diretorias da SESAB (DGTES e DAB) numa ação ousada e inédita de processo avaliativo, acreditando no sentimento solidário e dialógico"  (Victor Brandão – Diretoria de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde – Coletivo de Humanização –  Psicólogo e Sanitaristaa).

“Eu acho fundamental o debate da integralidade por que é uma tentativa de garantir um dos princípios do SUS, na medida em que a integralidade deve ser uma ética para a gestão, para o trabalho, a atenção e a educação na saúde”. (José Carlos Silva – Diretor da Diretoria de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde – DGTES).

Oficina_sesab_caliandra.jpg“Fica a provocação de repensar o fazer do ponto de vista da integralidade, de sair da zona de conforto dos fazeres repetitivos, engessados, que sempre priorizam o "urgente", quase nunca o importante. Ficam perguntas sobre a complexidade do cuidado e sobre nossas práticas esquizofrênicas na gestão, que se refletem na assistência e se retroalimentam perpetuando o fazer em "caixinhas", automático, cansado, queixoso e paralisante. Incita ao movimento, à mudança, ao desafio de olhar o sujeito pelos mais diversos ângulos, e poder se maravilhar com  isso, ao invés de recortá-lo para intervir numa pequena e pobre parte, num pobre cuidado, de resultados duvidosos.
O resultado é a possibilidade de construir no grupo, apesar das diferenças, dos recortes, das temáticas, uma noção de integralidade que convoque a uma transformação das práticas desse grupo.  Transformação esta que parta do princípio que temos todos um único objeto de cuidado, o sujeito em sua integralidade, e que atuarmos de forma conjunta, dialogada, interpenetrante, no território onde esse sujeito vive e se constitui é um desafio que devemos ter sempre em nosso horizonte. (Caliandra Machado Pinheiro – Psicóloga – Técnica da área de saúde mental)

Oficina_sesab_clotildes.JPG“Um dia após o encontro com Roseni, o grupo seguiu em oficina discutindo o novo arranjo para o  processo de trabalho da diretoria e conseguiu elencar propostas que buscam vencer as barreiras de integração entre as áreas técnicas. O grupo assumiu a Integralidade como eixo norteador das suas ações e enfatizou a questão do diálogo e comunicação entre as áreas.
A oficina foi uma marco, funcionando como um disparador que possibilitou desacomodar os sujeitos dos seus lugares confortáveis, ao tempo que permitiu dar corpo às reflexões que já vinham sendo produzidas de modo “empírico”. De modo sintético, o momento com Roseni lançou luz sobre questões que não conseguíamos alcançar e  favoreceu garantir uma agenda permanente de diálogo e produções para este coletivo. (Clotildes Sousa – Psicóloga Sanitarista – Comissão Organizadora da Oficina)

Oficina_sesab_nilma.jpg“Acredito que fica como desdobramento a tarefa de imprimir mudanças às pequenas práticas no cotidiano no trabalho. Muitos sinalizaram a mudança que pode ocorrer na própria rede de pedidos e nas formas de relacionar-se. Além de uma chamada ao reconhecimento, a função da equipe administrativa nas articulação das ações na Diretoria de Gestão do Cuidado e da necessidade da discussão interna sobre Rede e como essas podem direcionar o processo de trabalho da equipe.
Para mim, o resultado já foi o processo de abrir-se à discussão coletiva. No momento de instabilidade que os trabalhadores da Diretoria estão vivendo, estão surgindo espaços de embate, sensibilização e incômodos coletivos que atuam como mola propulsora de mudanças. Avalio de forma positiva que esse movimento esteja surgindo no grupo e sendo conduzido por ele com o auxílio de atores que os mesmos identificam como contribuintes a esse processo.  As discussões no grupo deram conta de demonstrar que, quando a tarefa está clara e demanda a ação coletiva, os trabalhadores conseguem se organizar em coletivos ampliados. No entanto, no cotidiano, quando a tarefa se encerra, o grupo não consegue manter esse modelo de organização. Tal constatação apontou que as mudanças são possíveis, desde que o objeto da ação esteja claro. (Nilma Lima dos Santos – Apoiadora Institucional Diretoria de Atenção Básica – SESAB)

“Para mim, particularmente, a vivência de trabalhar coletivamente a construção conceitos a partir do diálogo resgata aquilo que Paulo Freire sistematizou enquanto pedagogia transformadora, que nos potencializa a construir caminhos de um inédito viável frente a situações limites que nos oprimem. E na oficina, isso é ratificado na construção do conceito de integralidade a partir d@ usuári@, do ser real, retomando o direito à saúde enquanto resultante da luta democrática por um projeto de sociedade, o que nos coloca a tod@s num mesmo barco. E nos convoca a estar com, e não para ou sobre, @ out@, entendendo que nosso "ser mais", nossa liberdade, se fortalece, cresce, quando se encontra com a d@ outr@.
Tiago_Bahia.JPGPor isso acredito que o diálogo construído, além de ratificar esse como fazer, contribuiu para o desacomodar dos sujeitos e convida-nos a uma implicação no enfrentamento da inércia institucional de não-efetivação de políticas sociais. (Tiago Parada – Enfermeiro Sanitarista, profissional da Diretoria de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde)

Mito da Integralidade
Integralidade com desintegralidade…
a rima é fácil e a dialética até justifica,
mas, em ato, como é que fica?
No Estado Democrático de Direito (ladeira acima?),
em nosso "presente como futuro passando",
como fazemos nossa História?
Apenas lembrando?
Ou pautad@s na memória?
Que memória? Há escolha? Se há,
como acessar aquela da luta pela democracia?
Como lidamos com o poder no dia a dia?
O movimento popular que brocou, na estrutura dura,
uma área técnica de cuidado,
não poderia nos ajudar, na labuta da luta,
a se mexer num Estado travado?
Mas sem basismo, pois o que vem de lá,
por si só, não é ruim nem bom.
Mas com humildade e solidariedade, como música,
dialogando com outr@s, podemos achar o tom.
Então,
nem ovo nem galinha,
estamos falando de cuidado integral,
então a questão é de princípio, não é de linha.
E com @ "usuári@", em nossa história real,
uma resposta a nossa pedra se escrevinha…
É,
mas nela,
uma pergunta chega quase nos esculachando:
Gestor@s, trabalhador@s,
acadêmic@s, gente estudando,
 
De verdade,
Qual nosso projeto de sociedade?
(Sistematização: Tiago Parada. Roda da DGC, com Roseni Pinheiro, sobre Integralidade, 2012)

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