“Uma coisa que sempre me intrigou na imagem do Homem Vitruviano, desenho mais que conhecido e referência em vários encartes feito por Leonardo da Vinci, é que na sua essência ele vem representar o ideal clássico tanto do equilíbrio, como da beleza, da harmonia e da perfeição das proporções do corpo humano, segundo estudiosos da obra. Mas a questão maior é: porque a representação do corpo humano se dá a partir do corpo de um homem, unicamente?”.
Com essa indagação, Altair Lira, professor substituto do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Prof. Milton Santos (UFBA), também mestre em saúde coletiva e bacharel em antropologia da saúde pela UFBA, nos faz refletir sobre a representatividade da mulher, principalmente a negra, e sua importância para a representação da mulher vitruviana.
A pintora por trás da obra
Harmonia Rosales, artista afro-cubana, é a pintora que fez a recriação da obra de Leonardo da Vinci: Homem Vitruviano, no qual ao invés de ser um homem branco é uma mulher negra.
Ela também fez a recriação de outras clássicas e muito conhecidas obras de artes, substituindo homens e mulheres brancos por mulheres negras, assim como a da mulher vitruviana. Uma de suas mais famosas recriações é inspirada na pintura “A criação de Adão”, de Michelangelo. Nesta obra, ela pintou duas mulheres negras representando Deus e Adão, “quando você pensa que toda vida humana veio da África, o Jardim de Éden e tudo mais, então faz sentido pintar Deus como uma mulher negra, espalhando a vida à sua imagem e semelhança”, explica ela.
Harmonia pinta para que garotas negras possam reconhecer sua própria imagem na tela, assim como sua filha “Quero que ela cresça orgulhosa de seu cabelo, sua pele marrom, para que se identifique como mulher de cor, uma mulher de valor”, idealiza
A escolha da obra da mulher vitruviana para representar o Lappis
O professor Altair Lira explica quando percebeu que a mulher vitruviana, obra de Harmonia, seria a representação perfeita para o grupo de pesquisa e o porquê de sua sugestão, “Quando deparei-me com as obras de Harmonia Rosales questionando fortemente que tanto representatividade e desigualdade poderiam surgir para nós como conceitos a serem trabalhados pelos mais diversos campos da ciência, mas que na vida real, na prática e na essência das coisas existem e constituem como referência de mundo para alguns e de exclusão para outros, as obras de artes por exemplo assumem isso: a mudança”.
“Portanto cabe a nós mudar a nossa forma de olhar, admirar e entender o mundo também através das artes, assim como Harmonia diz ‘A arte é minha arma na batalha contra a indiferença e a inércia. Ela forma a base da resistência’. Precisamos nos ver homens, mas também mulheres, brancos, negros; representatividade como essência e existência”, finaliza.
Fonte: hypeness.com.br