XII Integralidade sem fronteiras

Integralidade sem fronteiras: um diálogo entre Brasil e Argentina

Foto_Pablo_di_leo_definitiva.JPGA palavra-chave é diálogo. Eis a expectativa do professor da Universidade de Buenos Aires (UBA), Pablo Francisco di Leo, mais um palestrante do XII Seminário da Integralidade, que acontece em agosto no Acre. Doutor em Ciências Sociais, o pesquisador participa do evento este ano na mesa-redonda “Cuidado, Direito e Multiculturalidade: os itinerários da justiça na busca por cuidado”. Nesta entrevista para o BoletIN, Pablo fala sobre as políticas públicas de saúde e a produção acadêmica na Argentina, a relação com o Brasil e a expectativa para o intercâmbio de experiências durante o Seminário.
 
BoletIN – O tema do XII Seminário de Integralidade gira em torno da Integralidade sem fronteiras: itinerários formativos, de justiça e de gestão na busca por cuidado. Como você vê a importância desse debate para as práticas de saúde coletiva e a elaboração de políticas públicas de saúde?
Pablo di Leo – Eu acredito que tanto o desenvolvimento quanto a articulação das categorias “justiça", "cuidado" e "saúde" são fundamentais para a legitimidade e geração de projetos, pesquisas e ações de saúde coletiva, baseadas na Integralidade. Somente após esse trabalho, que é necessariamente tanto teórico como prático, científico e político, é possível romper com o senso comum científico e não-científico dominantes que, pelo menos na Argentina, continuam sendo reproduzidos nas práticas cotidianas de serviço e demandas de saúde. Além disso, a produção e discussão dessas questões constituem recursos estratégicos para a disputa frente à hegemonia neoliberal que, ainda hoje, continua produzindo em nosso país a fragmentação, a mercantilização e a desigualdade no sistema de saúde
 
 
BoletIN – Durante o Seminário, você vai estar presente na mesa de debates: “Cuidado, Direito e Multiculturalidade: os itinerários da justiça na busca por cuidado”. Como o tema da justiça e do direito humano ao cuidado vem sendo exercitado na saúde pública de seu país?
Pablo – Essa resposta merece um aprofundamento mais amplo. Mas o que posso dizer, resumidamente, é que, ainda que na Argentina exista uma longa tradição de demandas e propostas tanto das organizações sociais quanto dos campos acadêmico e político sobre a definição de saúde como um direito social, a sua concretização em políticas de saúde coletiva permanece uma dívida pendente. A principal causa desta debilidade pode ser atribuída em parte aos processos de fragmentação, segmentação e mercantilização do sistema de saúde, que vêm se aprofundando há várias décadas nas mãos de políticas neoliberais impostas em nosso país desde 1990. Isso significa que, embora haja exceções – como por exemplo as políticas em torno do HIV/AIDS e da saúde sexual integral –, atualmente os serviços de saúde pública encontram-se estruturados sobre concepções biomédicas e individualistas, ocupando um lugar subalterno em relação aos serviços semipúblicos e/ou privados. Portanto, como disse anteriormente, a atual concepção hegemônica de saúde na Argentina está mais associada à medicalização e mercantilização do que a políticas públicas voltadas para aumentar a satisfação e o direito social à assistência integral à saúde.marca_XII_seminario_2.jpg
 
 
BoletIN – Como você acha que a discussão que vai acontecer durante o XII Seminário pode contribuir para o diálogo entre Brasil e Argentina?
Pablo – Na minha opinião, o diálogo em torno da Integralidade, da justiça e da gestão em saúde, expressos no tema do XII Seminário e também em várias linhas de pesquisa e articulação entre centros acadêmicos e organizações sociais e políticas no Brasil e na Argentina, é hoje essencial para nós. Embora o nosso país tenha uma tradição em saúde pública, que em outros momentos inspirou muitos dos princípios do SUS brasileiro, atualmente essa produção ocupa um lugar periférico nas discussões e projetos de nossos campos acadêmicos e de políticas públicas de saúde. No entanto, no Brasil, os paradigmas da saúde coletiva, da medicina social e da integralidade foram ampliados e fortalecidos nas últimas décadas, articulando demandas dos movimentos sociais e de políticos, intelectuais e agentes de saúde, e se transformaram num verdadeiro bloco histórico para definir os atuais debates, as pesquisas e os arranjos institucionais em saúde pública no país. Assim, o diálogo e a troca de experiências entre Brasil e Argentina são fundamentais nesse momento,tanto para reforçar a integração entre os dois países quanto para gerar valiosos instrumentos teóricos e práticos para todos aqueles que disputam a hegemonia dos paradigmas biomédico e mercantilista de saúde em nosso país.
 
 
BoletIN – Para concluir, qual sua expectativa para o Seminário deste ano e como avalia esse encontro de profissionais, pesquisadores, gestores e estudantes em saúde que vem acontecendo ao longo dos últimos 11 anos?
Pablo di Leo – 
Agradeço o convite e tenho as melhores expectativas para o seminário deste ano: participar de um espaço público em que se compartilhem experiências, projetos e resultados de pesquisas e políticas de saúde, justiça e integralidade, provenientes de contextos culturais muito diferentes, explicitando os pontos de encontro, mas também de heterogeneidades, como meios para ampliar os sentidos e fortalecer as ações no campo da saúde pública. Nesse sentido, acredito que este seminário aprofunda a linha de trabalho que o Lappis/IMS vem desenvolvendo há mais de 11 anos, ampliando suas fronteiras para novos contextos culturais, sociais, nacionais e incorporando novas dimensões para a pesquisa, a reflexão e a gestão da Integralidade em saúde.
 

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