A décima primeira edição do Seminário do Projeto Integralidade traz debates inéditos e novidades na organização. O tema deste ano será “Cidadania do cuidado: o universal e o comum na integralidade das ações de saúde", que inaugura uma discussão inovadora no campo da Saúde Coletiva no Brasil.
“A proposta diz respeito a um conceito que cunhei, há cerca de seis anos, que é a perspectiva de efetivação da Integralidade como um direito de cidadania na ação e na prática do cuidado”, diz a coordenadora do Lappis e do Seminário Roseni Pinheiro. Segundo ela, o tema subjacente à ideia da cidadania do cuidado é discutir, de forma sistematizada, um dilema que está posto principalmente no campo dos Direitos Humanos à saúde, que se caracteriza como o que é universal e comum na integralidade das ações.
“Temos a noção do direito à saúde como um direito de cidadania, partimos do pressuposto de que a idéia de universalidade se aproxima da questão da igualdade – uma sociedade justa e igualitária, mas na pratica no cotidiano dos serviços se materializa no acesso a unidade e ao cuidado”, explica. “Mas a questão é que, quando universaliza, nem sempre ela se torna comum (no sentido de Hannah Arendt do agir político – communities) a todos. Há uma pluralidade de demandas e de atores. Então, como fica a universalização nesse sentido? Diante dessa perspectiva de uma defesa por um Sistema Único de Saúde, e de um modo geral, dos sistemas universais, da garantia do direito, acredito que seja um debate extremamente pertinente e que nos é muito caro. Há grupos identitários lutando por direitos a acesso, a reconhecimento e ao mesmo tempo tem que se prover a todos”.
Roseni Pinheiro cita a recente criação da SESAI (Secretaria Especial de Saúde Indígena), como exemplo, por ser uma demanda antiga “A necessidade é tão grande que são exigidas políticas focalizadas”. Por outro lado o que seria o comum para essa população que poderia atender também outros seguimentos? “A questão do comum, que é esse agir político, é a forma como torno universalizável o direito para todos”, reflete. “Além disso, precisamos de aportes epistemológicos mais porosos aos impulsos da vida cotidiana, das experiências dos sujeitos em sua busca por cuidado. Entendo essa perspectiva como a condição humana de se efetivar direitos de agir politicamente. Isso significa política no seu sentido mais alargado, prático-teórico”.
As teorias da dádiva e do dom oferecidas pelo Prof. Paulo Henrique e discussão sobre Filosofia do Direito, na perspectiva arendtiana desenvolvida pela profa. Bethania Assy, são algumas das contribuições que considero inovadoras para o campo da saúde coletiva, no que concerne a sua natureza interdisciplinar. “Trata-se de um auxilio luxuoso para nossa discussão da integralidade”.
Dádiva e mediação de redes sociais
Pela primeira vez, o evento será realizado fora do Rio de Janeiro, de acordo com a proposta apresentada no último seminário para tornar as edições itinerantes. O local escolhido para acolher o evento este ano foi o Centro de Filosofias e Ciências Humanas (CFCH), na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em Recife. “É bastante razoável que os seminários sejam realizados nos locais onde temos parceiros que acolhem essa literatura e essa discussão. Temos Prof. Paulo Henrique Martins, do Núcleo de Cidadania (NUCEM), que nos últimos quatro anos tem contribuído enormemente para nossa produção de conhecimento e pesquisa”.
É justamente o Professor Paulo Henrique Martins que vai abrir o evento com a conferência “Dádiva e Mediação de redes sociais na saúde: signos e significados para a universalidade das práticas de integralidade do cuidado”, que será realizada no dia 12 de setembro, às 9h30. A primeira mesa, “Entre a vontade e a virtude nas práticas do cuidado: por um ethos da ação e da responsabilidade na saúde", será realizada em seguida, às 10h30. Coordenada por Roseni Pinheiro, o primeiro debate traz os Professores Bethânia Assy (Faculdade de Direito/UERJ) e José Ricardo Ayres (Faculdade de Medicina Preventiva/USP), Felipe Rangel Machado (ESPJV/FIOCRUZ) e Rogério Freitas (UFPB). À tarde, Dario Pasche (DAPES/MS), Itamar Lages (UPE) e Francini Guizardi (ESPJV/FIOCRUZ) participam da mesa redonda “Redes Cotidianas de Cuidado: desafios e possibilidades de incorporação de redes sociais nas práticas avaliativas em saúde”, coordenada por Aluisio Gomes da Silva Jr (ISC/UFF). Fechando o dia, às 17h, a mesa “Extensão Universitária: estratégias integradoras entre ensino-pesquisa-serviço”. “Sentimos uma desmobilização muito grande em torno desse tema. Como estamos tratando a ideia de redes cotidianas e trabalhando as funções essenciais da universidade, vamos trazer à discussão o papel da extensão universitária como uma estratégia integradora de ensino, pesquisa e serviço”.
A avaliação formativa na saúde do ponto de vista da aprendizagem docente, em mesa realizada no dia 13, pela manhã, também estará na pauta do evento. “O docente aprende com aquilo que ensina? Como ele aprende? Essas redes podem contribuir para a formação dele? O ato de ensinar o exclui dessa ação formativa. Queremos refletir sobre isso”. A mesa terá a coordenação de Lilian Koifman (ISC/UFF) e a participação de Maria Elizabeth Barros de Barros (UFES), Isabel Brasil (ESPJV/FIOCRUZ), Tatiana Coelho Lopes (Hospital Sofia Feldman) e Rodrigo Pinheiro (Faculdade de Medicina/UFAC). As mesas serão encerradas com “Racionalidades Médicas e práticas de saúde: desafios para a clínica e a promoção em saúde na integralidade do cuidado”, coordenada por Madel Therezinha Luz. Gustavo Couto (Secretário Municipal de Saúde de Recife), Alda Lacerda (ESPJV/FIOCRUZ), Leandro David (Ucis Guilherme Abath/SMS-Recife) e Cesar Favoretto (IMS/UERJ) marcam presença nesse debate.
O evento também terá lançamento de livros do Lappis. Além da tradicional publicação do seminário, serão relançados os livros Avaliação em saúde na perspectiva do usuário: abordagem multicêntrica (Ed. CEPESC, Org. Roseni Pinheiro e Paulo Henrique Martins), Cuidado: trabalho e interação nas práticas de saúde, do Prof. José Ricardo Ayres na coleção “Grandes Clássicos da Integralidade” e Atenção Básica e Integralidade: Contribuições para estudos de práticas avaliativas em saúde (Ed. CEPESC, Org. Roseni Pinheiro, Aluisio Gomes da Silvia Junior e Ruben Araújo de Mattos).
O XI Seminário será realizado nos dias 12 e 13 de setembro, após o Congresso do ALAS. “Já disse outras vezes que o que a acolhedora cidade de Recife e o Estado de Pernambuco significam pra mim: uma grande incubadora. Agradecemos antecipadamente à Secretaria Municipal de Saúde do Recife e do Estado e, sobretudo, da Universidade Federal de Pernambuco. Será uma oportunidade de aprendizado muito grande, já existia uma demanda para fazer o seminário na região Nordeste. Vai facilitar a vida de quem está no Nordeste e Centro-Oeste”, encerra a coordenadora.
Fique de olho! Em breve, vamos divulgar nosso site de inscrições.
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