Que academia estamos construindo? Qual a Universidade que queremos? Estas foram algumas das questões-chave do debate dessa quinta-feira à tarde, no Auditório do Hospital das Clínicas do Acre (HUAC). A mesa trouxe alguns tensionamentos quanto aos processos de formação e animou o público que permaneceu no local até o começo da noite, provocado por uma temática que mobiliza a todos: “Humanização e educação permanente no SUS”.
Ana Heckert, pesquisadora da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), introduziu a discussão com um elogio ao plano de ação elaborado para a Região Norte. “Não é possível pensar na formação de profissionais de saúde sem pensar nessa rede de articulação de saberes construída aqui”, disse. “Essa é uma região que exige que se pensem processos de formação diferenciados. O desafio é fazer isso sem isolamentos mas produzindo sujeitos inseridos em rede”.
Partindo da ideia de que formação é ‘processo”, a pesquisadora propôs que se pensasse a formação como “política da amizade”. “Não no sentido de que todo mundo pensa igual, mas no sentido de oferecer o devido cuidado que a formação exige”, disse, acrescentando ainda que formação se exercita diariamente, nos espaços cotidianos de relação e tomadas de decisão.
Júlio Müller, pesquisador do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso, enumerou para os participantes do XII Seminário da Integralidade as dificuldades dos itinerários formativos, que pretendem criar profissionais com novas mentalidades, no entanto, se limitam a estabelecer diretrizes curriculares que não levam em conta os sujeitos. “Diiretrizes curriculares são um avanço importantíssimo mas não vamos enccontrar lá um conteúdo que priorize as pessoas. É preciso desnaturalizar a noção de que nós todos sabemos cuidar. Relações humanas são complicadas e difíceis”, provocou. “E é por isso que essa discussão sobre o potente conceito de Integralidade é essencial”. Júlio aposta na “escuta” como o fator de superação das assimetrias do papel do médico.
Da Bahia ao Acre
“A politica de humanizaçao é uma indução a partir de queixas concretas”, refletiu Kilian Koifman, professora do ISC/UFF que coordenadava o debate. Para ela, se fosse uma questão natural, qualquer profissional trabalharia com integralidade e a uma humanização seria algo automático. “Não é isso que acontece e por isso há necessidade de ações políticas”.
De Juazeiro da Bahia e do próprio município de Rio Branco, vieram dois exemplos de como trabalhar educação continuada. Ainda na mesa de hoje à tarde, Douglas Angel, da Secretaria Municipal de Saúde de Rio Branco (AC), apresentou a experiência do município com a capacitação de trabalhadores. “Porque a educação na Saúde tem que ser uma política do SUS”, defendeu.
Juliana Florintino relatou a experiência do Núcleo de Humanização e Educação Permanente da SMS de Juazeiro (BA). Segundo ela, foi feita uma aposta em dispositivos formadores e na construção de territórios de encontro e valorização de espaços de construção coletivos. Da plateia, Luciana ouviu,por exemplo, relatos sobre a humanização nas redes de processo infantil em Rio Branco. “Essa troca que acontece aquio é riquíssima. Poder contar sobre os processos de educação permanente que conduzimos no Nordeste e ficar conhecendo um pouco mais sobre essa prática em outros territórios e como elas podem dialogar, me estimula a voltar para casa com mais vontade ainda de refletir, discutir e continuar os processos”
Diálogos
Ao final do debate, o público parecia concordar que o diálogo é essencial. A questão que fica é aquela que foi lançada da plateia pela professora Beth Barros (da Universidade Federal do Espírito Santo), que também está em Rio Branco para participar de uma mesa nesta sexta, último dia do XII Seminário da Integralidade: “Como temos nos disponibilizado para participar desse diálogo?”
A professora Ana Heckert despediu-se da mesa com várias anotações, questões que leva para refletir. “Não à toa, temos tentado criar algumas práticas nesse campo da Integralidade. Não se trata de pensar profissionais de um lado e academia de outro. Não se trata de vítimas e algozes. São distintos saberes e modos dizer. Não são melhores nem piores. São distintos. Mas que precisam se comunicar entre si”. É assim nas fronteiras.
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