XIII Seminário Clipping

Mesa debate o tema Comunicação, saúde e sociedade

Patrícia Dorileo e Thiago Mattos – Publicado originalmente no ObservaRH
O XIII Seminário da Integralidade chegou ao seu segundo dia e, na parte da tarde, tivemos a mesa-redonda “Comunicação, saúde e sociedade”. Antes da atividade, os participantes estavam ansiosos para acompanhar o debate. “Espero que os profissionais de saúde tenham melhor contato com a comunidade e quero aprender sobre práticas para facilitar esse contato”, disse Eliani de Freitas, gestora e estudante de enfermagem em Nova Ubiratã-MT, resumindo a expectativa dos/as participantes.
 
A mesa contou com quatro expositores e foi mediada por Maria Angélica Spinelli, coordenadora do Observatório de Recursos Humanos em Saúde do Núcleo de Desenvolvimento em Saúde e doutora em Saúde Coletiva pela Faculdade de Medicina da Unicamp. Os palestrantes exploraram diferentes temas dentro do assunto proposto pela mesa e focaram em falar sobre os projetos que cada um tem neste âmbito.
 
A jornalista, professora da Universidade Federal do Acre e doutoranda em Comunicação, Informação e Saúde pela Fundação Oswaldo Cruz, Juliana Lofego, retratou especialmente a comunicação exercida pelo Programa Nacional de Controle de Câncer de Colo de Útero. O projeto pretende reduzir a mortalidade das mulheres brasileiras por essa doença e é coordenado pelo Instituto Nacional do Câncer do Ministério da Saúde (Inca). Essa política comunica e informa às mulheres sobre o alto potencial de prevenção e cura do câncer de colo de útero, como explica Lofego, além de a possibilidade de subdiagnóstico também ser alta. Ela afirma que a região Norte do país é a que tem maior índice de mulheres com câncer de colo de útero e este cenário só vem crescendo, e, em função disso, é a região em que o Programa foca atualmente.
 
O mestre em saúde coletiva pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Elias Rassi Neto, abriu uma discussão a respeito da forma como a saúde é tratada nas mídias local e nacional. “Há um massacre muito grande por parte da nossa mídia”, afirma Rassi, dizendo que existe uma contraposição em relação ao que os veículos divulgam. Ele ainda argumentou dizendo que a mídia massacra o sistema público de saúde diariamente, ao retratar pessoas em hospitais precários, enquanto, ao mesmo tempo, exibe pessoas públicas importantes, como  Lula, José Alencar e José Sarney, recebendo tratamento em hospitais particulares de ponta. Elias destacou que essa contrariedade excluia possibilidade de discussão sobre a estrutura da saúde pública no Brasil. Criticou também o sistema, pois, segundo ele, há maior preocupação com a realização do procedimento (o chamado “complexo industrial da doença”) do que com o estado do paciente.
 
O doutor em educação e professor de Comunicação Social, Diélcio Moreira, explicou seu projeto “Comunicação e Educação Popular em Saúde”, que realiza, no município de Nossa Senhora do Livramento e no bairro Canjica, em Cuiabá, e mostrou as realidades e resultados alcançados no local. Entre as observações do projeto, após a equipe aplicar um questionário sobre saúde para mil famílias do bairro, perceberam que o índice de hanseníase e alcoolismo era alto, e, ao mesmo tempo, a frequência dos jovens nos postos de saúde da região é quase zero e, portanto, os agentes não conseguem dialogar com estes jovens. Além disso, pais e filhos praticamente não conversam sobre o conteúdo midiático – quando sim, sobre tratam de assuntos criminais. Concluiu-se com este estudo que os jovens da comunidade têm dificuldades em comunicar-se e, para isso, precisam de porta-vozes – que são seus pais, familiares, vizinhos e amigos. Com o intuito de mudar essa situação, Diélcio e os alunos envolvidos no projeto ofereceram oficinas (de fotografia, internet, publicidade, jornal, vídeo e rádio) a esses jovens, que perceberam, ao verem seus trabalhos finalizados, que podem falar por eles mesmos.
 
A última expositora a falar foi a médica Vera Lúcia Dantas, que também é doutora em Educação e integra a Associação Nacional de Educação Popular em Saúde (Aneps). Na capital do Ceará, existe o projeto comunitário “Sinfonias para uma Ciranda na Cidade”, que objetiva integrar os jovens e problematizar, através da música, cantigas de ciranda, grafite e teatro, as mazelas que assolam a saúde pública do estado. “Às vezes, nós, profissionais da saúde, não enxergamos as potências (da comunicação), só enxergamos os limites”, diz Vera Lúcia, que defende o projeto como forma de integralidade e comunicação entre a sociedade cearense. Sua apresentação foi marcada, além de suas falas, pela coparticipação de um membro do projeto, que surpreendeu os participantes do XIII Seminário ao cantar algumas cantigas de autoria dos jovens do projeto, alegrando a plateia.
 
Todos os participantes concordaram que existem inúmeras mídias que precisam ser melhor aproveitadas para a comunicação e integração entre informações de saúde e a sociedade. “A mesa me surpreendeu, pois foi uma discussão muito além daquela que estamos acostumados”, afirmou Miriam Guimarães.
 

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