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XVI Seminário do Projeto Integralidade em Saúde tem curso sobre Itinerários Terapêuticos na programação

Tatiana Gerhardt

Tatiana Gerhardt, professora de Saúde Coletiva da UFRGS e pesquisadora do LAPPIS, oferta o minicurso  “Itinerários terapêuticos: método e prática” em Belo Horizonte.

O minicurso  “Itinerários terapêuticos: método e prática” sera oferecido no XVI Seminário do Projeto Integralidade em Saúde por Tatiana Gerhardt, professora do bacharelado e pós-graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e também pesquisadora do LAPPIS. A atividade ocorre no dia 28 de junho de 2016, como parte da programação que este ano acontece na Maternidade Sofia Feldman, em Belo Horizonte/MG. Em entrevista ao Portal, Gerhardt comenta sobre a importância do tema na Saúde Coletiva e como pretende abordá-lo no evento:

 

O que são itinerários terapêuticos?

Os estudos sobre itinerários terapêuticos (IT) nas pesquisas no campo da Saúde Coletiva cobrem um amplo espectro de abordagens conceituais, teóricas e metodologias. O olhar que dou para esse tema parte da abordagem antropológica e compreende as experiências de pessoas e famílias em seus modos de significar e produzir cuidados, empreendendo trajetórias nos diferentes sistemas de cuidado e tecendo redes de sustentação e apoio que possam lhes dar sustentabilidade nesta experiência. Comporta, também, como serviços de saúde disponibilizam a atenção e acolhem, em certa medida, suas necessidades de saúde, permitindo indagar como as práticas profissionais produzem afetamentos nesta experiência, sendo (ou não) amistosas à integralidade e efetividade em saúde. O IT constitui, assim, um dispositivo revelador da cultura do cuidado e do cuidado na e da cultura, na medida em que retrata a multiplicidade da constituição, qualidade das relações sociais e potenciais cuidativos, bem como tensiona as práticas/noções construídas no campo da saúde sobre experiências de adoecimento, redes de apoio, acesso, adesão e escolhas terapêuticas.

Qual a contribuição dos itinerários terapêuticos para a pesquisa e a prática na saúde coletiva? 

Olhar os ITs pela abordagem antropológica permite, portanto, dar voz aos usuários, apreender a pluralidade, valorizar diferentes formas de conhecimento e saberes. Sendo assim, a saúde e doença passam a ser vistas a partir de outra perspectiva que não apenas a biomédica. Interessa chamar a atenção aqui que vários autores, ligados às Ciências Sociais e Humanas, têm apontado e estudado a ação que as mais diversas redes sociais desempenham junto aos ITs. Elas atuariam, enquanto suporte social, compartilhando problemas e conflitos, buscando recursos mais integrais em conjunto, trocando informações, mobilizando a participação em políticas públicas – enfim, agindo na construção de necessidades e soluções em saúde e, consequentemente, na constituição do adoecer. Isso, a partir do entendimento de que as concepções, escolhas e estratégias de enfrentamento das situações de adoecimento são processos construídos pelos sujeitos e por suas redes relacionais (que vão desde a família, amigos, até os serviços de saúde), na cultura em que estão inseridos.

O IT possibilita, deste modo, trazer para a discussão, na pesquisa/produção do conhecimento e na prática profissional no campo da Saúde Coletiva, o potencial analítico que o IT tem em olhar para as relações sociais estabelecidas no cotidiano, potencial interessante para apreender o que estaria em jogo nas relações entre saúde, doença e cuidado. Ou seja, os ITs mostram abertura para compreender o papel que o encontro entre pessoas possui. Um encontro que, contudo, ultrapassa a dimensão biológica e técnica do cuidado ao adoecido e faz aparecer uma dimensão relacional e, consequentemente, simbólica, imbricada no que é posto em circulação nesses encontros. Portanto, os Itinerários Terapêuticos contribuem a interrogar as praticas profissionais, as políticas e suas aplicações, os determinantes sociais e suas influências nas experiências individuais e sociais dos doentes.

No momento em que os ITs dão abertura necessária para uma atitude compreensiva do adoecimento vivido pelas pessoas naquilo que circula em suas relações (materiais e simbólicos, do medicamento, da palavra e da escuta) e apontam para o fato de que a identidade de adoecido é também construída no encontro com os outros, intui-se que o uso do conhecimento em saúde se faz ímpar quando também inclui o outro. Para ser um conhecimento prudente, ele precisa interagir com o outro, interpretar o significado dos fenômenos também do ponto de vista desse outro, o qual se costuma tomar como objeto de intervenção e não como sujeito da ação. Compreender o adoecimento pela perspectiva do adoecido, ao longo de seu IT, deixa portas abertas para que, diferentemente de questionar a forma de proceder para que as pessoas façam uso dos conhecimentos científicos (biomédicos) em saúde, se questione como fazer com que as descobertas em saúde possam se aproximar das necessidades e cuidados realizados em outros espaços de relações das pessoas. Deixa portas abertas para que se possa garantir o direito à saúde.

Qual é o objetivo do seu minicurso “Itinerários terapêuticos: método e prática” que será ministrado no XVI Seminário do Lappis?

O que se pretende com o minicurso é o de poder apresentar essa abordagem dando visibilidade para as dimensões socioculturais presentes no cuidado ao longo dos ITs, onde pessoas e processos não são inseparáveis. Também poder compartilhar experiências de pesquisa sobre o tema. Mas antes de tudo é, pra mim que reflete sobre esse tema já há um bom tempo, praticamente 16 anos, um privilégio e uma grande oportunidade refletir a partir de questionamentos, a partir da escuta de outros olhares, de outras abordagens e do diálogo.

Para acompanhar maiores informações sobre o evento, acesse AQUI.

Faça a sua inscrição no seminário e nos minicursos pré-seminário AQUI.

 

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