A jornada de discussões do XII Seminário da Integralidade chega ao fim nesta sexta. Pela manhã, entre relatos de experiências que foram do Rio de Janeiro ao Acre, passando pelo caso do Hospital Sofia Feldman, em Belo Horizonte, a professora Beth Barros (UFES) empolgou a plateia ao sugerir a transdisciplinaridade como uma prática para subverter as hierarquias do saber. “Era o que todos estávamos precisando ouvir”, disse ao site do Lappis Rozilanie Lago, professora da UFAC.
Para Rozilanie, o discurso de Beth Barros resgata uma reflexão importante e serve para despertar quem está acomodado em seu cotidiano, sejam profissionais de saúde ou docentes. “Ainda encontramos muitas práticas assistenciais fragmentadas que acabam negando a transidisciplinaridade”, disse Rozilanie. “É inspirador encontrar aqui no Seminário tantas falas propositivas que trazem de volta nossa disposição para o coletivo”.
Era exatamente esse o ponto sugerido pela professora Beth Barros. Ela colocou em discussão a precarização do trabalho na saúde para afirmar que esse é um dos principais fatores da burocratização que leva à padronização dos processos nos locais de trabalho. “Não se produz trabalho em equipe com uma tentativa de padronização do conhecimento”, disse Beth, sugerindo uma estratégia transversal para pensar o trabalho em equipe. “Sem a arrogância de alguns saberes que se assumem maiores, desqualificando os demais”.
O tema da mesa foi “As fronteiras do trabalho em equipe nas fronteiras: entre o geral e o específico na gestão do cuidado na saúde”. Beth aproveitou ainda a metáfora para lembrar que fronteira é o lugar de encontro, inclusive de saberes. “Não se trata de um lugar fixo, mas um desterritório, um espaço que produz vertigens, onde tupo pode acontecer”, disse. Para ela, quando se trabalha em equipe é necessário estar disposto a essa experiência vertiginosa do encontro com as diferenças. “É exatamente nessa fronteira que existe a possibilidade de que algo aconteça”, acrescentou.”
Exemplos
Para mostrar boas práticas de trabalho em equipe, a mesa da manhã teve ainda a fala de Tatiana Lopes Coelho, que compartilhou com os presentes a rede de produção de conhecimento do Hospital Sofia Feldman, de Belo Horizonte, no cuidado à saúde da mulher, do recém-nascido e da família. Do Rio de Janeiro, o psiquiatra Carlos Eduardo Honorato, da Secretaria de Saúde do Estado, trouxe o tema da Saúde Mental e apresentou mais uma experiência de fronteira – dessa vez, as fronteiras que existem entre o hospital psiquiátrico e a comunidade. E Ximena Catalán, da Secretaria de Saúde do Acre, compartilhou alguns dados e aspectos relevantes da saúde mental no Estado.
Veio de Pernambuco outro relato que despertou interesse. Dessa vez, a pesquisadora da Univasf, Bárbara Cabral, fez um recorte de sua trajetória acadêmica para apresentar ao grupo. O ponto de partida foi a sua tese de doutorado defendida recentemente exatamente sobre trabalho em equipe.
Intitulada “Ação transdiciplinar como produção coletiva: percussões e repercussões no trabalho em equipes de saúde”, o trabalho discutiu a inserção de psicólogos nos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), de Juazeiro a Petrolina. A pesquisadora fez um estudo de narrativas e, inspirada pela prosa poética do escritor mineiro Guimarães Rosa, apresentou os dados em forma de contos: 10 histórias que dão conta da sua inserção em campo. Foi uma manhã inspiradora.
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