"Ação Formativa na Saúde: desafios para construção de redes de aprendizagem docente sob o eixo da integralidade das ações de saúde" realizada na manhã de 13 de setembro, contou com a participação de Maria Elizabeth Barros de Barros (PPGPSI-UFES), Isabel Brasil (EPSJV/Fiocruz), Tatiana Coelho Lopes (Hospital Sofia Feldman), Paulette Cavalcanti (UPE/Fiocruz Pernambuco) e Rodrigo Pinheiro (FM/UFAC) (foto). Em pauta, questões que tangem à formação integral dos profissionais de áreas ligadas à saúde.
Primeira a se apresentar, Isabel Brasil comentou a experiência de formação dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) na Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), destacando a importância da vivência. "Uma reforma curricular, como no curso de Medicina, que integre as pessoas da comunidade também, pode trazer novas reflexões. Tem que se pensar a função social e política do professor: intelectual adaptado ou transformador?", questiona. A diretora da EPSJV ainda criticou o formato das visitas a unidades de saúde realizada pelos cursos. "Temos que ter cuidado para essa visita não virar uma 'ida ao zoológico'. Nas experiências do Politécnico com os ACS, o currículo foi montado não apenas com o sindicato, mas também com moradores da comunidade (alguns do movimento popular), que também serão alvo do nosso serviço".
Paulette Cavalcanti (UPE/Fiocruz Pernambuco) abordou a questão do processo ensino-aprendizagem trazendo a experiência de sua instituição, classificadas por ela como "situações muito positivas, com participação de estudantes, professores e profissionais na avaliação". Refletiu sobre preceptoria, profissionais que questionam os alunos nas unidades e o internato também como espaço importante de reflexão. "Há uma linha da solidariedade, em evidência. Questionamos nossos alunos sobre a forma de tratamento em enfermarias, a partir de vivências anteriores de algo mais ético e sensível, e como significar as práticas cotidianas na média complexidade. Não realizamos apenas 'visitas'".
Tatiana Coelho Lopes falou sobre a experiência da formação profissional em Neonatologia realizada pelo Hospital Sofia Feldman/MG. O curso de especialização é conduzido pelos profissionais do serviço, que atuam também na assistência. "Há uma preocupação em não criar diferença entre academia e serviços – preceptores devem continuar estudando, saber para poder conversar com alunos. Cuidado e integralidade são alguns dos desafios da experiência, e nossa carga prática é grande". Tatiana, que é fisioterapeuta e Doutora em Saúde Coletiva, afirma que é necessário discutir rede de atenção na internação, pois o usuário "pertence a algum lugar e não vai viver em uma UTI".
No Sofia Feldman, o usuário passa pelas decisões de um Conselho, composto por uma ouvidoria constituída por membros da comunidade – se, por exemplo, alguma mãe achar que há muitos alunos acompanhando o filho e isso estiver gerando algum incômodo, ela tem canais para falar sobre o assunto. "Questões como essa são problematizadas. A formação é contínua – a especialização acaba, mas a tendência é que o profissional mantenha esse papel formador. Discutimos sobre a responsabilidade do serviço na formação com a articulação com o usuário e conselho".
"Formação autoestrada"
"Precisamos de mais médicos de família com formação específica. Muitas pessoas estão nas unidades básicas, mas não estão comprometidas com este tipo de prática – quando tem chance fazem residência em outra especialidade. Pessoas pouco conhecem a residência em Medicina de Família e Comunidade", complementou Rodrigo Silveira, médico de Saúde da Família e professor na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Acre (UFAC). Mediadora da mesa, Lilian Koifman (ISC/UFF) apontou que a qualidade do ensino também deve ser questionada. "Na maioria dos casos, se o professor cumpre a carga horária é suficiente".
"O quanto os processos de formação tem dado ouvidos ao que acontece no mundo?", questiona Maria Elizabeth Barros de Barros (PPGPSI-UFES), que dissertou sobre a relação dos processos formativos relacionados a processos de trabalho. Para a professora, os processos formativos devem estar relacionados com uma direção que inclui uma escuta radical ao que está acontecendo. "Atualmente, há um modo de formação 'autoestrada', que vai de um lugar ao outro de forma rápida, retas, sem curvas, sem incômodos". Ela chamou a atenção para o conceito de competência, que se refere especialmente ao acúmulo de conteúdo em espaços de formação.
"Como podemos pensar a competência como outra forma de análise? Ou, mudando a pergunta: temos formado profissionais competentes? A competência de estar em atividade não se reduz a limitação de obediência a ordens restritivas, e sim de uma ordem humana, de potência criadora, de dar conta dos desafios colocados a cada situação exigida", disse. "É criar outras possibilidades, que não se dá em uma perspectiva hierarquizada. Competência que se recusa a obedecer rotinas e estabelecidos – se criam nos processos formativos. Estamos falando de algo que se faz investido no corpo do trabalhador. Capacidade inesgotável de enfrentar a adversidades, capacidade criadora dos humanos, de criar alternativas ao que nos constrange. Não é algo como um privilégio de alguns, mas imanente ao ser humano".
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