A imagem que deu origem aos materiais gráficos do XII Seminário é de autoria de Hélio Melo, que retratou de maneira crítica a vida na floresta, animais, lendas e as mudanças ocorridas no Acre a partir da década de 70. Conheça um pouco da história do artista plástico, músico, compositor e escritor autodidata a partir de trechos da entrevista com sua filha, Fátima Melo.
Hélio Melo passou a infância nos seringais da família na divisa dos estados do Amazonas e Acre. Embora nascido em Boca do Acre, Amazonas, em 20 de julho de 1926, é considerado um artista acriano. Pintava quando criança com os materiais que tinha a mão, estudou até o terceiro ano primário,aos 12 começou a trabalhar como seringueiro e por volta dos 18 passou a tocar sozinho violão e mais tarde violino, com o qual seguiu tocando por toda a vida. Em busca de melhores condições de vida para a família, mudou-se para Rio Branco aos 33 anos, onde trabalhou como catraiero (transportando pessoas de uma margem a outra do rio, ofício que teve fim com a construção de uma ponte), barbeiro e vigia noturno. Em meio a variadas ocupações, manteve sua arte viva na música e foi desenvolvendo o talento em desenhos e escritos.Fátima Melo, lembra que em 2012 completa-se 11 anos de seu falecimento. Se vivo, o artista faria 86 anos neste mês de julho.
…passava o dia inteiro nessa rotatividade, ou seja, ora pintava, ora escrevia, mas sempre finalizava com o som do violino, que naturalmente era sua grande paixão.”
Sempre referenciando o seringueiro e o sofrimento do homem do campo, Hélio Melo começou a ser reconhecido ao fazer desenhos, histórias e músicas sobre o desmatamento que se iniciava no Acre na década de 70 e a expulsão dos seringueiros da floresta para dar lugar à pecuária. Sua filha considera que ele representou de maneira digna não só a classe artística acreana, mas também honrou o estado em exposições e apresentações no Brasil e no exterior, “em uma época que o Acre ainda era totalmente esquecido”.
Hélio Melo representou de maneira brilhante a classe artística acriana. Ele sabiamente utilizou a floresta para denunciar todas as suas insatisfações, mostrando claramente seu lado crítico e também político.”
Foram mais de 70 exposições pelas capitais brasileiras (Rio Branco, Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Curitiba, Recife…) e em países como Itália, França, Inglaterra e EUA. Na 27a Bienal de São Paulo, em 2006, Hélio Melo foi destaque com uma mostra póstuma de seu trabalho. Entre os críticos de arte, a luz emitida em suas telas foi sempre bastante comentada, assim como as cores e a riqueza dos detalhes.
Começou a escrever nos anos 70. Em 1982 publicou “O Caucho e a Seringueira”, sobre as diferentes árvores que produzem o látex na região, com desenhos da estradas de seringa feitas dentro da floresta, como ninguém nunca tinha feito. Publicou nove livros em formato da cartilha formando a série “De seringueiro para seringueiro” e uma coletânea em 2000 que reuniu sete dessas histórias: “O Caucho e a Seringueira”, “História da Amazônia”, “Os Mistérios da Mata”, “Os Mistérios dos Répteis”, “Experiência do caçador”, “Os Mistérios dos Pássaros”, “Via Sacra na Amazônia”. Em 2000, lançou sua última cartilha “Legendas Fotográficas”, em edição bilíngue (português e inglês).
Pigmentação ideológica e sustentável
Hélio Melo criou e aperfeiçoou pigmentos que traziam a ideologia de defesa da floresta e de suas cores a partir do açaí, urucum, casca de melancia e melão de São Caetano. Para chegar aos resultados esperados, fazia várias experiências extraindo pigmentos de folhas de árvores. A essas tintas elaboradas, combinava também o nanquim, para dar mais durabilidade.
Fátima melo diz que não existe nenhum registro detalhado desses pigmentos, mas que a técnica foi passada para alguns artistas que conviveram com ele como Dalmir Ferreira e Valdenízio Rego, este responsável pela renovação de algumas obras.
…por ser um defensor da floresta, pretendia não somente retratar o sofrimento do homem do campo, mas dar originalidade à sua obra.”
Onde encontrar
As obras de Hélio Melo estão espalhadas nos mais diversos lugares como repartições públicas, mural de escolas, igreja, museus e internet.”
Entre as obras mais representativas, Fátima Melo destaca “O homem e o burro”, “O efeito do Mobral”, “A expulsão do seringueiro” e a “Transformação da seringueira em vaca leiteira”, algumas dessas ilustrando a matéria. A obra “A estrada do Seringueiro” foi muito admirada na 27ª Bienal de São Paulo em 2006, especialmente pelo curador adjunto, o colombiano José Ignácio Roca.
Em Rio Branco, algumas de suas obras podem ser vistas no Museu da Borracha, como a tela "A Frente da Cidade (de Rio Branco) em 1962 Era Assim" que deu origem ao cartaz do XII Seminário do Projeto Integralidade. No Parque Chico Mendes, há painéis com personagens do folclore amazônico como o Mapinguari, a Mãe da Mata e o Caboclinho.
O MAPA DA ESTRADA (por Hélio Melo)
No desenho mostramos o Mapa da Estrada do seringueiro. Cada seringueiro ocupa três estradas e cada estrada tem seu feixo. FEIXO (3): Que também é chamado de boca da estrada ou espera-leite. VARAÇÃO (2). OITO (1): Porque parece a forma de um oito, conforme vemos no mapa. ESTIRÃO: Espaço livre sem ter seringueira.
Conheça mais sobre Hélio Melo assistindo ao documentário "A Peleja de Helio Melo com o Mapinguari do Antimary", dirigido por Sílvio Margarido, Danilo D'Sacre, Dalmir Ferreira, Ivan de Castela e Jorge Nazaré.
Fotos retiradas de:
Universes in universe
Fotos da 27a Bienal de São Paulo por Rogerio Maciel
A arte vivencial do artista Hélio Melo
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