XII Integralidade sem fronteiras

Comunicação e educação foram destaques do dia

mesa_comunicacao_1.JPG“A luta pela democratização da comunicação deve ser também uma luta da saúde”.  A frase da coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Informação, Comunicação e Saúde (PPGICS) da Fiocruz, Inesita Araújo, reflete uma preocupação da mesa “Comunicação, Saúde e Sociedade”, que aconteceu na manhã desta quarta-feira. Coordenado por Juliana Lofego (UFAC), o debate reuniu ainda o comunicador Carlos Camacho (Universidad Catolica Boliviana San Pablo) e Felipe Cavalcanti (IMS/UERJ), do blog Saúde Brasil.

Inesita provocou a plateia sobre qual o papel dos trabalhadores da comunicação e da saúde nesse momento em que as novas tecnologias e inúmeras ferramentas conduzem a uma mudança de paradigmas. Disse que a dimensão política da comunicação não pode jamais ser esquecida  – “A comunicação é indissociável das relações de poder”, argumentou.  E acrescentou que as situações de fronteira favorecem a interlocução e ajudam a perceber o mundo como espaço transitivo, suscetível às lutas e negociações e, portanto, favorável às mudanças.

Para Inesita,  é necessário valorizar a dimensão prática da comunicação e criar estratégias que permitam a amplificação e a circulação dos múltiplos sentidos. “Não podemos perder a nossa capacidade de discernimento crítico e temos que usar o potencial democratizante da tecnologia contra as práticas autoritárias que também existem nesse espaço”, concluiu.mesa_comunicacao_2.JPG

Tanto os participantes da mesa quanto a plateia pareciam concordar que os processos de comunicação são fundamentais em qualquer projeto de desenvolvimento, como alertava Felipe Cavalcanti (foto). “Comunicação e informação já são reconhecidas pela ONU como direitos humanos que podem ajudar a construir uma sociedade mais justa”, disse Felipe, apresentando um breve histórico da computação para acrescentar que é fundamental  criar mais possibilidades de acesso e participação em rede. “Isso fortalece o diálogmesa_comunicacao_3.JPGo e é fundamental para a democracia”, completou.

Para Carlos Camacho, a cultura e os sujeitos ainda devem ocupar um lugar central noc ampo da comunicação, mesmo na era da tecnologia. “Seguimos pensando na força toda-poderosa dos meios e da internet, mas é preciso antes de mais nada conhecer as realidades”, pontuou, citando como exemplo a riqueza dos povos da Amazônia. “E as diferentes formas de cultura”. Juliana Lofego, que mediava a mesa, lembrou o papel da Universidade como essencial para esse contexto.

Educação médica nas fronteiras

Fátima Dias (foto) é líder comunitária do bairro Geraldo Fleming, na cidade de Rio Branco. Nessa quarta-feira, à tarde, ela relatou:

mesa educa fatima_1.JPG“Sou uma usuária e uma defensora do Sistema  Único de Saúde. Não quero que o SUS seja privatizado. Vim aqui hoje como representante da minha comunidade para dizer que o que nós necessitamos é de profissionais de qualidade, médicos, enfermeiros e outros trabalhadores do SUS. A gente quer chegar numa UPA ou num Hospital e ser tratada com cuidado por profissionais humanizados, educados, que conversem com a gente”.

A partir de depoimentos como esse, a mesa formada por Jadete Lampert (presidente da Associação Brasileira de Educação Médica), César Favoreto (Faculdade de Ciências Médicas/UERJ), Lílian Koifman (Instituto de Saúde da Comunidade/UFF) e Nilson Ghiotti (Curso de Medicina da UFAC) e coordenada por Rodrigo Silveira (Centro de Ciências da Saúde e Desporto/UFAC) discutiu o instigante tema da “Educação Médica nas fronteiras: itinerários formativos de fixação de profissionais na região amazônica”.

mesa_educa_3.JPGAo comentar o testemunho de dona Fátima, o professor César disse que a “expertise médica é a competência de olhar, escutar, fazer vínculos e tentar se arproximar para entender e diagnosticar problemas. “Os médicos erram um diagnóstico não porque não sabem reconhecer uma apendicite, mas porque não conseguem escutar o paciente”, apontou. “É necessário construir competências e construir competências é mais do que adquirir conhecimentos médicos”. Para César, os profissionais precisam construir uma trajetória de reflexão crítica a partir de vivências subjetividades.

A mesa pôde ainda aprofundar questões relacionadas à cultura na formação médica,  teoria e prática em sala de aula, educação continuada, ato médico e relações estabelecidas no cotidiano de ensino. Para Lilian Koifman, a pergunta:  “Como ensinar um estudante de medicina a ser um estudante reflexivo?” tem apenas uma resposta: “Sendo um professor reflexivo”.
 
As mesas desta quarta ainda faziam parte da programação do Pré-Seminário. O XII Seminário da Integralidade, propriamente dito, teve abertura oficial na noite de ontem e prossegue pelos próximos dois dias no Auditório do Hospital das Clínicas (HUAC)

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*