XII Integralidade sem fronteiras

Público comemora a riqueza da “Ágora” no pré-seminário

agora_1.JPGO Auditório do Hospital das Clínicas, em Rio Branco, transformou-se em uma Ágora na manhã desta terça. A ideia era mesmo criar um espaço livre para discutir a saúde em seus mais diversos aspectos. Áreas programáticas, políticas públicas, a efetivação do direito à saúde e a questão das fronteiras foram alguns dos temas tratados de maneira inspirada pelos integrantes da mesa. Para o público presente ao segundo dia de pré-seminário da Integralidade, o debate foi, no mínimo, provocativo.

A estudante de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Acre (UFAC), Luciana Sousa,  por exemplo, gostou de conhecer melhor o trabalho da Central de Articulação das Entidades de Saúde (CADES). Na mesa, a representante da entidade e integrante do Conselho Municipal de Saúde, Elisama Lima,traçou um panorama do papel da Central, que hoje agrega 25 ONGs que desenvolvem projetos em parceria com órgãos governamentais e privados do Acre relacionados à prevencão e assistência à saude, tendo como princípios a equidade, a universalidade e a integralidade. “Esse debate tem tudo a ver com a minha área. Vim como estudante e observadora. E saio daqui muito feliz com o que assisti hoje”, disse Luciana.

agora_2.JPGPara Cláudio Claudino, que participou da Ágora com um relato sobre sua experiência à frente da Coordenação do Núcleo de Prevenção à Violência e Cultura de Paz de Juazeiro da Bahia, ao aproximar teoria e prática, o Seminário transforma-se num importante exercício de democratização do acesso ao conhecimento.  “Não só rompe com fronteiras geográficas mas ajuda a mostrar que não existem fronteiras entre academia, serviços de saúde e profissionais”, disse.

Presente à Ágora da manhã de hoje, a estudante de Serviço Social, Wanessa Coelho, destacou a fala de Cláudio. “Me impressionou a discussão sobre violência doméstica que ele trouxe. Acho que aqui, na Região Norte, a gente está precisando se qualificar nessa área. Temos muitos problemas. O seminário nos oferece exemplos que nos servem de instrumentos futuros”, disse.

Alteridade e fronteiras

agora_3.JPGConceitos como alteridade, reciprocidade, fronteiras, participação e transversalidade permearam todas as falas e dão uma ideia da plutralidade e riqueza do debate.  Leny Trad (ISC/UFBA) levou para a Ágora a discussão sobre os desafios do direito à saúde e acessibilidade no SUS a partir de um estudo sobre os imigrantes estrangeiros. “Qualquer discussão em torno do direito à saúde passa por políticas transnacionais e pela questão das fronteiras. Não é possível que o Brasil adote políticas unilaterais e isoladas”, complementou. Ela sugere pensar ainda o conceito de “linguagem” como uma maneira de superar as diferenças. E finalizou sua fala, lembrando o personagem Fabiano, do clássico Vidas Secas, de Graciliano Ramos, um homem que se vê na cadeia por ter um universo linguístico restrito e distinto dos demais. “A incomunicabilidade afasta os seres humanos”, atesta leny Trad.

Para Douglas Jose Angel,  responsável pela área de educação na saúde da Semsa, a fala de Leny foi importante porque resgatou a discussão sobre a garantia do direito à saúde levando em conta as questões culturais e da fronteira, extremamente relevantes para o Acre.  “Essa é uma preocupação nossa, de pensar a saúde por uma visão holística do cuidado com a população de Rio Branco e de garantir o direito constuitucional de toda a população independente se sua procedência”, afirmou.

agora_5.JPGPara Francini Guizardi (EPSJV/Fiocruz), que também participou da Ágora, a discussão foi muito heterogênea trazendo para o debate elementos muito interessantes como a questão da organização institucional, o papel da sociedade civil e das organizações sociais, além do tema da fronteira. Alda Lacerda (EPSJV/Fiocruz) concorda que participar da mesa foi uma experiência riquíssima. “Como pesquisadora e professora, posso dizer que é fantástica essa troca de experiência com as pessoas que estão tocando os processos de produção do cuidado em saúde no seu cotidiano”, pontuou. “O Seminário aqui no Acre permite essa troca de conhecimentos e a mesa da manhã foi incrível no sentido de articulação de ideias, de construção da integralidade e da efetivação do direito à saúde”.

A atividade foi mediada por Gustavo Nunes, coordenador da Política de Humanização do Ministério da Saúde.

Tarde de avaliações políticas

Na parte da tarde, uma mesa-redonda, que contou com representantes do poder público municipal, estadual e federal, discutiu os desafios, limites e perspectivas da universalidade do acesso ao cuidado nas fronteiras da Amazônia Legal. Oswaldo leal, secretário municipal de Saúde de Rio Branco, avaliou a mesa como uma atividade extremamente aberta e  honesta em seus propósitos. “Foi uma oportunidade para ouvir dos outros debatedores e participantes posicionamentos  éticos em relação ao trato da política e do público”, disse.mesa_segundo_dia.JPG

Prova da intensidade do debate foram as duas horas e meia da discussão que se estendeu mais do que o previsto, com o público permanecendo até o final. A mesa trouxe para a reflexão elementos importantes ccomo o movimento do mercado influenciando na Atenção Básica ou a necessidade de construção de estratégias que ofereçam saídas para dificuldades de acesso das populações ribeirinhas.  “Trouxe inúmeras questões que ficam como dever de casa. O fato de ter deixado mais questões do que pontos convergentes é extremamente saudável e importante”, concluiu o Secretário.

A mesa teve a coordenação de Aluisio Gomes da Silva Junior e contou ainda com a participação de Gustavo Nunes, representando o Ministério da Saúde.

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