Notícia

17º Seminário Integralidade trouxe debates urgentes em tempos sombrios

Altair Lira, da Associação Bahiana de Anemia Falciforme, ministrou o minicurso “Racismo e Saúde da População Negra”. Fotos de Flaviano Quaresma

A 17ª edição do Seminário do Projeto Integralidade: Saberes e Práticas no Cotidiano das Instituições de Saúde, promovido pelo Lappis/IMS/UERJ e PPGPSI-UFES com apoio da Capes, que aconteceu na UFES, Vitória, nos dias 17, 18 e 19 de outubro; apresentou uma programação intensa. Cinco regiões do país, 17 Estados e o total de 740 inscritos foram os números do evento que superou expectativas na discussão de temas relevantes em tempos sombrios. O seminário que completou 17 anos com o tema “AMOR MUNDI, POLÍTICAS DA AMIZADE E CUIDADO: A VIDA NA SAÚDE, ofereceu 17 minicursos de diversas áreas da saúde, com foco no “cuidado”, quatro grandes mesas redondas com a participação de pesquisadores de várias regiões do Brasil e ainda lançou o livro “Vulnerabilidades e resistências na integralidade do cuidado: pluralidades multicêntricas de ações, pensamentos e a (re)forma do conhecimento” (com download gratuito). Para Roseni, um dos objetivos dos minicursos foi expandir o conhecimento dos futuros profissionais e dar a eles estruturas para os próximos passos. “Nesses encontros oferecemos uma compreensão de ciência na saúde e da saúde para outras áreas afins. O aluno e o profissional sempre serão o nosso foco. É necessário ‘alargar’ a mentalidade sobre a compreensão desses processos e com a responsabilidade pública que cada um de nós temos para enfrentar, superar e alcançar os objetivos de uma afirmação de vida e direito para todos”, ressaltou.

Fábio Hebert (UFES), Neyval Costa Reis Jr. (Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UFES) e Roseni Pinheiro (Lappis/IMS/UERJ) abriram o evento em solenidade.

A abertura oficial contou com a participação de Roseni Pinheiro (líder do Grupo de Pesquisa CNPq Lappis), Neyval Costa Reis Jr. (ró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UFES) e Fábio Herbert (coordenador do Programa de Psicologia Institucional da UFES). Pela primeira vez em 17 anos de história, o Seminário foi traduzido em Libras, com o apoio do Grupo de Libras da Universidade Federal do Espírito Santos (UFES). Segundo Cesar Cunha (Libras/UFES), traduzir um evento é sempre um desafio. “Um evento traz conceitos que não são, geralmente, os signos linguísticos usados no dia a dia. Um exemplo é a palavra “cuidado”, um conceito específico para o Seminário do Projeto Integralidade. Essa palavra tem vários significados, e o sentido aplicado à perspectiva do evento deverá ser compreendido para poder ser traduzido de forma correta”, explicou. Foram traduzidas, além da cerimônia e conferência de abertura do evento, as mesas de debate realizadas nos dias 18 e 19 de outubro no Auditório do CCE/UFES.

Depois da cerimônia de abertura, Gastão Wagner, presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), deu início sua conferência que girou em torno do tema do evento e reforçou a participação de todos os presentes no Abrascão 2018. As atividades do pré-evento vai acontecer na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), estrategicamente escolhida devido à crise porque passa a Universidade. Os dias oficiais do Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva estão destinados à Fiocruz (RJ). Gastão ressaltou que “o SUS tem que diminuir a dependência do poder executivo”. Para ele, grande parte da opressão que os trabalhadores está sofrendo parte dos governos municipais e estaduais. “Se criarmos a carreira no SUS nacional, as OS’s vão acabar. Não precisaremos mais delas”, disse. (Confira a solenidade e conferência de abertura na íntegra https://www.facebook.com/lappis.integralidade/videos/1083395775096453/)

Gastão Wagner, presidente da Abrasco, proferiu conferência de abertura.

O evento também marcou o lançamento do livro ‘Vulnerabilidades e resistências na integralidade do cuidado: pluralidades multicêntricas de ações, pensamentos e a (re)forma do conhecimento” organizado por Roseni Pinheiro, Tatiana Gerhardt e Felipe Asensi, e editado pela Editora CEPESC. Roseni explica que a proposta de disponibilizar, gratuitamente para download, as presentes e futuras edições dos livros frutos dos avanços epistemológicos no campo da Integralidade em Saúde ligados ao Lappis é antiga. “Queremos incentivar o acesso ao conhecimento com base na perspectiva da Comunicação Pública, que propõe direcionamentos movidos pela proposta de democracia”, ressaltou. Faça o download do livro no link https://www.cepesc.org.br/livros/vulnerabilidades-e-resistencias-na-integralidade-do-cuidado-pluralidades-multicentricas-de-acoes-pensamentos-e-a-reforma-do-conhecimento/

Mesas de debate

Mesa “Amor Mundi, Políticas da Amizade e Cuidado: sobre a epistemologia da resistência”

No segundo dia de evento, a mesa “Amor Mundi, Políticas da Amizade e Cuidado: sobre a epistemologia da resistência”, sob a coordenação de Roseni Pinheiro, apresentou as potencialidades epistemológicas da “Amizade” como a capacidade humana de se associar aos outros, forjando novas formas de sociabilidades, entendidas como um nova política da imaginação, como exercício político de intermediação do mundo (espaço “entre” pessoas) e do Cuidado com e no Mundo (Amor Mundi) para os debatedores convidados. Para Paulo Henrique Martins (Faculdade de Sociologia – UFPE), na perspectiva da Teoria da Dádiva, a ideia de pessoa não se refere apenas a uma pessoa individual, mas uma pessoa coletiva. O pesquisador disse que os encontros dessas pessoas na perspectiva do Amor Mundi se multiplicam, com amor e ódio, para incorporar uma visão individualizada. Já Heliana Conde (Faculdade de Psicologia – UERJ), afirmou que não estamos falando de uma resistência que vem depois, réplica a uma opressão, violência ou um controle, mas de uma resistência que já está presente. “Se a gente pensar nas ações do governo como as ações sobre as ações dos outros, essas ações dos outros já estão presentes. Então, a resistência já é, já existe”, explica. Betânia Assy (Direito – PUC-Rio e UERJ), sob a perspectiva do Amor Mundi, disse que na concepção de Hannah Arendt, o Amor Mundi é a tomada de percepção de quando você assume responsabilidade. “Se você ama o mundo suficientemente para assumir responsabilidade”. Roseni ressaltou a força que teve a participação dos debatedores com visões distintas sobre o tema e fez uma relação direta com a ideia de “Amor Mundi” em dias sombrios porque passa o mundo, especialmente o Brasil. Mesmo com perspectivas diferentes, os participantes apresentaram um aprofundamento ímpar sobre as nuances do tema. (VEJA REPORTAGEM EM VÍDEO https://youtu.be/foSjrPf8-CE)

(CONFIRA TRANSMISSÃO DA MESA NA ÍNTEGRA https://www.facebook.com/lappis.integralidade/videos/1083848095051221/)

Mesa “Formação, violência e racismo nas práticas de cuidado”

Na mesa “Formação, violência e racismo nas práticas de cuidado”, coordenada por Ana Lucia Coelho Heckert (Programa de Pós-Graduação em Psicologia Institucional/UFES), os expositores Tatiana Engel Gerhardt (Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva/UFRGS), Lula Rocha (Fórum Estadual da Juventude Negra do ES), Juliana Lofego (Faculdade de Comunicação da UFAC) e Marcelo Vieira (PUC-Rio) abordaram a questão da violência, do racismo e as demandas das minorias étnico-raciais como desafios para as práticas de cuidado e para os processos formativos. Debateram como as políticas de saúde em curso estão incluindo as demandas dessas minorias e os impactos do racismo institucional na produção de saúde e de doença. Os processos de comunicação em saúde e seus efeitos na violência institucional e nos índices de vulnerabilidade social. Segundo Tatiana Gerhard, uma possibilidade de construirmos novas imagens contra as que foram construídas ao longo do tempo sobre racismo e preconceito, é dando a possibilidade para que as pessoas construam suas próprias narrativas visuais. “É preciso partir de uma construção partindo das próprias pessoas”, ressaltou.Lula Rocha afirmou que há uma luta pela vida, na qual ele está inserido no contexto dos movimentos sociais a favor da população negra, por exemplo. Nessa luta, há diversas estratégias de articulação para criar políticas públicas. Para Marcelo Vieira, o grande fundamento é pensar como se trabalhar com a comunicação pública do conhecimento, valorizando o protagonismo social numa proposta horizontal de diálogo. “Não é uma tarefa simples. É um movimento de ir, voltar, pensar, repensar para construir essa relação horizontal”, afirma. A pesquisadora Juliana Lofego, da UFAC, reforçou o entendimento de Marcelo Vieira afirmando que é preciso protagonizar o outro no processo de comunicação. (VEJA REPORTAGEM EM VÍDEO https://www.facebook.com/lappis.integralidade/videos/1085842121518485/)

(CONFIRA TRANSMISSÃO DA MESA NA ÍNTEGRA https://www.facebook.com/lappis.integralidade/videos/1084037101698987/)

Dário Pasche, Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva/UFRGS, na mesa “Trabalho, resistência e precarização”

Os palestrantes Dário Pasche (Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva/UFRGS), Felipe Dutra Asensi (LAPPIS/IMS/UERJ) e Rafael Gomes (Programa de Pós-Graduação em Psicologia Institucional/UFES) debateram o tema “Trabalho, resistência e precarização” numa mesa coordenada por Aluísio Gomes da Silva Jr., do Instituto de Saúde Coletiva/UFF. O objetivo do debate foi abordar a questão dos processos de trabalho em saúde frente à precarização das condições de trabalho, destacando os processos de resistência em curso nas redes de produção de saúde.  Para Aluísio Gomes, o debate trouxe importante contribuição no que tange à avaliação da conjuntura em que estamos vivenciando do desmonte das instituições de saúde como o SUS, por exemplo, e das condições de trabalho. Dário Pasche lembrou que o tema da precarização do trabalho não é um tema novo, mas que ele se atualiza nesse cenário de crise ampliado. “Esse é um tema que não está longe de nós, está dentro do nosso cotidiano de trabalho e é preciso compreender que os trabalhadores necessitam de espaços de voz das repercussões cotidianas de ser trabalhador de saúde”, pontuou. Para Felipe Asensi o grande desafio é saber como é possível recompor a institucionalidade do SUS a partir de um pacto efetivamente republicano por meio do qual o mundo da gestão, os operadores do Direito e os profissionais de saúde conseguem cristalizar suas práticas nessa dimensão pública e democrática que o SUS possui. Rafael Gomes disse que pensar a precarização do trabalho e os modos de resistir nesse contexto atual exige que nós articulemos diversos atores para além dos trabalhadores. “Pensar formas de resistência no momento atual nos exige convidar e convocar a sociedade, os movimentos sociais, os usuários, os trabalhadores, os gestores”, concluiu. (VEJA REPORTAGEM EM VÍDEO https://youtu.be/BKUqNZRTC3k)

(CONFIRA TRANSMISSÃO DA MESA NA ÍNTEGRA https://www.facebook.com/lappis.integralidade/videos/1084551081647589/

Fabio Hebert, do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Institucional/UFES, coordenou a mesa “Fronteiras do Cuidado, saberes tradicionais e políticas de saúde”

Coordenado por Fabio Hebert, do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Institucional/UFES, a mesa “Fronteiras do Cuidado, saberes tradicionais e políticas de saúde” abordou a questão das políticas de saúde e saberes tradicionais em comunidades indígenas e quilombolas, destacando as práticas de cuidado que são tecidas no cotidiano dessas comunidades. Participaram do debate Leif Grunewald (Programa de Pós-Graduação em Antropologia/UFGD), Rodrigo Silveira (Faculdade de Medicina da UFAC) e Joice Cassiano (Representante dos Quilombolas do Norte do Espírito Santo). Fábio Hebert ressaltou que é impossível pensar na formulação de uma política pública sem considerar as especificidades dos territórios e nesse sentido considerou que as falas dos debatedores foram bastante contributivas nesse sentido. Rodrigo Silveira pontuou os desafios que estão sendo trabalhados no novo currículo da Medicina da UFAC como as questões étnico-raciais em saúde, gênero e orientação sexual, saúde mental, que são populações em situação de vulnerabilidade. “Essas questões para o campo da Saúde e para o ensino da Medicina são muito importantes, principalmente no contexto da região amazônica”, ressaltou. Joice Cassiano, representante dos Quilombolas do Norte do Estado do Espírito Santo, enfatizou a ausência de políticas públicas de saúde para as comunidades quilombolas no Estado. Ela revelou que agentes estaduais e municipais de saúde não visitam as residências quilombolas e não realizam nenhum tipo de agendamento. “Há um descaso muito grande por parte do Estado”, disse. Leif Grunewald apresentou sua visão sobre os espaços de saúde e afirmou que são formados por variações de mundo e que essas variações necessitam de variações de políticas públicas. “Variações de políticas implicam que a gente abandone, definitivamente, uma ideia de tolerância com outras práticas de saúde”, sinalizou. (VEJA REPORTAGEM EM VÍDEO https://www.facebook.com/lappis.integralidade/videos/1095033067266057/)

(CONFIRA TRANSMISSÃO DA MESA NA ÍNTEGRA https://www.facebook.com/lappis.integralidade/videos/1084739261628771/

Avaliação do 17º Seminário por Roseni Pinheiro

“O conjunto de debates que assistimos, participamos juntos ao público em diálogo produtivo foi muito positivo”, disse Roseni Pinheiro ao começar sua avaliação sobre a 17ª edição do Seminário do Projeto Integralidade. Líder do Projeto CNPq/Lappis, Roseni ressaltou todas as dimensões do contexto atual de crise que vem abalando as estruturas institucionais e consequentemente humanas. Para ela, recuperar a nossa condição humana diante do cenário atual está sendo muito difícil e que isso ficou claro depois das atividades realizadas no evento. “Eu tenho uma intuição de que esse vai ser o nosso momento de virada do jogo, da alavancada tanto epistêmica quanto de política pública, da relação entre humanos, da própria forma do cuidado em saúde”, pontuou. (CONFIRA O VÍDEO DE AVALIAÇÃO https://www.facebook.com/lappis.integralidade/videos/1096235820479115/)